Desde que vi o trailer de "Ma" sabia que o longa seria algo bem diferente do tradicional, porém não esperava ficar tenso com algumas das situações fortes que o longa acaba entregando, pois a personagem principal é daquelas que qualquer um ficaria bem intrigado com as atitudes, mas jamais pensaria nos rumos que tudo iria tomar, mas ao apresentar a "justificativa" para tais atos até chegamos a entender seus motivos, e pensando com um ar de maldade, talvez faríamos algo parecido (se fôssemos um pouco malucos também, pois é necessário escapar das ideias para tanto!). Ou seja, é um longa de terror com uma proposta digamos diferente do usual, que consegue divertir, trabalhar bem a dramaticidade, usar de prerrogativas interessantes, e claro ainda causar muita tensão, o que faz valer o filme, porém poderiam ter trabalhado um pouco mais as cenas do passado da protagonista para sabermos todos os elos, pois embora saibamos o que aconteceu, alguns personagens apenas foram jogados, e isso deixa a trama um pouco desconexa, mas ainda assim com uma atuação primorosa de Octavia Spencer, o resultado completo acaba chamando muita atenção para quem gosta de um terror mais dramatizado com menos sangue.
O longa nos mostra que Maggie e seus amigos, todos menores de idade, estão tentando descolar bebidas alcóolicas em um mercado quando conhecem Sue Ann, uma mulher adulta que usa sua identidade para ajudá-los. Além de comprar as bebidas, ela decide oferecer sua casa para que eles organizem uma festa com o pessoal do colégio. Os eventos acabam se tornando uma rotina do grupo, até que os jovens começam a identificar um comportamento estranho da dona da casa, que se torna cada vez mais controladora e obsessiva.
A sacada do diretor Tate Taylor foi pegar o roteiro de Scotty Landes que é bem cru, afinal como roteirista de séries não costumam enfeitar muito os episódios, e dar uma incrementada para que o filme saísse dos eixos literalmente, quebrando a trama diversas vezes com voltas no passado da protagonista, para representar seus sentimentos, e claro dar uma relativizada nas situações/atitudes que acaba desenvolvendo no presente. Claro que para isso, ele usou de artifícios bem casuais, e abusou de liberar os erros cênicos, pois não deixou brechas para que seu filme seguisse um caminho normal, encontrando situações desnecessárias pelo caminho, e relevando, o que acaba soando ruim num primeiro momento, mas que se também relevarmos o filme flui melhor, tanto que alguns personagens acabam até desnecessários também, e talvez uma limpada daria um ar mais clássico para a trama, mas como não ocorreu, precisamos também focar aonde vamos, senão o filme destoa em alguns momentos, como as cenas na clínica veterinária, alguns momentos de apresentação, entre outros. Porém tirando esses detalhes, o filme encontra bons momentos, e entrega já nos últimos atos cenas dignas de arrepios com níveis de crueldade bem fortes e interessantes de ver, mas que para chegar até eles, alguns que já preferem um terror mais sem histórias pode se cansar. Ou seja, diria que o filme cabe bem num formato dramático mais puxado para o terror, do que um terror mais dramatizado, pois o ato dramático fica mais encaixado, porém como dramas costumam fluir mais nas histórias, aqui o lado terror vence.
As atuações foram bem encaixadas, cada um com um estilo mais colocado para que o filme pedia, porém é inegável a qualidade de Octávia Spencer com sua Sue Ann ou Ma para os amigos, de modo que cada cena sua oscilava expressões com mudanças tão ágeis que ficávamos estarrecidos com seus atos, ou seja, a atriz soube colocar toda sua integridade dramática para jogo (que tanto conhecemos de outros filmes), com um lado vingativo imponente cheio de loucuras até o ponto de atacar para valer, aonde sem virar uma maluca frenética, continuou com os olhares expressivos e densos, mas fazendo exatamente o que pensou e desejava fazer, ou seja, deu show. Quanto aos jovens, diria que poderiam ter trabalhado um pouco mais para não soarem tão ingênuos, pois ok ganhamos a bebida, ok ela está nos levando para sua casa estranha, ok foi apenas uma pegadinha com a arma, mas pera, vamos fazer outras festas e seja o que for, nem o mais maluco entregaria ações assim, ou entregaria? Mas isso faz parte do roteiro, então não vamos discutir, mas todos os atores poderiam ter feito facetas mais envolventes para chamar atenção, de modo que só Diana Silvers com sua Maggie (afinal também é co-protagonista da trama) tenta se destacar, mostrando uma ou outra expressividade diferenciada, encontrando medo e temor em algumas situações, e até soando graciosa nas cenas apaixonadas pelo jovem bobinho demais Andy, vivido por Corey Fogelmanis, ou seja, poderiam ter vértices melhores para todos. Dos demais adultos, as histórias pareceram jogadas demais, e nenhum se fez por valer, nem a clássica Juliette Lewis com sua Erica fazendo uma crupiê decadente, nem Luke Evans mostrando suas partes íntimas como Ben fez algo a mais que valesse destacar.
No conceito artístico a trama foi simples, mas trabalhada com conceitos bem próprios, de modo que usando a base de um porão, que inicialmente está bem jogado, mas que logo mais acaba virando um tremendo salão de festas para jovens, com muitos detalhes típicos de festas estudantis que vemos em muitos filmes, como jogos, pista de dança, bebidas, salgadinhos, pessoas por todo o lado, no andar de cima da casa, temos algo bem metódico, cheio de cercas e isolamentos característicos de personalidades controladores, e além disso, uma escola que é usada nas duas versões (presente e passado), e um cassino clássico que é pouco usado para duas cenas apenas, além de uma clínica veterinária que só é usada para mostrar os medicamentos e nada mais, ou seja, o conceito é abrangente, mas o uso é simplório, até claro chegarmos nas cenas violentas, aí a equipe já apelou para cortas, linhas e agulha, ferros, facas e tudo mais que vemos casualmente em longas de terror, de modo que a equipe de arte precisou seguir quase que duas linhas bem distintas, e o resultado funciona bem assim também.
Enfim, não diria que é uma daquelas obras primas do gênero, mas que por entregar um estilo diferente de filme vingativo, aonde procuraram trabalhar mais a dramaticidade, os envolvimentos, e até mesmo a forma de tudo acontecer, o resultado acaba sendo bem agradável e interessante de conferir, de modo que o longa não cansa, passa bem rápido com todas as dinâmicas sendo entregues casadinhas, que apenas erra por não trabalhar mais o passado (daria tempo de colocar mais uns 10 minutos sem errar!), e deixar tudo para muito no final, parecendo que correram para encerrar, pois tirando esses detalhes pequenos, é um filme que vale muito a conferida, sendo forte na medida certa, e que claro acabo recomendando. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos das estreias, então abraços e até logo mais.
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