Costumo dizer que continuações no Brasil são um perigo, pois costumam estragar algo de bom que fizeram e você gostou no original, mesmo que não seja adepto daquilo, e digo isso com um grande pesar, pois foi bacana conhecer a história de Edir Macedo no longa "Nada a Perder", mesmo com toda a paia marqueteira em cima de muita coisa para endeusarem o bispo, mas aí vir com "Nada a Perder 2", aonde tudo é montado para mostrar que foram vítimas de tudo e todos, montar cenas grandiosas, com uma trilha melódica alta que chega a quase sobrepor as vozes, exagerando sempre em clichês de vitimização, de tal maneira que analisando como filme até temos muita coisa boa (tirando os excessos de textos de jornais, momentos de documentários, entre outros relances que saem da ficção), mas é tanto exagero que chega um momento que ficamos nos perguntando se estamos vendo algo realmente biográfico ou se é algum tipo de propaganda panfletária, pois o diretor do longa se jogou completamente no que foi solicitado e esqueceu que estava fazendo um filme, e isso é uma pena, pois o que fez no primeiro filme, se seguisse aqui a mesma linha seria muito bom de ver. Portanto se você não for membro da Igreja Universal do Reino de Deus para ir conferir um pouco mais da vida do bispo, ou não for um dos que vai ganhar ingresso do pessoal que fica distribuindo por aí, não digo que vá valer perder seu tempo conferir a trama, pois a chance de reclamar é bem alta.
A sinopse nos conta que após deixar a prisão, em 1992, Edir Macedo (Petrônio Gontijo) atravessa uma série de provações: a conduta inapropriada de outros bispos da Igreja, o ataque de políticos e católicos, a doença de sua mãe, a tragédia do desabamento do teto de uma Igreja em São Paulo. Enquanto isso, fiéis começam a ser perseguidos nas ruas e as Igrejas correm o risco de fechar. Pressionado, ele decide subir o monte Sinai e visitar Jerusalém, onde tem uma ideia: construir o Templo de Salomão, réplica do local homônimo citado na Bíblia, localizado em São Paulo.
Já sabemos o porquê do diretor Alexandre Avancini ser o queridinho da Record, fazendo praticamente todas as novelas e filmes da emissora: não ter ideia própria e entregar basicamente o que lhe foi encomendado. E isso não é ruim, pois temos filmes que são de diretor, e tem aqueles que são de produtores, aonde o diretor é apenas contratado para fazer o que lhe impõem e nada de suas ideias são utilizadas, e aqui vemos bem esse estilo, pois diferente do primeiro longa que temos uma história de vida com uma panfletagem da igreja em segundo plano, aqui temos uma panfletagem colocada em primeiro plano máximo que quase não vemos uma história no segundo plano, e isso é algo muito ruim de ver num filme, afinal acaba sendo direcionado demais, e mesmo que a igreja tenha comprado quase que 90% dos ingressos disponíveis nos cinemas para marketing, o longa acaba sumindo do mapa facilmente, e isso não é bom para nenhuma produção. Ou seja, diria que Avancini ficou muito atrás da concepção desse filme, usando material demais do jornalismo, e brincando pouco com a ficção, de modo que vemos quase um documentário dramatizado, aonde temos alguma atuação, e certamente essa não era a ideia de nenhum diretor, mas quem sabe dos donos do filme apenas.
Quanto das atuações, diria que Petrônio Gontijo se entregou por demais no personagem de Edir, e com muita maquiagem conseguiu ficar muito semelhante em tudo, incorporando trejeitos, forma de andar e até modo de falar usando muito do que viu do material que lhe foi entregue, sendo quase perfeito no conceito de tudo. Por incrível que pareça, o filme deu frente praticamente só para o protagonista, de modo que os demais aparecem tão pouco na trama que quase nem vemos suas atuações, tendo leves destaques para Cesar Mello como Paulo, o braço direito do bispo aparecendo sempre ao seu lado para trazer as notícias ruins rapidamente, bons olhares também foram entregues por Day Mesquita como a esposa Ester, alguns semblantes tristes por parte da mãe vivida por Beth Goulart, e claro os ares imponentes e revoltosos dos personagens de Eduardo Galvão e Dalton Vigh como membro da igreja católica e do governo, ou seja, todos apareceram rapidamente para dar seu recado, mas nenhum chamou atenção.
A equipe de arte teve tudo em mãos para fazer um filme grandioso, passaram por mais de 120 locações, foram para outros países, e encontraram bons momentos para refazer na telona, de modo que vemos um trabalho coeso de pesquisa para que tudo ficasse detalhado em minúcias (claro que usando da versão do protagonista), e sem economizar em nada foram efetivos no que fizeram, claro que exagerando bastante, pois não posso afirmar que o céu do Egito possui tantas estrelas como mostrado no filme, muito menos que filmaram em São Paulo com tanta chuva, pois a cada nova cena tinha chuva, ou seja, poderiam ter sido mais singelos que o efeito seria o mesmo.
Quanto da parte sonora, assim como ocorre na maioria dos longas religiosos, abusaram de trilhas de efeito para fazer o público se emocionar, passar sentimentalismo e até tentar manter o ritmo calmo da trama, de modo que chega a ser cansativo, além de em diversos momentos exageradamente alta até quase sobrepondo as vozes, ou seja, podiam ter economizado nesse sentido também.
Enfim, volto a frisar que o primeiro longa foi bem bacana de conferir, mas esse somente o público fiel da igreja do bispo Edir Macedo conseguirá gostar de algo do longa, e mesmo que a cena emocionante da inauguração da igreja na África seja cativante, o filme derrapa demais em exageros que não tem como ficar feliz com o que verá na telona sem ser devoto. Ou seja, só recomendo ele para quem irá ganhar ingresso na igreja, e nada mais, mesmo que o filme não seja ruim, pois como analiso sempre a parte da produção, nesse quesito o longa é bem feito, mas nada além disso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
PS: Acho que estou sendo até bonzinho demais na nota, mas como a parte da produção do longa foi bem interessante de ser vista, e a interpretação do protagonista ficou bacana, valeu a tentativa ao menos.
3 comentários:
O Fernando. Vc ainda gastou seu tempo e dinheiro para comentar esse filme encomendado pela igreja Universal? É igual o filme do Lula. Só pra iludir as pessoas. O do lula ainda com dinheiro público.
Olá meu amigo!! Como já disse outras vezes, crítico de cinema que escolhe o que assistir não pode opinar o que é bom ou ruim, pois só viu o que escolheu dentro de tudo o que é passado nos cinemas, então eu encaro tudo o que vier na raça, e depois falo bem ou mal e consigo ter parâmetros para elencar se algo é realmente ruim depois de algumas bombas!! Abraços!!
Pensei mesmo que vc só foi pelo fato de fazer crítica de todos filmes em lançamento. Mas é dureza. É difícil um filme encomendado, que não retrata a verdade, ter uma boa avaliação. A sua nota neste filme só confirma isso. Abraço. Mas uma vez parabéns pelas excelentes críticas: imparciais, sendo considerando o que o filme propõe e o público a que é dirigido.
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