É interessante que o mercado cinematográfico anda quase que no mesmo fluxo de temas que os jornais, e com os grandes conflitos mundiais com extremistas islâmicos tem aparecido tantos filmes falando de jovens que entram para o mundo da guerra, seus vértices, motivações, conflitos, e tudo mais, e com "Adeus à Noite" ficamos envolvidos com o drama de uma avó (que digamos poderia ser mais emotiva com seu neto em conceitos expressivos ao menos) que não sabe o que fazer para tentar salvar seu neto de embarcar nessa vida, e também vemos o outro lado com o romance do jovem e seus anseios nesse meio que é a vida de alguém que defende o profeta islâmico e suas leis. Não diria que é um filme que tenha uma cadência gostosa de ser conferida, tanto que ele se alonga de uma forma não muito condizente que faz parecer até ser maior do que apenas 103 minutos, e com isso o resultado embora seja fluido, com um final bacana de se ver ao menos (pois jurava que não teria um fim!) não entrega uma perspectiva mais direcionada para nenhum dos rumos, seja ele pró-islã ou pró-França (colocando em discussão até a forma de votação). Ou seja, um filme que merecia uma refinada melhor para chamar mais atenção de todos os pontos colocados nas entrelinhas, que até envolve, porém, não agrada como poderia.
A sinopse nos conta que Muriel é uma mulher idosa que viveu na Argélia durante muitos anos, e hoje comanda uma fazenda na França, onde diversos jovens de talento são treinados para a equitação. Ela possui um carinho especial pelo neto Alex, com quem não se encontra há anos. Quando o neto enfim decide visitá-la, Muriel se surpreende ao descobrir que ele se converteu ao islamismo, e possui ideias bastante radicais. Suspeitando que Alex esteja por trás de algum plano criminoso, ela precisa decidir entre proteger o neto da perseguição da polícia ou proteger o resto da sociedade das possíveis ações do jovem.
O diretor André Téchiné até trabalhou com um envolvimento bem desenvolvido para que seu filme tivesse algo a mais, colocando bons momentos e situações fortes para serem desenvolvidos como o islamismo, a discussão política dos refugiados, o envolvimento familiar seco, e até o ar mais imponente da elite com a equitação como pano de fundo em uma grande lavoura de cerejas, e dentro desse âmbito colocou pontos soltos para criar elementos simbólicos como um javali a noite, discussões na chuva, a tecnologia versus o campo, a economia, e muito mais, mas com tantos temas e símbolos ele acabou não desenvolvendo bem nenhum deles, e isso é algo muito ruim de acontecer, pois ficamos a todo momento esperando algo mais forte (do que o que já era esperado nas duas cenas finais) e acaba que não acontece. Ou seja, o diretor poderia ter pego um roteiro cheio de situações floreadas e criar algo muito maior e mais dinâmico, mas acaba entregando o básico, que nesse estilo de filme não funciona ser básico.
Quanto das atuações, já gostei muito de ver o trabalho de Catherine Deneuve no passado, mas acredito que está faltando mais expressividade nos seus últimos trabalhos, de modo que colocar ela como protagonista não está sendo um grande acerto dos diretores, e aqui sua Muriel é bem simples, não entrega muito do passado nem do presente, e faz cada ato com simplicidade demais sem empolgar em nada, tirando claro os momentos finais mais fortes, e isso acabou amarrando um pouco o filme, de modo que talvez uma atriz com mais atitude chamaria o filme para si e agradaria bem mais. Kacey Mottet Klein fez bem seu Alex, divagando bem entre os momentos que demonstrava um pouco de medo do que estava fazendo, mas também acreditando muito na religião, e isso fez com que seu personagem tivesse algo a mais para nos interessarmos por ele, e isso é bacana de ver, mas ainda assim poderia ter ido mais a fundo nos seus atos. A jovem Oulaya Amamra trouxe algo meio que enigmático para sua Lila, que ficamos curiosos pelo que pode fazer com seu envolvimento no lar de idosos, com o padrasto estranho, e até mesmo com seus atos religiosos, mas sempre em segundo plano no filme acaba que não se entrega para agradar. Um personagem que apareceu em momentos chaves ao final e merecia um pouco mais de atenção foi Kamel Labroudi com seu Fouad, pois o ator mostrou ensejo para as situações e conseguiu expressar algo a mais do que a trama pedia, mas não foi muito além, o que é uma pena, afinal todo esse movimento de refugiados daria para trabalhar bem com ele.
No conceito artístico, a equipe de arte encontrou um haras muito bem localizado no meio de uma plantação maravilhosa de cerejas, que tanto na época de apenas flores (primavera) quanto ao final que já mostram os pés carregados de frutos (com um mote da famosa frase de quem planta o bem, colhe algo bom!) acabou dando um visual muito bem agradável, e nas cenas mais tensas a trama trabalhou muito com tons marrons como o estábulo e um lago sujo para dar uma representatividade das atitudes não tão boas também o que sou interessante pela perspectiva que tentaram trabalhar. Ou seja, a equipe de arte incluiu muitos símbolos subliminares na trama e com muitos outros objetos como uma carta, alguns cheques, a casa de repouso, a ideia do jogo para ganhar dinheiro, e tudo mais que acaba sendo bem encaixado e que pode ser usado para muita discussão.
Enfim, é um longa que traz muito mais conteúdo do que apresenta realmente na tela, mas que não flui bem como deveria, e sendo assim é daqueles que acabamos saindo da sessão com aquela famosa dúvida de se gostamos realmente, ou se vamos esquecer dele logo no dia seguinte. Ou seja, talvez seja melhor ver ele em grupo para ter mais discussões do que apenas conferir o longa como um filme qualquer, pois não dá para recomendar ele como algo imprescindível. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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