Alguns filmes costumam trabalhar bem a temática da criação, e simbolizar bem o mote da extinção, de tais maneiras que muito se fala num futuro dominado por máquinas, aonde poucos saberão de onde vem, ou o que existiu, e tudo mais de maneiras duras e coerentes, porém falar dessas ideologias nem sempre sai como poderia, e precisam geralmente de tramas bem consistentes para que o longa domine a ideia e incorpore atitudes maiores do que o valor singelo de uma estrutura narrativa, ou seja, são necessários formatos mais abrangentes para que o longa cause mais e incorpore uma profundidade que não seja apenas jogada, e resulte em um filme daqueles de arrepiar a alma. Digo isso, pois a ideia do filme da Netflix, "I Am Mother" até tenta ter uma profundidade de ideologias, consegue criar a tensão em cima das protagonistas, mas é raso demais no fechamento, de modo que acabamos não entrando na ideia completa formatada, nem acreditando no conceito que procuraram nos entregar. Ou seja, um filme que criou muito, que foi conceituado da melhor maneira possível, sem muitos personagens, e com dinâmicas bem firmes, mas que ao finalizar não teve atitude, e o resultado desaba.
O longa nos conta que criada por um gentil robô a quem chama de "Mãe", uma adolescente é designada para repopular a Terra depois de desastres que quase causaram a extinção completa da humanidade. Mas quando uma mulher desconhecida chega dando notícias alarmantes, o laço afetivo criado entre humano e robô fica ameaçado.
Em sua estreia, o diretor e roteirista Grant Sputore tentou criar algo que fosse cheio de simbolismos em cima do mote da criação, que trabalhasse a tensão na medida para vermos relações sendo quebradas, e principalmente que a dinâmica fosse conflitiva ao inserir algo fora do meio, e assim a trama teria virtudes bem além da casual para refletirmos como é moldada a nossa vida. Porém ele esqueceu que para que esse conflito todo funcionasse, a trama precisaria envolver mais situações, e não apenas criar diálogos e mostrar um ou outro elemento para que o público captasse e desenhasse sozinho tudo, e assim seu filme fica com tantas lacunas abertas que acabamos gostando dele, entrando no clima, e ao final quando ele simplesmente desliga tudo com seu encerramento ficamos pensando: "tá, mas e aí?", pois é a única forma de assimilar tudo, não recaindo para nada, nem aprofundando em nada, de maneira que a superficialidade que tratou todos os temas fossem suficientes para empolgar, o que acaba não acontecendo.
Um dos fatores que poderia ter ajudado na trama talvez fosse ter mais personagens ou atores mais amplos na trama, pois somente dependendo das três jovens, o filme exagerou na dose sentimental, e desejava que elas conseguissem manter tudo sem incorporar algo a mais, e isso acaba não ocorrendo, ficando levemente frouxa as interpretações delas quando tentam ser mais críveis, dessa forma nem chego a culpar elas, mas sim o roteiro e a forma escolhida pela direção para não funcionar bem. Clara Rugaard até tentou entregar momentos expressivos com todas as suas dúvidas, se jogar com a tensão envolvida em cima de sua filha, mas não consegue chamar a atenção, e isso é algo bem ruim de ver. Hilary Swank deixou com sua personagem de mulher algumas dúvidas no ar, mas pela forma desesperadora que entra quase correndo, grita, sangra, ataca e tudo mais, mostrou o tradicional de sua personalidade, mas talvez um desenvolvimento maior da última cena com ela se expressando mais, o resultado mudaria completamente. Luke Halker entregou movimentos para a mãe, com muita sutileza e expressividade corporal para um corpo, o que acaba agradando bastante, mas a voz doce e bem colocada, cheia de transições bem suaves e interessantes ficou a cargo de Rose Byrne, que passa a história bem colocada, mas voltamos para a questão do roteiro sem um fechamento coerente, então, só restou entregar o serviço.
No contexto visual, a equipe de arte criou uma fortaleza bem interessante, cheio de ambientes simples de estrutura, porém recheados de detalhes que poderiam até ser mais usados, além claro de um robô cheio de movimentos e virtudes, e ao sair para fora do ambiente, mostraram bem a forma apocalíptica que desejavam passar por simbolismos, mas não aprofundando nada em momento algum, ou seja, um filme aonde a equipe de arte seguiu uma linha, colocou o cinza como padrão, e mandou ver, não trabalhando em momento algum algo que fosse surpreendente, mas também não desapontando em nenhuma situação.
Enfim, é um filme que certamente poderia ter rumos incríveis se soubessem trabalhar melhor a dinâmica, consertassem o roteiro simples, e saísse do raso entregue para se aprofundar em ideologias e símbolos melhores sobre o criacionismo e tudo mais, que aí talvez pudessem entregar até algo do estilo "Mãe", só que numa versão alienígena/robótica, que com certeza seria incrível de ver. Mas como não temos como mudar um filme pronto, o resultado aqui acaba sendo só recomendado para quem não tiver mais nada para ver, e ainda estiver preparado para algo que vai desapontar no final, pois não digo que o longa seja uma bomba, mas passa bem longe também de ser algo bom de conferir. Bem, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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