Quem conhece o meio artístico sabe que é cobra comendo cobra, e geralmente mesmo muitos sendo amigos, a maioria não torce pelo outro, e costuma ficar muito revoltado quando perde um papel que esperou tanto, mas quem não conhece bem, acabará conhecendo um pouco mais de uma desenvoltura artística trabalhada dessa forma com o longa " A Quarta Parede", que brinca um pouco com um crime ocorrido e todas as formas trabalhadas para chegar no fim, afinal como é dito pelo protagonista em certo momento de seu depoimento: "os fins justificam os meios", e com essa frase tão corriqueira, a trama tem todo o seu desenvolvimento de uma forma não muito contínua (o que atrapalha e muito o entendimento completo do filme!), mostrando a formação de uma peça, os ensaios, os encontros de atores, e até algumas discussões de cultura, de sexualidade, e tudo mais que casualmente ocorre no meio artístico. Ou seja, a trama foi feita em cima de um trabalho de conclusão do curso de teatro, e a desenvoltura é bem propícia em cima de uma montagem, mas certamente poderiam ter trabalhado mais a ideia para que o filme não ficasse tão preso nesse conteúdo, e com isso agradasse mais também quem não é do meio, pois confesso que quem for conferir apenas como cinema, acabará saindo da sessão antes, ou mesmo ficando até o final sairá levemente perdido com o que viu, e sendo assim, digo que o resultado é abstrato assim como a proposta em si.
Membro de uma importante companhia de Teatro, Teo enfrenta os ossos do ofício da profissão de ator. Ele foi escalado para encenar a peça "Entre Quatro Paredes", de Jean Paul Sartre, mas foi removido do elenco quando o diretor resolveu usar um critério duvidoso para montá-lo: a popularidade dos atores nas redes sociais. Sentindo que seus talentos foram desmerecidos, Teo decide usar as plataformas virtuais para manipular seus colegas de trabalho, mas a brincadeira acaba tendo consequências gravíssimas.
Diria que a estreia de Hudson Senna na direção de longa metragens foi interessante pela formatação das cenas bem diversificadas, porém para que a história tivesse o mesmo efeito não necessitaria um alongamento tamanho como foi feito, de modo que é possível ver técnica, ver expressividade e até boas dinâmicas de cada elo, porém ele poderia ter resumido sua história em pelo menos 40 minutos que o efeito seria o mesmo, mostraria a dramaticidade cênica de cada personagem, pontuaria as ideias do que o texto diz que entre quatro paredes vale qualquer coisa, arbitraria o crime e as desenvolturas para se chegar a ele, e o resultado soaria perfeito, porém como é comum em estreias na direção, ficamos com dó de cortar o excesso, e esse foi o segundo maior erro da trama, pois o primeiro foi na organização das ideias, afinal sabemos que é lindo ver um bom filme inteiro quebrado, aonde nada é linear, e ao final tudo se fecha, mas aqui a quebra foi tamanha, que confesso que fiquei na dúvida umas quatro vezes pelo menos se o rapaz estava depondo numa delegacia, se estava interpretando algo ali, ou o que, e cada ato de depoimento dos demais atores pareciam mais algo documental do que outra coisa, ou seja, talvez um corte mais delimitado resultasse numa trama densa de suspense e resultaria em um filme mais coeso e funcional, mesmo que o final tenha resolvido muitos pingos nos is.
Quanto das atuações, por ser um elenco bem variado, cada um passando um pouco o seu próprio estilo, diria que todos por serem desconhecidos do cinema em geral chamaram a atenção para entregar seu currículo, e facilmente se mostrar para futuros trabalhos, entregando bons trejeitos, dinâmicas expressivas e ensejos bem colocados, tendo claro um destaque maior para o protagonista Tutty Mendes como Teo, que por ficar mais à frente das situações acaba se expondo mais, e com bom posicionamento técnico resulta em cenas bem fortes de ironia artística, mostrando bom jogos de cena, e boa técnica para com seu personagem.
O visual da trama é bem simples e fica praticamente todo dentro de um teatro, de suas instalações, de uma sala de delegacia, e de uma moradia aonde vivem praticamente todos os atores juntos, com suas festas, e claro apresentação da peça, construindo poucos elementos fora do eixo, e tendo basicamente só o celular como elemento cênico para composição de todas as cenas, de modo que o filme flui basicamente apenas pelos trejeitos artísticos e acaba sendo mais conceitual do que ocasional, e dessa forma não temos nada que surpreenda muito, tirando claro as cenas tensas, aonde o figurino, e até uma garrafa passa a fazer parte do ambiente, ou seja, poderiam ter trabalhado um pouco mais.
Enfim, é um filme simples que até tem um final bem interessante, mas que para chegar nele acaba sendo cansativo e problemático, de forma que merecia um melhor tratamento antes de ser lançado, para agradar não apenas quem for da classe artística e for conferir, afinal se saiu no cinema é para ser visto por uma maioria, que por acaso desconhece muito da forma que atores se desenvolvem e brigam por papéis. Sendo assim, não consigo recomendar muito ele para quem não for do meio, pois a chance de não entender nada, ou reclamar de tudo é bem alta, mesmo com boas atuações, e momentos interessantes. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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