Primeira regra de um filme de origem de personagem: apresentar o personagem! Qualquer diretor que tenha a mínima noção de fazer um longa deve usar essa regra, ou a chance de que seu filme fique vazio, contando apenas com cenas fortes ou exageros criativos é bem alta, e infelizmente isso foi o que aconteceu com "Brightburn - Filho das Trevas", que até entrega boas cenas tensas, carrega uma boa dose de violência, e consegue colocar bons sustos em diversos momentos com os poderes do garoto, porém não temos sequer uma informação de onde ele veio, ou como chegou ali, ou quais são as reais intenções da nave que fala com ele, de modo que o filme fica apenas como uma reação impactante de alguém muito forte (que até possui um ponto fraco), mas que não atinge nenhum ponto de ápice ficando apenas com alguém que sai matando por não concordar com elas, ou seja, acaba quase sendo um filme de serial-killer, só que com uma criança/adolescente. Sendo assim o filme até tenta chamar a atenção, e deixa aberto a ideia para uma continuação, a qual o produtor já fala até de saber quais caminhos seguir na sequência, porém para isso precisarão melhorar muita coisa para que o filme não fique em vão.
A sinopse nos conta que quando uma criança alienígena cai no terreno de um casal da parte rural dos Estados Unidos, eles decidem criar o menino como seu filho. Porém, ao começar a descobrir seus poderes, ao invés de se tornar um herói para a humanidade, ele passa a aterrorizar a pequena cidade onde vive, se tornando uma força obscura na Terra.
É engraçado que nem se a pessoa quiser ela não pensa em Superman quando vê o trailer e toda a ideologia do longa, tanto que muitos apelidaram esse de o filme do Superman do mal, e o que muitos não sabem é que existe uma versão dessa nas HQs, porém esse filme não trabalha em nada essa ideologia das HQs, sendo uma história nova, inventada pelos roteiristas Brian e Mark Gunn, que entregue nas mãos de David Yarovesky acabou virando uma trama digamos razoável, pois entrega o que um filme de terror deve fazer, que é tensão e violência, mas que para funcionar um pouco mais no conceito dramático precisaria de uma história mais envolvente, ou pelo menos algumas explicações a mais para que o propósito fosse completado. Claro que irão usar essa premissa para fazer um segundo filme com base na origem do bebê, ou quem sabe, já ir para a juventude do garoto destruindo o planeta, mas como costumo dizer, sem uma boa base, até mesmo um filme de apenas mortes acaba sendo cansativo, e aqui certamente poderiam ter ido bem longe.
Outro ponto que poderia ter sido melhorado é a da introspecção dos atores, pois todos aparentaram estar fazendo apenas o filme, não demonstrando sentimentos em relação às suas cenas, de modo que em alguns atos parecem estar apenas ali sentados fazendo suas caras e bocas sem saber muito o que está ocorrendo, e embora o filme tenha muita computação gráfica, os atores costumam ser bem instruídos do que está sendo feito para fazer expressões melhores. Dentre o trio principal, quem interpreta um pouco melhor é Elizabeth Banks, que entrega bem as situações como uma mãe deve fazer, chora em perceber que o filho não é uma pessoa boa, mas ao mesmo tempo, como toda mãe, se ilude na possibilidade de mudar isso, e assim sendo ela caiu bem para o papel de Tori, e até mesmo nos momentos mais desesperados ela fez boas dinâmicas. O jovem Jackson A. Dunn possui uma expressividade gigantesca (para um alienígena - que só assim para não expressar nada!) de modo que seu Brandon entrega atitudes tão sem dinâmica que ficamos pensando se ele estava descontente com algo no set de filmagem, fazendo sempre caras desanimadas, e mesmo nos seus momentos de fúria, somente a computação mudava seus olhares, mas os trejeitos faciais continuavam os mesmos, ou seja, fraco demais. David Denman se esforçou bem nos atos de seu Kyle, incorporando bem o homem da casa, mas chega a ser engraçado a falha no roteiro do tanto que o jovem some de cena a noite, sendo um fazendeiro, mas que está sempre no bar, e do nada some, depois aparece, raramente estando em casa, ou seja, um personagem perdido na trama, que pelo menos quando apareceu teve bons atos. Quanto aos demais, diria que alguns foram até melhores que os protagonistas, como a garçonete maluca, mãe da amiga do garoto, interpretada por Becky Wahlstrom, os tios do garoto interpretados por Meredith Hagner e Matt Jones (esse com uma cena bem tensa e forte!), e até a garotinha Emmie Hunter soube entregar algumas lágrimas expressivas de medo nas suas cenas bem colocadas, ou seja, poderiam ter trabalhado melhor com todos.
Dentro do conceito artístico a trama buscou uma cidadezinha meio que pacata para os acontecimentos, uma escola sem muito chamariz, uma lanchonete simples, e claro uma casa de fazendo enorme com celeiro gigantesco para abrigar uma nave, a casa da diretora cheia de tecnologias, e outros absurdos estranhos, mas como estamos falando de um longa de terror, as cenas de mortes foram bem condensadas com muito sangue e violência, incorporando atitudes, e principalmente figurinos propícios para os atos, olhos pegando fogo e tudo mais, o que remeteu bem a essência que a trama buscava, e claro sempre fazendo muitas referências ao conceito da quebra do herói, o que é bem bacana de ver, e certamente poderiam ter usado mais disso, mas não rolou. Ou seja, a equipe de arte pode brincar bem com o orçamento, mas não quis ousar, fazendo o básico bem feito. A fotografia trabalhou muito as cenas escuras para fazer as famosas jump scares, aonde o protagonista surge do nada para pegar o público desprevenido, e funciona, mas não gastaram muito com iluminações tensas, e o resultado fica levemente apagado nesse conceito.
Enfim, é um filme simples, que poderia ousar muito mais, ainda mais com todo o estilo que o produtor James Gunn certamente colocou em cima dele, mas o resultado não chega nem perto de causar, assustando um pouco, mas mais incomodando por não entregar nada da ideologia do personagem, que aí sim quem sabe a trama deslancharia. Recomendo ele com muitas ressalvas, pois é um terror forte pelas cenas das mortes, mas que falha demais em essência, e isso faz com que a maioria que vá conferir mais ria das cenas do que se amedronte. Ou seja, um filme bem mediano. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, encerrando as estreias que vieram para os cinemas do interior, mas volto em breve com mais textos de filmes do streaming, então abraços e até logo mais.
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