Se você for conferir o novo "It - Capítulo 2" esperando muitos sustos e cenas tensas como no primeiro filme, talvez você saia um pouco decepcionado após as duas horas e quarenta e nove minutos de projeção! Mas de forma alguma é um filme ruim, muito pelo contrário, trabalhando de forma mais fantasiosa, tentando contar mais histórias dos personagens principais e claro da alegoria da Coisa, o filme acaba deslanchando bastante durante todo o tempo que ficamos na poltrona, de forma que vamos quase que ficando íntimos de cada um dos ótimos personagens, que trabalham seus medos, suas desenvolturas de vida, e principalmente suas emoções, de tal maneira que ao final já estamos emocionados com as mortes, tensos de algumas cenas bem fortes, e de certa forma felizes com o encerramento da franquia, que poderia ter sido moldada de inúmeras maneiras, mas que optou por essa (que é razoavelmente diferente do livro pelo que muitos estão falando por aí!). Ou seja, é um filme com muitas nuances, diversos momentos bem colocados, e que vai agradar quem for sem muitas expectativas, pois do contrário é capaz que alguns saiam da sessão bem tristes de não terem pulado nem gritado durante a exibição.
O longa nos conta que vinte e sete anos depois do Clube dos Otários derrotar Pennywise, ele volta a aterrorizar a cidade de Derry mais uma vez. Agora adultos, os Otários há muito tempo seguiram caminhos separados. No entanto, as crianças estão desaparecendo novamente, então Mike, o único do grupo a permanecer em sua cidade natal, chama os outros de volta para casa. Traumatizados pelas experiências de seu passado, eles devem dominar seus medos mais profundos para destruir Pennywise de uma vez por todas... colocando-se diretamente no caminho do palhaço, que se tornou mais mortal do que nunca.
O diretor Andy Muschietti foi bem certeiro no que desejava fazer, saindo quase que 100% do terror de sustos e indo para o vértice mais trabalhado com várias histórias para contar, de modo que quem for conferir o longa irá conhecer mais sobre a mitologia da Coisa, conhecer um pouco mais do palhaço Pennywise, e principalmente saber tudo e mais um pouco da vida de cada um dos protagonistas, seja agora como adultos vivendo suas vidas comuns longe da cidade de Derry, ou o que acabou acontecendo logo após o fechamento do primeiro longa (inclusive mostrando algumas das várias cenas gravadas e não utilizadas no primeiro filme, que acabaram saindo na internet logo após o lançamento!), ou seja, temos um filme que acaba sendo bem longo realmente, mas que usa desse artifício temporal para aproveitar tudo o que poderia usar, de tal maneira que até diversos atos poderiam ser cortados que não fariam muita falta de um modo geral, mas que sendo exibidos deram um ganho visual bem bacana para a trama, e que ao final toda a fantasia juntamente com a emoção de intimidade que acabamos criando com os personagens passa a nos envolver para um resultado maior. Ou seja, o diretor foi sábio em não querer entregar um longa de terror tradicional, desenvolvendo o roteiro de Gary Dauberman ao máximo para que a história de Stephen King (que faz sua primeira participação como ator em um longa metragem, aqui como o dono de uma loja de antiguidades!) fosse bem contada, e agradasse com um conteúdo maior com a busca dos protagonistas em curar seus traumas do passado, e quem for esperando ver isso na telona certamente sairá bem feliz.
Quanto das atuações diria que foram muito coerentes nas escolhas de todos para que as versões adultas não só parecessem as crianças, mas que soubessem passar a essência que cada um tinha, e dessa forma, todos deram show no estilo que fizeram de forma representativa algo muito bom para cada um de seus momentos. Jessica Chastain vivenciou os diversos medos sexuais que a jovem Sophia Lillis trabalhou com sua Beverly, de modo que vemos em ambos os olhares sentimentos, expressões e muita força de espírito, o que agrada demais. O homem de mil faces James McAvoy encontrou mais uma vez ótimas entonações na sua voz para que ficasse gago com a mesma perfeição de Jaeden Martell, de tal maneira que acabamos sofrendo com seus atos e acreditando demais nos medos de seu Bill. O comediante Bill Hader entregou a comicidade como uma válvula de escape para todos os segredos que Finn Wolfhard guardou de seu Richie, que aliás o longa trabalhou muito o tema desde a primeira cena até o final. James Ransone entregou para seu Eddie todas as mesmas características desesperadas de doenças que o ótimo Jack Dylan Grazer fez com o personagem pequeno, trabalhando ambos com olhares de asco e nojo com uma facilidade que realmente pareciam ser a mesma pessoa. O que mais mudou visualmente foi o carismático Ben, que quando jovem era o gordinho interpretado por Jeremy Ray Taylor e que agora na versão adulta voltou como o galã Jay Ryan, mas em essência víamos os mesmos olhares apaixonados por Bev, e todo o ensejo de vontade de fazer acontecer, o que agradou demais em ambos. Isaiah Mustafa entregou uma participação maior para seu Mike, que por ser o único que não saiu da cidade, acabaram dando mais textos e dinâmicas que quando o jovem Chosen Jacobs fez, mas ainda assim o jovem nas aparições foi bem usado. Andy Bean apareceu bem pouco com seu Stanley, de modo que acabaram usando também pouco o jovem Wyatt Oleff (inclusive usando uma cena sua já gravada no primeiro filme), mas souberam usar um recurso incrível seu, que comoveu da mesma maneira que a cena não usada do primeiro filme. E claro, não podíamos ficar sem falar de Bill Skarsgård, que voltou com um Pennywise ainda mais cheio de desenvoltura, aparecendo até sem a maquiagem pesada, e que pelas entrevistas já até assumiu para si esse sorriso forte do palhaço, ou seja, irá ficar marcado pela boa atuação que fez. Quanto aos demais, tivemos umas participações bem estranhas com alguns bons momentos de Teach Grant como Bowers que junto de um zumbi praticamente sai as ruas, tivemos uma velhinha muito doida vivida por Joan Gregson, e muitos outros que foram bem em seus devidos momentos, mas nada de grandes destaques.
Visualmente o longa tem cenas bem elaboradas, com muito sangue, muitos elementos bizarros em movimento, cheios de locações interessantes para que cada cena de tensão fosse bem desenvolvida, e claro muitas mortes fortes visualmente sendo mostradas, de modo que o filme ganha um contexto bem cheio de detalhes que o primeiro até teve acontecendo, mas que aqui tudo é aumentado, e até mesmo o grande momento final que lá vimos como uma luz e coisas/pessoas flutuando, aqui vamos para algo mais conceitual e envolvente, ou seja, a equipe de arte quis valorizar muito o seu serviço e conseguiu, pois com mais tempo de tela puderam aproveitar mais cada cenário. A fotografia usou muitos tons escuros, várias cenas puxando para um verde musgo, e claro também muitas cenas com o vermelho sangue, mas não quiseram forçar tanto a tensão, deixando sempre num tom mais médio, o que é interessante de ver em um longa de terror.
Enfim, gostei muito do que vi, embora também estivesse esperando algo mais tenso e com mais sustos (não de minha parte, mas do público em si, que no primeiro filme pulava a cada aparição do palhaço), mas que por entregar um filme de fantasia, aonde o protagonista são os medos e traumas da infância, juntamente com um palhaço assassino, e não fadas, bruxas, entre outros entes comuns do estilo, acaba agradando bastante quem gostar desse vértice. Ou seja, recomendo o filme principalmente para esse público, pois quem for esperando um filme de sustos e tensões certamente irá se desapontar, mas quem for esperando história sairá muito feliz com o resultado final. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje agradecendo a rádio Difusora FM pela ótima pré-estreia que até contou com um Pennywise muito perfeito, que assistiu o longa ao meu lado dando as tradicionais risadas do personagem durante o longa todo, ou seja, foi bom demais. Então abraços e até logo mais.
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