Chega a ser engraçado você ir ao cinema esperando ver uma coisa, ver outra e ainda assim sair feliz da sessão, e é bem isso o que acaba acontecendo quando vemos "Hebe - A Estrela do Brasil", pois conheci a história da artista já na época em que dominava o SBT, que tinha o carisma de respeito no alto, aonde tudo e todos queriam participar de seu programa, porém não conhecia todas as polêmicas que envolveram sua saída da Band, seus problemas com a censura e até mesmo o drama familiar que teve com o segundo marido nos meados dos anos 80, e embora tenham feito um filme intrigante, bem montado e cheio de personalidade, ainda acho que criaram uma personagem meio que fora do estilo de Hebe, que até pode ser que tenha sido assim nessa época, mas tudo soou exagerado e forçado demais. Ou seja, não digo que seja um filme ruim, que tenha um estilo de homenagem bacana de ser visto, mas que certamente poderiam ter seguido um pouco mais a biografia dela na época áurea que certamente daria um filme bem polêmico também, porém menos forçado do que o feito para tentar trabalhar temas que ainda são causadores atualmente.
O longa nos mostra que Hebe Camargo se consagrou como uma das apresentadoras mais emblemáticas da televisão brasileira. Sua carreira passou por diversas mudanças ao longo dos anos, mas foi durante a década de 80, no período de transição da ditadura para a democracia, que Hebe, aos 60 anos, tomou uma decisão importante. A apresentadora passou a controlar a própria carreira e, independentemente das críticas machistas, do marido ciumento e dos chefes poderosos, se revelou para o público como uma mulher extraordinária, capaz de superar qualquer crise pessoal ou profissional.
O diretor Mauricio Farias felizmente não fez do longa uma novela, afinal sua maior experiência é nesse modelo, e aqui soube ser criativo em trabalhar a imagem de Hebe como uma grande mulher, com uma opinião forte e que não levava desaforo para casa, e com isso em mente ele fantasiou o restante para criar mais perspectiva mais cheia de detalhes e situações, que nem na biografia, nem o próprio filho de Hebe conseguiu enxergar na comunicadora vivida por Andréa Beltrão, ou seja, temos um filme interessante que mantem uma essência bem colocada e que envolve de certa forma para conhecermos alguns dos problemas do passado que ainda permanecem bem fortes (como o preconceito com gays, os hospitais abarrotados de gente pelos corredores, os políticos corruptos, entre outros detalhes que o longa mostra) mas que certamente se desenvolvessem algo mais rápido que mostrasse a infância da artista, esse período no miolo da trama, e fechando com o sucesso no SBT até sua morte, certamente seria um longa muito mais proveitoso e emocionante. Ou seja, o diretor quis brincar mais com a situação em si dos problemas e tudo mais, e mostrar menos da personalidade imponente de Hebe, e isso vai deixar alguns fãs bravos e outros nem ligarão, pois o resultado em si acaba sendo funcional ao menos.
Sabemos bem do potencial de Andréa Beltrão, mas acredito que não entregou nem metade do carisma que Hebe tinha com o que fez na tela, mostrando sim os luxos, personalidade forte, e até mesmo algumas emoções bem vividas pela comunicadora, mas faltou aquela paixão que víamos em seu olhar de estar fazendo o que gosta, seu estilo de apresentar, e até mesmo parecer um pouco mais com a artista, pois em momento algum consegui enxergar Andréa fazendo Hebe, e sim Andréa fazendo uma mulher forte de personalidade, mas nada além disso. Quanto aos demais tivemos bons trejeitos por parte de Marco Ricca como Lélio Ravagnani, impondo um homem que bebia muito e tinha um ciúme fora do normal, o que para alguém que era casado com uma grande pessoa da mídia é algo que não funciona, e ele entregou olhares fortes, mas sendo praticamente iguais a todos os personagens que costuma fazer em novelas, ou seja, faltou mudar um pouco para incorporar melhor o personagem. Caio Horowicz até que entregou um Marcelo carinhoso e bem colocado junto da mãe, mas não teve muito desenvolvimento do personagem de modo que talvez faltasse um pouco mais de elo no roteiro para funcionar. O mesmo podemos dizer de Danton Mello como Claudio, que aparece meio como um empresário da artista, mas não se determina uma relação em momento algum mais prática, sendo gostoso de ver o personagem agir pelo carisma que o ator deu para o personagem (coisa rara de ver), mas que poderia ter ido muito além. Do restante a maioria fez participações bem boas, alguns com um pouco mais de fala que outros, mas nenhum chamando a atenção para si, de modo que o filme os coloca como vilões ou amigos da protagonista, indo por diversos meios encaixar cada ato, mas sem destaques.
No conceito visual acredito que filmaram na casa que foi da artista para ter tantos detalhes, mas se não foi posso dizer com certeza que a equipe de arte trabalhou muito bem na criação dos ambientes tanto ali quanto na formação dos estúdios de gravação, que ficaram bem interessantes de ver visualmente, e que juntamente com a equipe de figurino incorporaram todo o luxo que era comum de ver Hebe usando e ousando, ou seja, um filme visualmente rico de detalhes que faz com que o público que não a conheceu veja bem e se divirta com tudo.
Enfim, é um filme que ao mesmo tempo que serve como homenagem para a comunicadora, também falha por ir por um vértice meio que fora do que muitos conheceram dela, afinal o diretor ficou no meio do caminho entre entregar uma personificação mais realista ou mostrar que o Brasil está ainda nos mesmos moldes dos anos 80 com praticamente os mesmos problemas com as pessoas e com a mídia em si. Ou seja, é daqueles longas que dá para curtir, dá para polemizar e principalmente vale a conferida por não ficar novelesco demais, e assim sendo é gostoso de ver e recomendo a conferida, mesmo esperando muito mais do longa. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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