Já vi muitos filmes estranhos de terror, alguns psicológicos tensos, outros que apenas trabalham a tensão e não atingem nada, e alguns que até nos causam sensações ruins, mas para que isso ocorra o diretor tem de ser muito bom na essência para converter o estilo em algo que vá além do visual entregue, e se a diretora Gabriela Amaral entregou no ano passado um filmaço tenso, cheio de impacto e que prendeu do começo ao fim com "Animal Cordial", agora em seu novo longa "A Sombra do Pai", o resultado não vai tão bem, e chega a ser desanimador em diversos momentos, ou seja, poderia ter impactado mais, e encontrado vértices mais duros para que o filme empolgasse e causasse algo a mais, mas gira, gira e não anda, de modo que me vi olhando num filme de 92 minutos, 4 a 5 vezes no relógio, e como costumo dizer, em filmes que necessito ver o tempo passado, certamente o resultado não foi o esperado.
O filme conta a história de um pai e uma filha que não conseguem se comunicar. Órfã de mãe, Dalva (9 anos) vê o seu pai, o pedreiro Jorge, ser consumido pela tristeza após perder o melhor amigo. Dalva acredita ter poderes sobrenaturais e ser capaz de trazer a mãe de volta à vida. À medida que Jorge se torna mais ausente – e eventualmente perigoso –, resta a Dalva a esperança de que talvez sua mãe possa voltar.
O estilo da diretora é bem preciso no que desejava mostrar, mas conceitualmente a trama parece girar em círculos sem ter muito um mote mais desenvolvido, ficando jogado demais para um longa de bruxaria/ocultismo, e incisivo demais para um terror psicológico, de modo que a solidão da garota, misturada com o envolvimento em magia oculta resulta em uma trama que até podemos considerar um terror razoável, porém ficou parecendo a todo momento que Gabriela Amaral desejava algo a mais para seu filme e não conseguia impor, brincando com filmes antigos, trabalhando com os ensejos estranhos da garota, da tia, do pai, do personagem eletricista, de modo que tudo vai acontecendo e criando mais um vértice sem fechar qualquer outro, e com isso o resultado soa frouxo, o que não é bacana de ver, nem chama atenção para algo mais impactante. Ou seja, ao final até temos um pouco mais de cenas tensas bem colocadas, que até destoam completamente do início e do miolo do filme, mas aí já era tarde demais para resolver, e assim sendo, acabamos ou dormindo com o filme, ou ficando irritado olhando para as horas.
Sobre as atuações, mesmo sendo um filme bem esquisito, todos os atores se empenharam em fazer o que lhe foi determinado, tendo claro o destaque para a jovem Nina Medeiros, que encontrou trejeitos fortes para sua Dalva, criando situações que só de olhar para suas expressões já causa uma certa tensão, e se o filme fosse melhor determinado certamente ficaríamos arrepiados com cada uma de suas cenas, o que não ocorre infelizmente, mas mesmo assim a jovem pode ser promissora se seguir essa linha de terror, afinal já fez no ano passado outro papel menos tenso, mas numa produção bem feita do estilo também. Julio Machado também entregou expressões bem estranhas, aparentando estar meio em dúvida de qual linha seguir para com seu personagem, de modo que Jorge aparenta ficar maluco com a depressão da perda do amigo, fica doente com o corte, e a verdadeira silhueta pode até ser vista como a garotinha determina: "meu pai está virando um zumbi!", e é isso o que vemos na tela. A atriz Luciana Paes já virou peça chave nos longas da diretora, e aqui embora sua personagem Cristina apareça em cenas meio que fora do eixo da trama, o resultado chama bem a atenção pelas expressões que faz, parecendo estar sempre assustada, ou com os pés atrás com relação aos outros elos da família. Agora quanto aos demais, diria que apareceram pouco para chama atenção, tendo leve destaque a outra garotinha, feita por Clara Moura, que também aparentou estar pronta para cenas tensas de terror.
A equipe de arte foi bem precisa nas locações de acordo com o que o filme necessitava, entregando uma casa de família bem pobre, mas com elementos tradicionais para que tudo ficasse bem encaixado, como a solidão da garota, os elementos cênicos propícios para as magias da garota, os elementos do cadáver da mãe, e até mesmo as situações envolvendo tudo o que ocorria no quintal da casa foram bem pensados para representar a trama, enquanto na obra, os elementos já foram mais puxados para um terror violento, com um personagem aparente de tensão como o eletricista, e diversos momentos bem coerentes para que o filme tivesse a densidade certa. Porém poderiam ter abusado um pouco mais de tudo se o roteiro não tivesse sido abrangente demais.
Enfim, é um filme simples, que é até bem feito, mas que teve muitas propostas sem direcionamento, e falta um acerto mais preciso para que o terror causasse realmente mais tensão ao invés de estranhamento, que também é um estilo do gênero, porém para funcionar nesse, precisaria ir mais a fundo. Sendo assim, não recomendo ele, mas certamente terá quem goste, pois não é algo 100% ruim. Bem é isso pessoal, encerro aqui a semana nos cinemas, mas volto em breve com mais textos, afinal ainda tenho muitos na minha lista do streaming, então abraços e até logo mais.
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