Já vi diversos filmes que envolvam máfias, e mesmo todos sendo cheios de cenas violentas, alguns conseguiram entregar situações mais envolventes de história, e não que isso seja algo bom, muito pelo contrário, querer explorar alguma história dentro de um mote tão batido é coisa que necessita ser muito hábil, e ter realmente alguma história bem forte para funcionar, senão acabamos vendo mais uma novela com situações ocorrentes em vários meios do que um filme propriamente dito, e infelizmente isso é o que acaba parecendo o longa da Netflix, "Nada Santo", que ao contar a história real de um dos chefões da máfia italiana, como foi sua conquista de território, e tudo o que vivenciou até chegarmos no seu modo de escapar da morte, acabou entregando algo digamos simples demais de relacionamentos, simples demais de envolvimentos, e com isso não foi nem para um rumo nem para o outro, porém ao trabalhar bem o contexto da época, como aconteciam os crimes, e tudo mais de uma forma criativa e bem colocada, o resultado acaba soando interessante ao menos de conferir, mas que certamente poderia ter ido bem além.
A sinopse nos conta que nos anos 80, na plena época do maior boom econômico que Milão atravessou no último século, o gângster Santo Russo iniciou a trajetória de sua ascensão no mundo do crime. Excêntrico e peculiar, ele usa de seu carisma e excessos para conquistar, aos poucos, a confiança da máfia italiana.
O trabalho do diretor Renato De Maria é notável por trabalhar sempre com o mesmo estilo, filmes de gângster, máfia, tiros e tudo mais, e isso não é ruim, pois se especializar em um gênero facilita encontrar o sucesso, e por vezes, acertar a mão melhor do que ir fazendo um pouco de tudo. Como não vi nenhum de seus outros trabalhos irei opinar apenas por esse, e digo que ele possui uma mão meio dura nos diálogos, não deixando tanto que os protagonistas se desenvolvessem cenicamente, mas isso não impediu que ele entregasse uma bela construção temporal e as dinâmicas que o filme pedia para retratar a vida do gângster, ou seja, temos um filme bem montado de certa forma, porém sem virtudes que impressionem, nem situações que mostrassem algo a mais de intenções sobre o que o filme desejava entregar. Sendo assim, o trabalho do diretor oscila bem entre dois momentos, os que são violentos e bem montados, e os que possuem conversas e parecem meio deslocados do conteúdo total da trama, e dessa forma não agrada tanto quanto poderia.
Sobre as atuações, temos muitos personagens que mereciam ter chamado um pouco mais de atenção, mas o diretor felizmente para não transformar seu filme em uma novelona imensa optou por deixar o foco praticamente completo só no protagonista Riccardo Scamarcio, que conseguiu entregar um Santo Russo cheio de trejeitos, chamando a responsabilidade para si em todos os atos, e criando nuances divertidas ao mesmo tempo que fortes, sendo preciso em todos os momentos, mostrando que saberia aonde desejava chegar, e com isso se entregou como um todo, ou seja, foi bem no que fez enquanto estava se expressando, mas como a parte dialogada da trama é fraca, o resultado final acaba pecando um pouco. Quanto aos demais, é bacana vermos o desenvolvimento final de Sara Serraiocco com sua Mariangela que inicialmente parecia boba demais, mas que teve uma excelente conclusão em uma excelente cena junto da Annabelle de Marie-Anfe Casta, e quanto aos homens, todos fizeram tradicionais trejeitos de gângsteres, tendo leves destaques para Alessio Praticô e Alessandro Tedeschi com seus Magro e Barbieri.
No conceito visual, a trama teve bons destaques para mostrar a Itália dos Anos 80, que sofreu muito com as diversas máfias que inventavam cada dia novas formas de ganhar dinheiro, seja roubando lojas, seja sequestrando pessoas pedindo resgate, clonando carros de luxo, seja ludibriando contratos de construções, até chegar nas drogas fortes aonde com muito refino conseguiam ter lucros milionários, e sem dúvida a equipe de arte foi bem coesa nos detalhes de cada momento, trabalhando com simplicidade cênica, mas pontuando bem cada ato, ou seja, foram bem funcionais em reconstrução de época, ousando em figurinos, locações e acatando para que o filme funcionasse com muita clareza. Além claro de cenas bem feitas de tiros, com armas bem fortes, e muito sangue para todo lado, que junto de uma fotografia seca, a cada sangue voando o tom pesava um pouco mais.
Enfim, um filme razoavelmente bem feito, que poderia ter ido muito além, afinal longas de máfia costumam nos presentear sempre com textos belíssimos, atuações que despontam vértices fortes, e tudo mais, mas aqui apenas conseguiram entreter com um bom visual e situações interessantes durante as quase duas horas de exibição, que poderiam ter entregue algo muito além, ou seja, um filme mediano, que utilizando da frase dita a quase todo momento "Ça Va Sans Dire" que traduzindo ao pé da letra: "não é preciso dizer" para mostrar o quanto poderia ser melhor. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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