Quando falamos de viagens temporais sempre ficamos pensando: "o que mudaríamos em nossa vida caso isso acontecesse?", e com isso, nosso pensamento fica viajando muito, mas e a famosa deixa, "e se estragar tudo?", pois bem, você não verá essa preocupação em "Quando Margot Encontra Margot", mas com muita sutileza no estilo, vértices bem moldados, e até mesmo uma sintonia entre as personagens tentando se complementar, a do presente tentando arrumar seus erros do passado, e a do passado tentando melhorar o humor da do presente, consegue nos levar para um ritmo tão gostoso pelo florescer das situações, que mesmo o enroscar das cenas de nada ir muito além no miolo acaba não incomodando, nem o fato de não termos conflitos e/ou explicações sobre o que levou acontecer esse encontro também chega a irritar, pois a essência abstrata e até artística demais da trama é bem facetada, pois quando estamos acostumados com filmes franceses, essa delícia inexplicável ocorre, e mesmo o filme aqui não sendo algo que vamos querer aplaudir, toda essa sutileza acontece, e ficamos encantados com as cenas finais bem ditas, charmosas, e cheias de efeito para com o resultado completo da trama.
O longa nos conta que Margot, 25 anos, tem uma vida despreocupada, pontuada por frequentes noitadas em Paris. Uma noite, durante uma festa, ela conhece outra Margot, 20 anos mais velha. Detalhes curiosos e grandes semelhanças fazem com que elas descubram que são a mesma pessoa em fases diferentes. Na manhã seguinte, no mesmo trem para Lyon, elas se deparam com Marc, o ex de uma delas, cujo charme desperta grande atração em ambas. Daí em diante, Margot e Margot acharão cada vez mais difícil se desligar uma da outra e também de Marc. Como seria reencontrar o seu próprio eu? Isto é o que Margot e Margot irão descobrir.
A diretora e roteirista Sophie Fillières nos entrega uma trama tão descontraída e solta, que a todo momento ficamos imaginando aonde ela deseja chegar, pois não vemos nenhuma das personagens preocupadas em ser elas mesmas em épocas diferentes, e isso é algo tão incomum em longas de viagem no tempo, que ao fugir do tradicional a diretora consegue permear algo completamente seu, e isso é algo que sempre pedimos para ver, mas que quando acontece, achamos estranho. A síntese da ideia proposta é bacana, a de não mudar suas vidas, mas ainda assim influenciar, e a sacada só é vista na penúltima cena do longa, que por sinal se sucede com uma que pensamos até ter uma terceira reviravolta pela pessoa que passa próximo das protagonistas, porém felizmente ela optou por apenas jogar no ar e não desenvolver isso, pois não precisaria já que sua trama foi sutilmente bem colocada e funcional. Ou seja, a diretora foi sagaz em escolher momentos leves e discutíveis para que sua trama fosse bem condensada, e embora muitos acabem achando o longa levemente calmo demais, o resultado para quem gosta de um bom longa francês, para aqueles que vivem nos festivais de cinema, certamente verão que o mote embora fantasioso, se entrega com uma precisão artística digna de festivais, e assim sendo, saímos felizes com o que ela entregou.
Não sei se faltou expressividade para Agathe Bonitzer ou se foi solicitado para que ela fizesse trejeitos meio que jogados para a Margot jovem, pois em alguns momentos chega a ser depressivo seus atos, e a atriz não procura empolgar nem mesmo nos momentos de festa, ou seja, sempre com um tom abaixo de cada ato, parecia não estar feliz com o papel, mas que acabou dando um estilo próprio para a personagem também. Já Sandrine Kiberlain já elogiei em outros festivais por saber conduzir suas expressões, e aqui com a Margot mais vivida, a atriz também trouxe ares melancólicos, mas soube dosar certos atos para que parecesse mais conformada com sua vida, criando vértices mais próximos de alguém comum, e não tão depressiva como sua versão jovem, ou seja, trabalhou olhares, e soube agradar sem chamar muita atenção. Agora mesmo sendo elemento de conexão, quem teve um bom destaque foi Melvil Poupaud com seu Marc, de modo que o ator inicialmente até aparenta perdido em meio das duas mulheres tão parecidas, mas com o desenrolar da trama, o personagem se verte para algo mais envolvente, com brilho nos olhos, e o resultado acaba mostrando que o ator soube se entregar para o personagem, o que agrada bastante.
No conceito cênico, a trama encontrou a beleza do inverno nas cidades francesas, brincando com o frio, com a neve, e claro com o calor/frio dos personagens, de modo que mais do que o cenário em si funcionando para com o filme, cada momento, cada elemento como a protagonista quebrando o gelo para conseguir encaixar uma comida em sua geladeira, a outra tomando leite com gelo, depois nadando no meio de um frio imenso, e tudo mais, faz com que a equipe artística tenha trabalhado o frio mais como um personagem da trama, do que um elemento que pudesse atrapalhar as filmagens, ou seja, um longa com poucas locações, mas todas bem preparadas para o andamento da trama, escolhendo bem os elementos, e claro, os momentos de filmagens.
Enfim, um filme simples, bonito, bem simpático, que consegue subverter o estilo de longas de viagem no tempo, mas que mesmo sendo o clássico bom filme francês, poderia sim ter entregue algo a mais, uma emoção a mais, um sentimento explícito, ou até alguma cena de quebra mais envolvente para que saíssemos apaixonados da sessão, ou chocados com algo, para que o filme fosse mais lembrado daqui a alguns anos, e não apenas nas próximas semanas. Mas ainda assim recomendo ele para quem gosta de um longa artístico bem trabalhado, pois o resultado é mais bonito do que a essência passada, e isso é raro de ver também. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, afinal essa semana está bem recheada, então abraços e até logo mais.
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