Pois bem, seria completamente incomum se o longa "O Anjo" estivesse em sessões normais sem ser do projeto Cinema de Arte, pois acho que foi o longa mais artístico que vi nos últimos anos, transmitindo uma experiência interessante por mostrar um pouco da vida real de um dos maiores assaltantes argentinos, mas que também soou desastroso de cansativo, sendo tão alongado sem vértices possíveis de reflexão nem dinâmicas criativas para algumas situações, que os 118 minutos de tela parecem ser quase 4 horas ou mais de projeção, de modo que como uma minissérie funcionaria perfeitamente, tendo até momentos chaves para criações de títulos e quebras possíveis, ou seja, um filme com um retrato de época bem moldado, cheio de ousadia nas precisões cênicas, mas que não possui algo que vá muito além para que o público comum consiga assistir e gostar do que está vendo, lembrando mais algo propício de um festival do que algo comercial realmente para todos os que forem assistir esperando um drama mais formal. Ou seja, não posso dizer que seja algo completamente inaproveitável, mas certamente poderiam ter criado algo mais dinâmico e envolvente, pois a história permitia esse desvio.
O longa conta a história de Carlos Robledo Puch que está preso há 45 anos, o período mais longo de detenção já registrado na história da Argentina. Durante a adolescência, ele confessou ter cometido onze assassinatos, executado mais de quarenta roubos e uma série de sequestros. Alguns de seus atos criminosos configuravam-se como uma forma de impressionar Ramón, um amigo íntimo. Quando sua identidade foi revelada para o público, ele ganhou o apelido de "Anjo da Morte", graças aos seus cachos e rosto angelical, tornando-se uma celebridade instantânea no país.
Diria que o trabalho do diretor Luis Ortega teve para transformar uma história tão cheia de atos em um filme minucioso tenha sido gigantesco, e ele com muito mérito e disciplina conseguiu essa façanha, porém por ser algo tão cheio de situações, diversas quebras e atos que não possuem uma conexão maior sem ser a sina de um ladrão, que nasceu apenas para isso, o resultado soa vago demais para um filme, tanto que enxergo sua trama como uma série perfeita em 5 a 6 capítulos, que poderiam até ser mais desenvolvidos, e que qualquer um veria e aplaudiria de pé, mas como longa, o resultado soa cansativo e alongado demais. Claro que muitos irão contra minha opinião, pois gostam de filmes calmos com diversos vértices sem fechamentos claros, mas certamente para funcionar como um bom longa, a trama teria de ter uma vontade maior do protagonista, um anseio, e não apenas viver para isso, e mostrar que roubar é uma arte, como o diretor desejou passar, mas aí teríamos outro filme, e provavelmente não seria embasado na história real do jovem Carlos.
Sobre as interpretações, como é dito nos tabloides em determinada cena, o personagem possuía um semblante dúbio em relação à sua sexualidade, e certamente a palavra dúbio foi dita dezenas e centenas de vezes na cabeça de Lorenzo Ferro, para que fizesse seu Carlos como alguém que de maneira alguma expressasse qualquer tipo de trejeito fora de um contexto duplicado, sendo que por vezes até parece apático em relação ao que deseja entregar, ou seja, diria que ele fez o que foi solicitado, e o que o personagem pedia, mas poderia ter chamado a responsabilidade cênica para si em diversos atos que acabaríamos nos impressionando com ele, e certamente ficaríamos de olho, mas não conseguiu ir muito além. Agora um nato camaleão que está seguindo plenamente o estilo do pai, ou melhor, criando seu próprio estilo sem repetir uma faceta sequer é Chino Darín, que nesses últimos meses apareceu em três filmes por aqui, e em nenhum vemos os mesmos trejeitos, ou sequer o mesmo ator em cena, parecendo ter três personalidades completamente diferentes, ou seja, perfeito, e aqui seu Ramón é intenso, cheio de sacadas e gracejos, mas sempre deixando pontuações claras para cada cena acaba agradando bastante em tudo. Quanto aos demais, daria destaque apenas para Mercedes Morán e Daniel Fanejo como os pais de Ramón, pois ambos tiveram cenas marcantes e chamaram a responsabilidade quando precisou, enquanto os pais de Carlos aparentaram estar assustados durante a trama toda.
Sem dúvida alguma posso dizer que a equipe artística foi muito precisa de detalhes, encontrando os devidos momentos para ressaltar cada elemento cênico, e claro, ainda brincando muito com a época em que o longa se passa, escolhendo bem as locações, criando assaltos bem amplos, e situações cheias de ambientações marcantes para que o filme fluísse bem, ou seja, uma trama agradável visualmente, e que funciona para o que o longa necessitava. A fotografia puxou bastante para um tom amarelado, mas sempre dando realce para o protagonista, não deixando que seus cachinhos loiros ficassem apagados de cena.
Enfim, um filme exageradamente artístico, com nuances clássicas de festivais, mas que poderia ter ido por um outro rumo que entregaria o mesmo embasamento clássico, porém com uma dinâmica policial mais envolvente, não deixando apenas algo monótono, mas sim uma busca desenfreada pelo perigo da juventude, e claro, os anseios por roubos mais emocionantes, de modo que a trama agradaria bem mais não apenas o público que gosta de longas artísticos, recaindo também para a galera mais comercial, ou seja, seria um filme para todos. Claro que ele foi um enorme sucesso na Argentina, afinal o assaltante acabou ficando muito famoso por lá, mas aqui, não acredito que a trama desponte muito, pois não consigo recomendá-lo como algo a mais do que mediano apenas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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