O cinema francês é daqueles que não consegue fazer uma coisa simples de atitudes sem ir muito a fundo, e quando resolvem entregar um melodrama familiar, eles conseguem permear situações reflexivas tão imponentes, aonde vemos toda as decisões que podem mudar uma vida familiar, as escolhas de acumular coisas ao invés de emoções, e até mesmo a dinâmica de problemas acabam ficando tensas e puxadas para um clima mais profundo, de modo que ao conferirmos "A Última Loucura de Claire Darling" acabamos quase que entrando em depressão junto da protagonista vivendo seus últimos momentos malucos, que acabaram funcionando, pois fez com que nessa loucura até aqueles que lhe abandonaram um dia voltassem ao menos para ver o que ela estava fazendo, e nesse misto de memórias e situações a trama acaba sendo envolvente, porém deveras cansativa.
O longa nos mostra que em Verderonne, uma pequena aldeia na região do Rio Oise, é o primeiro dia de verão e Claire Darling acorda convencida de que está vivendo seu último dia. Ela decide então esvaziar sua casa e se livrar de tudo, sem distinção. Seus objetos amados ecoam uma vida trágica e extravagante. Esta última loucura traz de volta Marie, sua filha, a quem ela não via há 20 anos.
A diretora e roteirista Julie Bertuccelli quis trabalhar algo envolvendo os laços familiares, os envolvimentos e lembranças de um passado, e com isso brincar com o temor da morte e das consequências das escolhas feitas lá trás, de modo que seu filme traz todo um simbolismo bem melódico e cheio de situações pautadas para comover e fazer com que o público reflita, porém ela abusou do clima calmo, entregou poucas cenas de impacto (apesar das que foram colocadas serem bem fortes), e com isso seu filme acaba não fluindo como algo agradável de ver num primeiro momento. Diria que o filme tem uma essência preparada para que toquem determinados tipos de pessoas, que vão refletir sobre os atos das protagonistas e de sua própria vida, e acabarão gostando mais do que a diretora propôs, porém quem não entrar na mesma vibe do filme acabará quase dormindo na sala, pois ela não dita nenhum ritmo mais cadenciado para chamar o público para a trama.
Quanto das atuações, Catherine Deneuve sempre consegue incorporar trejeitos e envolver o público para suas atuações, de modo que sabemos que a atriz está bem velha, mas não tanto como sua Claire que aparenta como um jovem ator diz no filme, pelo menos uns 80 anos, e seus olhares distantes, suas sínteses acabam fluindo de uma forma tão bem encaixada que acabamos seguindo seu ritmo, seus devaneios, suas lembranças, e o resultado envolve. Chiara Mastroianni (filha real de Catherine), entrega também uma Marie meia deslocada, que aparentemente se vê ao lado da mãe depois de tanto tempo e tantos problemas, que não se dá conta do que perdeu ou sente ali, de modo que vamos encontrando nos seus olhares também desespero pelo que está vendo, e isso é algo que ela talvez pudesse entregar com gestos, mas ao optar pelos olhares envolve mais, só diria que a atriz poderia ter fluido melhor em alguns atos, pois parecia estar tão em choque com tudo que a personagem ficou estranha. Quanto aos demais atores, todos procuraram entregar atitudes mais deslocadas com o momento do feirão de móveis se aproveitando dos preços malucos da idosa, outros mais amigos procuraram ajudar, mas de certa forma vemos todos meio que desencaixados com o ritmo da trama, quebrando o eixo em alguns atos como na cena dos livros, outros meio que passeando em cena, e tendo somente que destacar Laure Calamy como a amiga Martine, e o padre vivido por Johan Lensey, além claro das versões jovens das protagonistas, bem vividas por Alice Taglione como Claire e Colomba Geovani como Marie.
O visual da trama foi bem elaborado pela equipe de arte, que teve muito trabalho para conseguir todas as peças da casa (e não são poucas), e distribui-las de uma forma bem coerente que não ficasse poluída e ainda representasse todos os símbolos que a trama tinha para passar, de forma que o casarão ficou bem cheio, e o jardim recheado de peças imponentes antigas e bem trabalhadas para chamar a atenção, além claro de diversos pequenos elementos que representaram mais como o anel, os livros cheios de dinheiro antigo e claro os bonecos de corda com movimentos circenses, e claro, o relógio de elefante. A fotografia trabalhou com a escuridão bem tensa e poucos elementos destoando para dar leves destaques, isso até a cena final, aonde como prometido pelo circo tendo fogos bem representativos que acabaram soando até exagerados demais.
Enfim, é um filme que posso dizer bem cansativo, que para outros pode emocionar mais, e até envolver, mas que poderiam ter trabalhado melhor os símbolos, contado melhor as histórias, colocado um ritmo mais dinâmico e gostoso de acompanhar, e principalmente entregassem uma história mais forte, pois o longa tinha isso para mostrar, mas da forma que ficou só quem refletir muito sobre o que viu, e ao ver novamente conseguir transportar toda essa emoção para a sessão acabará gostando do filme. Sendo assim não recomendo o longa, pois fui um dos que quase dormiu com tudo o que foi passado na telona, mesmo com grandes atuações das protagonistas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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