Se compilar um texto acadêmico hoje com computadores potentes e uma internet veloz já é algo que arrancamos quase todo o nosso cabelo, imagine fazer um dicionário com todas as palavras inglesas possíveis em 1857!!! Conseguiu imaginar o nível de loucura para se fazer isso, lendo todos possíveis livros e textos já escritos para ver seu primeiro uso? Pois bem, o nível de loucura é tão alto, que somente um louco, e claro um gênio para fazer isso possível, e é nessa brilhante ideologia que o longa "O Gênio e O Louco" nos entrega um filme denso, cheio de verbetes, interações fortes, e claro, todo o contexto que ocorreu para que tais situações acontecessem, de uma forma tão bem colocada que ficamos pensando toda a dificuldade realmente que tinham naquela época, como escrever cada detalhe, procurar sinônimos, utilização, e tudo mais para cada palavra, ou seja, um trabalho de anos a fio, que magistralmente foi traduzido nas telonas por dois geniais atores que com certeza puxarão o filme para ser lembrado nas premiações, pois é daqueles longas que merecem ser citados por qualquer pessoa que tenha desejo histórico, e que veja uma obra clássica bem feita. Ou seja, um filme de tamanha magnitude que só pode ser comparada ao feitio realmente do dicionário.
O longa conta a história real de dois homens ambiciosos que tentam concluir um dos maiores projetos do mundo: a criação do Dicionário Oxford. Um deles é o Professor James Murray, que tomou a decisão de iniciar o compilado, em 1857, e o outro é Doutor W.C. Minor, que contribuiu com mais de 10.000 verbetes para o dicionário estando internado em um hospício para criminosos. Os dois têm suas vidas ligadas pela loucura, genialidade e obsessão.
Só posso dizer que a estreia na direção do iraniano Farhad Safinia foi algo genial, pois vemos enquadramentos precisos para não necessitar de um ambiente grandioso, grandes sacadas de estilos para que seu filme fosse dinâmico, mesmo trabalhando um tema "cansativo" como costuma ser a linguagem, mas principalmente, ele demonstrou saber exatamente o que desejavam ver nessa produção irlandesa baseada em fatos reais, afinal a trama em si poderia ser muito mais extensa, entrar em fatos que passaram bem rapidamente como os famosos contatos que as personas tinham, e que se fossem por outros rumos acabaria vertendo para algo não tão bom de ver, ou seja, ele estruturou bem o roteiro que lhe foi dado, e criou um filme amplo, bem desenvolvido, com cenas fortíssimas, e que retrataram bem tanto a época, quanto a criação propriamente do dicionário, passando pelos problemas que ambos criadores tiveram durante uma parte do desenvolvimento do livro, e assim sendo, temos de ficar de olho no diretor, pois pode ser que venha a despontar ainda mais em breve, já que seu primeiro filme foi tão bem feito assim.
Quanto das atuações, novamente tivemos algo brilhante que chega a merecer aplausos para todos, tendo um Mel Gibson voltando às suas origens, com olhares fortes, intensidades cênicas marcantes, e muita força de persuasão com seu James Murray, de modo que ele consegue nos comover com seu cansaço, e por bem pouco não passamos a querer ajudar ele com alguns verbetes, além claro do seu momento final que todo amigo irá pensar da mesma forma, ou seja, perfeito. Da mesma forma tivemos um Sean Penn incrível como Dr. William Chester Minor, trabalhando sua loucura com tanta força que chega a ficar irreconhecível tanto visualmente pela ótima maquiagem, quanto pela expressividade que acaba entregando, emocionando na medida com muito primor técnico, merecendo certamente todas premiações possíveis. Natalie Dormer entregou sua Eliza Merrett de maneira simples, porém bem colocada, com envolvimento afetivo forte, mas sabendo acertar com tudo o que a personagem necessitava, agradando bastante. Agora sem dúvida, chega a ser emocionante os olhares que Jennifer Ehle dá para sua Ada Murray, mostrando bem a mulher da época, mas incorporando emoções e dinâmicas tão bem feitas, que se ganhar premiações será algo para ter daqueles discursos fortes e bem feitos. Quanto aos demais, tivemos bons nomes, cada um dando boas cenas para o longa, mas fica claro o destaque de Stephen Dillane como Dr. Richard Brayne pelos métodos malucos de tratamento, e claro pelos trejeitos que entregou, e Eddie Marsan pelo carisma de seu Munsie.
Quanto da parte artística, houve discussão entre o diretor, o ator e a produtora por desejarem que o filme fosse rodado em Oxford, mas já havia estourado o orçamento, tendo sido filmado em outros locais mais simples, porém que deram toda a ótima essência visual que a trama pedia, todo o conceito de época bem moldado pelos figurinos, pelos acessórios, e principalmente pelas boas locações, que sendo bem fechadas tanto nos ângulos escolhidos pela direção, quanto pelo contexto da trama, acabaram ficando aconchegantes, tensas e bem preparadas para o resultado final, que foi de um luxo acertado, e que acabou agradando demais.
Enfim, um filme incrível, cheio de história, de palavras inglesas que sequer imaginamos ouvir um dia (e que certamente nem sabemos seu real significado), e que precisamente conseguiu passar sua mensagem com um primor tão grandioso e bem feito, que mesmo tendo algumas passagens aceleradas, omitidas, e outras até forçadas demais, resultou ao final algo digno de ser visto, recomendado, e que vou certamente torcer para ser muito premiado, pois não esperava ver algo tão bom. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, afinal essa semana veio bem recheada de estreias, então abraços e até logo mais.
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