O que dá misturar romance, comédia e política em um único longa? A resposta poderia ser algo completamente forçado com Seth Rogen, afinal já vimos longas seus de arrepiar até a alma de tão jogados, mas certamente não veríamos Charlize Theron no mesmo pôster, ou seja, a curiosidade aguça e muito só de pensar se isso é algo que daria certo, ainda mais após conferir o trailer de "Casal Improvável". E agora após conferir, digo que embora tenha uma única cena forçada que é usada para formatar o desfecho da trama (e que certamente poderia ter sido melhor pensada para não chocar tanto algumas pessoas na sala, e talvez funcionar da mesma forma), o resultado é um dos mais leves e gostosos de acompanhar dentre as últimas comédias românticas lançadas nos EUA, que trabalha de uma maneira bem sutil cada ato, encontra consistentes formas para envolver, e ainda trabalha boas sacadas para manter o público conectado ao estilo da trama, de forma que temos uma cena no trailer que nem é usada no longa, mas que define muito bem o filme, aonde o amigo do protagonista coloca a trama como "Uma Linda Mulher" só que de forma invertida, e basicamente temos algo digamos semelhante, não plenamente, que acaba funcionando bem, e diverte sem exagerar, não sendo daqueles que você irá rir demais, mas também não irá se desapontar.
O jornalista investigativo Fred Flarsky se demite após receber a notícia de que o site para qual trabalha foi vendido para um grande conglomerado de mídia, liderado por Parker Wembley. Para se animar depois de perder o emprego, Fred vai a uma festa com seu amigo Lance e acaba reencontrando sua antiga babá, Charlotte Field, que, atualmente, é Secretária de Estado americana e está prestes a concorrer à presidência. Cansada de ser assessorada por profissionais que não a conhecem, Charlotte decide contratar Fred para escrever seus discursos de campanha. Um romance improvável surge entre eles, causando uma inesperada reação em cadeia.
Não digo que é o melhor filme do gênero que já vi, afinal tirando um desfecho emocionante, faltou talvez um pouco mais de sensibilidade em alguns momentos para adoçar um pouco mais os roteiristas, mas como o estilo deles é quase 100% de comédias, e o diretor trabalhou um pouco mais com outros vértices, diria que tanto o diretor Jonathan Levine ("Meu Namorado é um Zumbi", "50/50", "Doidão") quanto o roteirista Dan Sterling ("A Entrevista", "South Park", "O Rei do Pedaço") trabalharam bem para que a trama tivesse a conexão cômica sem precisar ser uma comédia 100% de gargalhadas, encontrasse o tom romântico sem precisar ser melosa, e principalmente orquestraram o estilo para que o filme ficasse interessante o suficiente para que o público se conectasse ao momento do casal, tivesse o envolvimento agradável que outras grandes produções tiveram, e que mesmo apelando para algo forçado para dar o ponto de virada na trama (confesso que isso foi o que abaixou a nota do filme, pois poderiam ter ido por inúmeros outros rumos), conseguiram entregar uma obra que tivesse um ar fora do que andávamos vendo ultimamente no gênero. Ou seja, o resultado final flerta completamente com grandes obras do estilo que vai fazer a trama até parecer boba demais, mas que analisando todas as possibilidades de erros, todos os finais possíveis que nos vem a mente, acabamos voltando sempre pro mais bonitinho e funcional, e esse é o acerto do longa, que pode até muitos discordarem e reclamarem, mas foi bem trabalhado ao menos.
Sobre as atuações, um ponto tem de ser dito logo de cara, Charlize Theron salva qualquer filme que entrar, e sabe fazer isso com tanta classe e estilo que acabamos encantados com qualquer atitude sua, assim como o protagonista acaba apaixonado por sua personagem, e dessa forma sua Charlotte é imponente como uma secretária de estado deve ser, possui o estilo encaixado para uma pessoa que está pronta para disputar a presidência americana, mas principalmente mantendo o elo emotivo e usando olhares e trejeitos bem colocados, consegue entregar doçura e acertar na medida certa cada ato com o protagonista, ou seja, perfeita como sempre. Certamente diria que esperava muito menos de Seth Rogen, pois conhecendo o estilo que faz em seus filmes, já estava preparado para muita tosquice e abusos por parte dele, mas encontrou um estilão bem colocado para seu Fred, de modo que o personagem em si é bem jogado, mas que acaba caindo como uma luva para a proposta, claro que ele tenta forçar em diversos atos, e o diretor até deixa para que a comicidade normal dele flua, mas sempre voltando para o eixo acaba funcionando e agradando bastante. Dentre os demais, tivemos bons atos de cumplicidade e amizade mostrados por O'Shea Jackson Jr. como Lance, tivemos algo inusitado entre os assessores da protagonista vividos pelo bobinho demais Ravi Patel e a sagaz June Diane Raphael, mas principalmente tivemos os grandes erros de Andy Serkis como o exagerado Wembley, que não merecia um papel tão ruim, e o presidente ator vivido por Bob Odenkirk que sempre aparece como algo crítico no meio de um filme que não é crítico. Quanto do primeiro ministro canadense de Alexander Skarsgård diria que foi bem encaixado na proposta, mas não chamou a atenção que deveria, agradando tanto quanto o Agente M vivido por Tristan D. Lalla.
O conteúdo visual da trama é algo que flui muito bem, pois encontra locações rápidas (que se foram em todos esses lugares, a equipe realmente gastou uma grana monstruosa de viagens!) para transportar os bons momentos da produção, criando quase que mini esquetes bem preparadas para cada momento, funcionando de forma bacana, imponente, mas não necessitando trabalhar o filme inteiro como uma única situação, e isso é algo comum, fácil, e simples de se entregar, de modo que o filme todo não necessitasse nem ser inteiramente em algum lugar presidenciável, nem em locações despojadas, trabalhando o encontro da protagonista com líderes de diversos países em festas e reuniões bem arrumadas visualmente, com um certo charme simples e bem bacana de ver, além claro das cenas chaves, como o atentado e a sala de guerra, que aí tiveram de criar algo mais denso, mas sem exagerar, e acertando bastante. A fotografia como casualmente ocorre em longas românticos possui tons não fortes demais para causar, mas de uma maneira bem sacada, colocaram destaques neutros na produção, sempre chamando o ato para um tom abaixo com cada hora um personagem oscilando para menos, o que envolve, mas puxa o olhar para onde desejava mostrar o deslanchar, e isso é bem legal de reparar, pois muda o vértice sempre, e agrada.
A trama entrega diversas boas canções, mas usar Roxette como tema principal foi sacanagem, pois ficamos com "It Must Have Been Love", que foi colocada com muita classe também em "Uma Linda Mulher" (olha aqui outra sacada com o filme clássico), na cabeça de tal maneira que soa lindo demais a cena deles dançando, ou seja, uma escolha na medida.
Enfim, é um filme simples, bem gostoso de assistir, que certamente muitos odiarão, mas a maioria que gosta do estilo acabará bem envolvido com tudo e acabará gostando muito da trama, mesmo sem rir em demasia, nem chorar para todos os cantos, muito menos sair apaixonado da sessão, de modo que lendo tudo isso até vão pensar: tem certeza que é uma comédia romântica mesmo? Mas lhes digo que sim, que possui muita classe, que quase erra no exagero do mote de quebra, mas que vale a pena o tempo na sala do cinema, ou a deitada no sofá, pois a cara de sessão da tarde é total na trama, e sendo assim, recomendo ele com certeza para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já encerrando a semana nos cinemas, afinal vieram para o interior bem poucas opções, mas amanhã já pego um longa bacana que estreou no streaming para conferir, e claro volto aqui com mais textos, então abraços e até logo mais.
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