Sei que hoje muitos possuem perfis falsos na internet, e que muitos usam isso para não se entregar para fazer coisas ruins, e claro também para quando se deseja ser quem não é, mudar idade, e outras coisas, mas até que ponto alguém chegaria para precisar de tratamento psicológico após algo acontecer? Pois bem, usando dessa ideia o longa "Quem Você Pensa Que Sou" traz um drama psicológico tão impactante através da protagonista, que conforme vai contando sua história para a psicóloga consegue trabalhar nosso imaginário num nível maior ainda do que o que entrega em seu livro depois, de modo que cada ato visto na trama foge do consenso comum e acaba sendo algo que certamente pode acontecer com qualquer um, o que acaba sendo um expoente bem forte de se analisar e chegar ao resultado final. Diria que a sagacidade das diversas reviravoltas é o que faz o longa ter um valor maior, impressionando desde os atos mais simples, até os choques de inversão que conseguiram nos entregar.
O longa nos conta que abandonada pelo namorado, Claire Millaud, de 50 anos, decide criar um perfil falso em uma rede social. Lá, ela atende por Clara, uma bela jovem de 24 anos. O avatar interage com o jovem Alex, que acaba se apaixonando por ela enquanto Claire, por trás das telas, também começa a ama-lo e ficar viciada, sem saber como se desfazer da própria mentira.
Chega a ser impressionante a direção e adaptação que Safy Nebbou fez em cima do livro de Camille Laurens, pois geralmente em dramas adaptados acabamos vendo até as páginas na tela, e aqui a fluidez dos atos é tamanha ao ponto de não enxergarmos sequer uma vírgula em cada desenvoltura, pois ele nos entregou um filme com direcionamento quase que em primeira pessoa, somente vendo as atitudes, conversas e situações que a protagonista acaba fazendo com o jovem, numa tamanha obsessão que sai de eixo em diversos momentos, permeando o pensamento do público para um lado e para o outro, de tal forma que chegamos a pensar em determinado momento que tudo mudou, mas aí ele nos quebra mostrando o que aconteceu, e novamente vai com outra quebra. Ou seja, um filme com quase três filmes dentro de um só, e que não cansa, nem confunde, o que é algo quase raro de ver, sendo um ótimo acerto.
Quanto das atuações, Juliette Binoche sempre se sai bem, e aqui como Claire Millaud encontra um estilo propício de contar cada momento para a psicóloga, vai trabalhando os olhares, se entrega completamente através do telefone e das mensagens, e até acabamos esperando outro fechamento para a trama pelo que acaba fazendo, porém, o estilo e a proposta da trama eram diferentes, e sendo assim, ela acabou mais contida, e ainda assim agrada bastante. Nicole Garcia também saiu perfeita como Dra. Catherine, criando vértices perfeitos como coadjuvante, auxiliando a protagonista a seguir os rumos de cada ato, praticamente como uma levantadora de bola para que fosse cortada, e com muitos olhares intrigantes, a atriz conseguiu ir tirando detalhes de cada momento de sua conversa, não se impondo muito, mas sabendo corretamente onde encaixar cada ato. O jovem ator que adoramos no filme de mais cedo, François Civil volta aqui como Alex, e por muito tempo achei que ele nem iria aparecer na produção, apenas sendo a voz por trás do telefone, mas ao aparecer nos encontros, o jovem se mostrou bem expressivo e agrada novamente. Guillaume Gouix aparece rapidamente como Ludo, entregando em três cenas praticamente poucos atos, mas sendo certeiro no que precisava.
A equipe de arte não precisava nem de nada caso quisessem fazer uma montagem mais teatral, pois como o filme todo quase está em cima dos diálogos ao telefone e junto do computador, bastaria os protagonistas e alguns aparelhos eletrônicos, mas ainda assim foram desenvolvidas cenas numa grande faculdade, com filhos aparecendo para conversar no apartamento cheio de detalhes, e claro a clínica médica bem trabalhada de detalhes para a doutora toda cheia de TOCs arrumando tudo linearmente, ou seja, incrementaram algo que nem era necessário, e deram uma ajudinha para que a equipe de fotografia pudesse trabalhar luzes densas para os atos mais quentes da produção, o que ficou bem bacana de ver.
Enfim, é um filme bem bacana, que nos faz pensar muito na mente humana, nas pessoas que conhecemos e tudo mais, que poderia ser até um pouco mais curto caso quisessem para que o desenvolvimento fosse mais ágil, mas nada que tenha atrapalhado o resultado final que é bem interessante para quem gosta desse estilo de pesquisa, e sendo assim acabo recomendando a trama para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando a programação do dia, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.
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