Alguns filmes franceses costumam trabalhar situações bem incomuns, e isso é bacana de ver pois acabam fluindo de uma forma diferente da usual e o resultado costuma surpreender, porém com "Minha Lua de Mel Polonesa" ficou muito em cima do muro do que realmente deveria atacar, se iriam mexer realmente com as feridas do holocausto para com as famílias judias, ou se iria trabalhar a relação familiar da protagonista em busca das suas origens, e ainda em cima disso colocar um road-movie homogêneo por cidades polonesas. Ou seja, temos um filme leve, com uma pegada até que bonitinha, mas que por falta de atitudes mais ousadas acaba cansando e ficando meio que sem rumos, o que não é bom. Diria que ele até tem momentos divertidos pelas situações em si, e também consegue emocionar pela relação prevista mais para o fim, mas certamente se a diretora tivesse escolhido um dos lados logo de cara, o resultado funcionaria muito melhor.
O longa nos conta que Anna e Adam são dois franceses de origem judaica que têm um bebê recém-nascido. Quando o avô de Adam os convida para uma celebração no vilarejo onde mora, no interior da Polônia, cada um vê a oportunidade de viajar de uma maneira diferente. Enquanto ele não se empolga muito com a ideia, embora esteja feliz por retomar a vida de casal, ela quer aproveitar para conhecer melhor as raízes de sua própria família. O que parecia uma simples viagem se transforma em uma jornada de autoconhecimento e aceitação.
Estreando na direção e no roteiro, a atriz Élise Otzenberger até consegue estruturar sua história como uma busca emocional de conhecer a família da protagonista, meio como algo que ela talvez desejasse também, de ter um conhecimento maior sobre as famílias judias que fugiram da Polônia durante o holocausto e sintetizar isso em uma trama, porém tentar deixar um tema digamos pesado em uma comédia leve e chuvosa não é algo nada fácil de acontecer, e dessa forma o filme parece faltar pedaços ou uma pegada mais forte por parte da diretora, rumando para vértices simples e quase sem fechamentos. Ou seja, inicialmente somos praticamente jogados dentro do rumo familiar dos protagonistas, com algo acontecendo às pressas, e tudo fluindo para uma viagem (que quem não tiver lido a sinopse irá até achar que perdeu alguma parte do filme!), mas depois quando vamos entendendo cada uma das partes, o resultado vai soando aberto demais, e o fluxo de ideias ao mesmo tempo fechado para sintonias de tudo que o momento pode passar, de tal forma que ficamos a qualquer momento esperando algo mais chocante, ou então que eles nos vertessem realmente a algo cômico e forte, o que não acontece. E dessa forma o filme fica inteiro quase que rodando em círculos, sem nenhuma atitude mais contundente, e se alonga demais em cada ato, de tal forma que o filme que tem apenas 88 minutos, parece ter muito mais tempo de tela, ou seja, temos um filme bonito e interessante até de propostas, mas que cansa por não aprofundar nenhuma das ideias colocadas no longa, mostrando uma falha imensa da diretora em não saber encaixar algo mais impactante de vez.
Quanto das atuações, Judith Chemla chega a nos incomodar com os exageros que entrega com sua Anna, de modo que em determinada cena que seu marido dá um sermão nela no carro, nos vemos na personalidade dele para fazer exatamente daquela forma, e a atriz não se esforçou muito para conseguir símbolos em suas expressões, parecendo estar levemente perdida quanto ao que fazer, travando demais os olhares sem agradar como poderia. Arthur Igual já saiu um pouco melhor na trama com seu Adam, de modo que não foi tão chamativo em cena, mas pareceu mais descontraído com as situações, o que acaba fazendo com que sua personalidade deslanchasse mais, ainda que não seja nada impressionante também. Já Brigitte Roüan foi algo que resolveram jogar no longa com sua Irène, pois inicialmente seria algo apenas para ser falado e mencionado, mas já para as cenas finais resolveram utilizá-la mais, e isso foi algo desnecessário e que acabou desandando mesmo que entregasse algo emotivo na relação mãe/filha. Quanto aos demais, foram rápidas participações, e a maioria deve ainda estar se perguntando após assistir ao filme o que foram fazer lá, pois tudo acaba nem funcionando.
No conceito visual o longa até tem um bom funcionamento, afinal road-movies sempre acabam sendo interessantes de conferir para conhecer mais lugares, e aqui como o casal acaba visitando diversas locações, acabamos conhecendo a parte da cidade da Cracóvia aonde virou algo bem separado para judeus, que os protagonistas até apelidam com um nome bem carinhoso, vemos diversos cemitérios, e uma cidade que praticamente só chove, que inicialmente parece até ser algo falso por os protagonistas se molharem sempre com todo o frio, mas depois entendemos que faz parte o frio não ser tão sentido, e assim a trama deslancha melhor. Diria que a equipe de arte não precisou se preocupar tanto com a concepção da trama, deixando apenas que o filme fluísse pelas diversas paisagens e locações, e isso resultou em algo bem feito ao menos.
Enfim, é um longa que poderia ser melhor explorado pelo tema, mas que da forma que acabou sendo trabalhado nos deixa bem na dúvida do que desejavam nos passar, tendo raros momentos engraçadinhos, outros que envolvem um pouco, mas nenhum que falasse sozinho para o público qual era a verdadeira funcionalidade da trama, e dessa forma o resultado acaba não acontecendo. Sendo assim é um filme que não consigo recomendar, mas que certamente terá aqueles que irão se envolver por algo espalhado que não necessariamente seja da história completa do filme. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, afinal essa semana está bem recheada de estreias, então abraços e até logo mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...