Um filme de reflexão sobre as escolhas na vida, essa pode ser a melhor definição para o longa "Um Homem de Sorte", que a Netflix colocou em cartaz na sua plataforma, e digo isso por ver que a trama em si não conta a história a fundo de uma pessoa, mas sim suas diversas passagens, escolhas, sentimentos, e claro a sua índole testada e mostrada a cada virada de ideia, mas sempre mostrando que seu projeto desde a infância foi mantido, nem que para isso ele precisasse mudar seus princípios, ou não. Ou seja, é um filme bem dramático, com um conceito de época bem interessante, que agrada pelo estilo, pelos vértices entregues, e pelo bom roteiro que permeia mostrar tanto a bagunça conflitiva que é acreditar na ciência e negar a religião, ainda mais numa época aonde as religiões dominavam tudo e todos, mas que indo além conseguiu dramatizar toda a história de como funciona a cabeça de um gênio, que nas melhores horas até possui boas ideias, mas que num estalo resolve mudar tudo e acaba indo até contra os seus princípios. Não digo que seja um filme perfeito, principalmente pela duração longuíssima de 162 minutos, mas que pela beleza visual, pela essência passada, pelas boas atuações, e principalmente pela história em si bem desenvolvida, o resultado acaba sendo algo que vale a conferida, claro que descansando um pouco no miolo, pois facilmente como uma minissérie de três capítulos, o aproveitamento seria bem melhor.
No final do século 19, Peter Sidenius é um jovem ambicioso de uma família cristã devota na Dinamarca Ocidental, que viaja para a capital dinamarquesa de Copenhague para estudar engenharia, rebelando-se contra seu pai clérigo. Ele entra em contato com os círculos intelectuais de uma família rica e judia e seduz a filha mais velha, Jakobe. Per, como ele agora chama a si mesmo, concebe um projeto de engenharia em larga escala, incluindo a construção de uma série de canais em sua terra natal, Jutland, e faz lobby para sua construção. Mas assim como Per parece estar prestes a realizar seus sonhos, seu orgulho fica no caminho.
Não é por menos que o filme é tão longo, afinal o livro em que o roteiro foi baseado possui 8 volumes e foi escrito em 6 anos pelo ganhador do Nobel, Henrik Pontoppidan, e desenvolver uma obra desse tamanho para ser exibido sem cortes tem de ser de uma coragem tremenda, mas é fato que a trama merecia algumas quebras, algumas mudanças visuais mais fortes nos personagens durante a passagem dos anos, afinal temos o jovem em sua entrada na faculdade, seu desenvolvimento, e pelo fechamento temos seus filhos com ao menos 8 anos, ou seja, a trama se passa por pelo menos uns 15 anos ou mais, e sempre com os mesmos atores, alguns nem parecendo ter envelhecido nada nesse tempo, sendo assim uma das maiores falhas da execução, porém tirando esse detalhe, o diretor e roteirista Bille August conseguiu passar grandiosas mensagens, trabalhar uma cenografia de época incrível, e principalmente ter a dinâmica mais coesa e precisa para que seu filme mesmo longo não parecesse alongado, tendo os diversos momentos bem explorados, criados com discernimento e sempre fechados com uma fotografia tão primorosa de ambientação que ficamos encantados a cada momento. Claro que muitos irão ficar bravos com as atitudes dos protagonistas, com as diversas situações que ocorrem, mas como bem sabemos pela História, nessa época funcionava bem dessa maneira, e aqui foram generosos em não apelar para coisas piores.
Quanto das interpretações, posso dizer facilmente que Esben Smed merece ser achado rapidamente pelos produtores de grandes filmes, pois o jovem conseguiu segurar a responsabilidade de uma trama imensa com olhares, gestuais, trejeitos com muita vivência durante todo o longa, criando sentimentos diferenciados a cada plano com seu Peter, mostrando o conflito de sua mente a cada resultado, o que fez dele um tremendo protagonista, o colocando com perfeição de detalhes para que o filme não decaísse em momento algum. Katrine Greis-Rosenthal acabou entregando bem sua Jakobe, mostrando um estilo sério de ser a filha mais velha da família, mas oscilou muito seus trejeitos, parecendo ser no mínimo umas três personagens diferentes durante toda a trama, claro que como o filme se passa por muitos anos, as pessoas costumam mudar, mas ficou um pouco estranho de ver alguns atos. Benjamin Kitter fez aquele tradicional amigo/irmão que quer a felicidade dos outros dentro de sua família, entregando sorrisos sempre nas cenas junto do protagonista, fazendo de seu Ivan uma figura bem bacana de acompanhar. Quanto aos demais, todos deram boas conexões para cada momento do protagonista, mas sem grandiosos destaques, pois cada um foi mais disposto a somar do que aparecer, e isso é bacana de ver, claro que vale a pena destacar a beleza das diversas mulheres escolhidas, de modo que qualquer uma seria um belo par para o protagonista.
No conceito artístico, a equipe escolheu locações incrivelmente belas, trabalhou muito bem o figurino de época para mostrar os contrapontos entre os riquíssimos judeus e os extremamente pobres cristãos da Dinamarca na época, e claro também mostrou muitas festas com requinte luxuoso, obras gigantescas e tudo mais para dar o contexto da engenharia que o filme falava em segundo plano, ou seja, a equipe precisou ir bem a fundo no roteiro para construir uma trama visualmente funcional. E sempre contando com uma fotografia bem aberta, aonde os tons floreavam em belos campos, com cores vivas nas cenas mais alegres, tons pasteis nas reflexivas, e até um lado mais escuro nas cenas mais tensas deram um funcionamento tradicional, mas bem feito
Enfim, como disse no começo o longa está longe da perfeição, faltando algo mais forte no contexto geral, mas que conseguiu chamar bem a atenção, e facilmente se algum dia for exibido como minissérie agradará muitos, pois conhecendo o público que hoje não aguenta um drama de 90 minutos, quanto mais um de 162, então muitos começarão a ver o longa e irão parar, mas quem conseguir conferir tudo, valerá a pena refletir depois sobre tudo o que é passado, pois sem dúvida essa era a ideia da trama, e a recomendo por isso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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