O longa nos mostra que Franck Pasquier é um jovem bombeiro extremamente dedicado ao seu trabalho e que vive feliz em companhia de sua esposa. Durante um incêndio, ele se sacrifica para salvar um colega. Quando acorda em um hospital de Les Grands Brûlés, Franck percebe que seu rosto ficou gravemente queimado. Agora, ele terá de reaprender a viver e aceitar sua nova condição.
O diretor e roteirista Frédéric Tellier quis aqui criar algo que vai muito além de uma homenagem aos bombeiros, mas que consegue passar toda a forma de reconstrução familiar, e ainda mais a reconstrução de um ego, de uma alma machucada por mudar seus anseios, e com isso o filme dele não permeia situações fáceis de ver, de modo que confesso mesmo sendo um fã de filmes de terror, fiquei quase com vontade de fechar os olhos nas cenas do hospital, pois foram feitas com muita dor, além das cenas no incêndio completamente fortes e vivas dando um tom bem realístico para a trama, de modo que até sendo um filme não tão complexo, acabamos fluindo os vértices para pensamentos que vão para muito além da telona, como por exemplo o que faríamos no lugar de Franck (pois como os médicos no filme falam, a maioria de queimados desiste no próprio coma, não aguentando brigar com o corpo, quanto mais brigar com o ego depois), ou então o que faríamos no lugar de Cécile (tendo de cuidar de dois bebês, mais o marido entrando em completo lado contrário do que usualmente fazia), ou seja, um filme para se pensar, para se discutir, e muito mais, que faz dele uma grande obra visual para ser conferida.
Quanto das atuações, confesso que tinha um certo ranço pelo ator Pierre Niney nos outros festivais, pois nos últimos festivais só falavam dele, o colocavam no centro das atenções, diziam ser o novo nome expressivo do cinema francês, mas não conseguia enxergar isso com suas atuações sempre sendo boas, mas não para o tanto que falavam, porém aqui ele mostrou a que veio com seu Franck, não no primeiro ato que entrega como fez em todos os filmes, mas ao não poder colocar sua cara para fazer expressões, apenas entoando uma voz embargada com a boca queimada, sem usar olhares densos por trás da máscara, fazendo com que ficássemos tristes por ele, sentidos pelo seu ego, e com uma desenvoltura precisa acertando ainda cada momento com o tom certo, ou seja, agora sim posso falar que ele é um dos grandes nomes do cinema francês atual. É engraçado que estava olhando para a protagonista Anaïs Demoustier, e pensando que outro filme ela fez que não me era estranha, e agora ao ver seu perfil, vi que ela estava no longa anterior de hoje do Festival como Esther, que nem cheguei a pontuar, pois era uma personagem simples de professora de latim que se envolvia com um dos filhos, mas nada que chamasse muita atenção, porém aqui como Cécile, ela trabalhou a expressividade sua com trejeitos fortes, ousou brincar com um ar sedutor mais simples porém efetivo, e com muita graciosidade passou diversos sentimentos para o público, de modo que como disse precisamos até entrar na mente da personagem para entender tudo o que estava sentindo, e isso é algo que poucos atores conseguem transparecer. Quanto aos demais, todos apareceram com sinceridade para a trama, alguns dando um tom a mais, outros fluindo um pouco menos, valendo destacar apenas Vincent Rottiers como o amigo bombeiro Martin que também sofre um acidente, e Chloé Stefani como a médica Nathalie que cuida do bombeiro com muito amor e sentimento, ou seja, se doaram também para o filme.
A trama entrega também um bom trabalho da equipe artística, criando momentos fortes como nas cenas de fogo no armazém, o charmoso corpo de bombeiros aonde foi nos primeiros atos a casa do protagonista também cheia de detalhes, um hospital bem montado para tratar os queimados, e os detalhes marcantes da volta do protagonista para sua nova casa toda removida de espelhos, para marcar forte, depois na escola de música a reintegração bem feita e tudo mais, ou seja, um trabalho minucioso que não chega a ser imponente, mas que agrada demais por tudo o que fizeram. Outro grande ponto do longa ficou claro para a equipe de maquiagem, que fez algo forte, bem marcante e que chega a arrepiar só de lembrar cada cena de pele desmanchando, ou seja, algo feito em detalhes marcantes que honraram os profissionais da classe. A fotografia trabalhou com cores bem neutras, mas sempre puxando para algo mais escuro para aumentar a dramaticidade da trama, o que marca bastante cada momento, e funciona como elo de virada para as cenas finais todas bem iluminadas, que mostram o renascimento, ou seja, um show visual.
Enfim, um filme forte, bem feito, que até possui leves defeitos de alongamento e poderiam ser resumidos para termos uma dinâmica melhor, mas que acabaria não marcando tanto quanto o que acabou acontecendo, e sendo assim melhor manter todas as cenas extras colocadas. Sendo assim recomendo muito o filme para todos, mas que vá ao cinema preparados, pois os momentos do acidente e do hospital são bem duros de ver. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje com os filmes do Festival Varilux, mas volto logo mais com uma crítica de uma das estreias normais da semana, então abraços e até logo mais.
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