É interessante pararmos para pensar sobre os efeitos do álcool, pois geralmente costuma trazer mais problemas para as pessoas ao nosso redor do que sequer imaginamos, e tentar resolver esse problema antes mesmo de perder tudo é o que o filme "Marés" tenta trabalhar, chego até a brincar com o fato duplo da linguagem que coloca a maré de sorte, ou a maré de festas se contrapondo com a maré ruim da perda da família, da carta de habilitação, entre outras mais que podem ocorrer e o longa transmite bem com cenas didáticas entre si, e com um desenrolar até bem convincente de estilos. Ou seja, o filme não apenas entrega os atos em si, mas mistura até mais dentro de uma proposta coerente e cheia de atitudes, brincando com coisa séria, e entregando o filme com um vértice aberto envolvendo bebidas, drogas, artes, política e muito mais, que funciona, mas que certamente poderia ter ido muito além, afinal ritmo bem cadenciado tinha para abranger tudo, era apenas questão de não se apressar.
O longa nos conta que Valdo é um fotógrafo muito talentoso que está se separando de esposa, Clara, com quem tem uma filha de três anos. Depois de anos negligenciando o alcoolismo em sua vida, ele se vê em uma situação muito arriscada e percebe que dar continuidade a essa condição significa perder a guarda da filha que tanto ama.
Como é de praxe dos longas que vem no Projeta as Sete, o diretor e roteirista estreante João Paulo Procópio mostra com uma abertura bem moldada para trabalhar não apenas a personalidade do protagonista com seu problema com bebidas, bem como trabalhar a arte com uma visão marginalizada, aonde vemos o estilo do personagem principal, vemos suas convicções, sua falta de enfrentamento com ele mesmo, e principalmente vamos na síndrome do amanhã eu paro, só hoje, isso não vai me derrubar, mas que no decorrer vemos que qualquer motivo vira um estorvo e o recomeço de todos os problemas voltam a atacar. Ou seja, o diretor soube utilizar bem seu tempo de tela, trabalhou bem as atuações, e principalmente deu efeito para o tema, mesmo que usando alguns atos até que levemente forçados para segurar seu estilo.
Sobre as atuações diria que Lourinelson Vladmir conseguiu captar toda a essência do roteiro e se entregar completamente para todos os atos que seu Valdo necessitava fazer algo mais elucidativo ou com ênfases mais fortes, e dessa forma ele acaba mostrando uma personalidade bem colocada, consegue chamar a atenção, e principalmente consegue dominar o filme, fazendo os atos inconsequentes terem força, mas também trabalhar seus desesperos de uma forma coerente e bem feita, ou seja, um ator que não conhecia, mas que vale a pena ficar de olho. Quanto aos demais, ou melhor as demais já que a maioria é feminina ao redor do protagonista, tendo até alguns amigos, mas nada que chamassem atenção, diria que todas foram simples demais perto de tudo o que o roteiro permitia, de modo que até Julieta Zarza recai para trejeitos fáceis com sua Clara, e com isso não consegue fluir muito mais do que poderia, deixando com que o protagonista tivesse quase um longa solo.
No conceito visual da trama, tivemos bons elementos moldados dentro da casa do protagonista, para mostrar a desenvoltura do fotógrafo, tendo até uma exposição sua na própria casa já que não consegue entrar em museus, mostra suas loucas festas regadas a bebidas e a sexo, e claro mostra os diversos problemas do protagonista com muita bebida ao redor dele, de modo que vemos cada ato bem marcado pelas situações, e o resultado funciona, porém nada é grandioso de essência visual, deixando que a trama funcionasse muito mais pelo roteiro e pela atuação do protagonista do que pelos símbolos presentes no visual do longa.
Enfim, é um filme simples, mas muito bem desenvolvido, que agrada por mostrar um resultado efetivo em cima do que se propôs, e resulta em algo que muitos até vão achar como algo cult ou propenso à desenvolturas não muito formadas, com alguns excessos e tudo mais, mas que passa bem a mensagem. Sendo assim, recomendo o filme, e torço para o diretor se manter dessa forma, pois se agradou no primeiro trabalho, a chance de fazer bons filmes é alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
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