A sinopse nos conta que aos oito anos, Odette gostava de pintar e desenhar, como todo criança inocente. Eventualmente, ela também brincava com os adultos, por isso não recusou participar de uma "guerra de cócegas" com um homem mais velho, amigo de seus pais. Anos depois, Odette é uma adulta assombrada pelos traumas da infância, algo que ela vem tentando esquecer através da dança, atividade que ela pratica profissionalmente.
Sendo o primeiro filme de Andréa Bescond tanto na direção, quanto no roteiro e também na atuação, certamente estaria o Coelho aqui dando voadora no peito dela falando que não tem como dar certo fazer tudo, mas hoje irei aplaudir o que ela fez na trama, pois outros fariam um filme que sairíamos da sessão exaustos com dor de tanta tensão pelo tema, mas não, ela conseguiu extrair tudo de formas tão bem colocadas que acabamos fluindo pelo tema quase que junto da psicóloga e da protagonista, entendendo cada momento, vivenciando a mente da protagonista em ambientes bem pensados que acabaram resultando em um filme preciso de ideias, mas surpreendente de envolvimento, o que mostra um tino tão perfeito mostrando algo que segundo a diretora vivenciou quando mais jovem, antes de se tornar uma grande dançarina, ou seja ao retratar sua vida ela explode seus medos e agrada alertando outros, pois diria que o resultado final é daqueles longas para guardarmos e indicarmos com certeza quando alguém precisar do tema. Perfeito eu diria em tudo praticamente.
Sobre as atuações, tenho de começar pela diretora também, pois Andréa Bescond explodiu com sua Odette, criando trejeitos perfeitos, movimentos frenéticos, e encaixando cada momento como algo forte e certeiro de conteúdo para que entrássemos em sua mente, e acreditasse em cada ato seu, ou seja, deu show. A jovem Cyrille Mairesse fez a Odette criança com muita perfeição também, sendo singela e sagaz de expressões, o que agradou e deu um belo resultado. Estou até agora com muito ódio da personagem de Karin Viard, pois sua Mado é daquelas mães que não querem aceitar estar erradas, e a forma que entrega para as cenas finais da personagem é daqueles momentos que queremos socar sua cara, ou seja, bem demais atuando também. Clovis Cornillac apareceu pouco como Fabrice, o pai da garota, mas foi bem nos atos e acaba agradando. Pierre Deladonchamps foi gracioso como Gilbert, e passando tanta sinceridade nos atos como qualquer pedófilo casualmente faria, ou seja, uma pessoa nojenta por dentro, mas que por fora parece um gatinho manso agradável, fazendo assim uma atuação perfeita. Grégory Montel veio como uma boa base para a protagonista com seu Lenny, aparecendo pouco também, mas de uma forma bem colocada e agradável de ver. E para finalizar tenho de dar todo o destaque para Carole Franco como a psicóloga incrivelmente bem encaixada, cheia de boas sacadas, e fazendo de tudo para funcionar bem.
No conceito visual a trama passa por diversas locações, mas o mais incrível de ver não foram os lugares em si, mas sim a sacada na montagem dos cenários se encaixando, de modo que ficou parecendo que a psicóloga e a jovem entravam na fantasia da história sendo contada, misturando tudo em perfeita harmonia, ou seja, um luxo da equipe de arte, e uma perfeita escolha feita pela direção, saindo completamente do tradicional, e fazendo com que mesmo tendo diversos cortes, idas e vindas de tempo resultasse em algo perfeito de ver do começo ao fim sem cansar. A fotografia também foi bem encontrada, variando os tons, fazendo cenas bem densas dentro dum ambiente negro para realçar o movimento da mente, e bem sagaz de contraluzes para não forçar nada, saindo ainda com algo leve, e bem feito.
Enfim, um filme muito bom mesmo, que agrada mesmo tendo leves atos que poderiam até ser mais pesados para penetrar nossa mente e chocar, mas como essa não era a opção escolhida, digo que o acerto foi muito bom, e recomendo demais o filme para todos, mas principalmente para os pais verem e prestarem mais atenção com as pessoas ao seu redor. Bem é isso, fico por aqui agora, mas já vou para mais um longa do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.
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