Diria que souberam aproveitar ao máximo tudo o que já foi feito dos longas sobre a vida de Cristo e colocaram um pouco a mais de algumas passagens no longa nacional, "O Filho do Homem", e isso é bacana para podermos ver que não só de grandiosas produções saíram filmes do estilo, e que muitos até já viram passagens gloriosas da história no teatro a céu aberto como acontece geralmente na semana santa, mas além de pegarem essa proposta e trabalharem bem num formato de cinema, o que o filme consegue mostrar é uma sintonia entre os personagens bem colocada, que mesmo a história sendo praticamente uma leitura bíblica (sim, você ouvirá atores falando exatamente como você ouvia nas leituras da missa, com todas as letras e pontuações, quase como uma leitura mesmo!), o resultado acaba agradando pela produção em si, que não teve medo de errar, e trabalhou cada elo como deveria ser contado. Ou seja, não é um filme que vamos sair impressionados pela essência entregue, que provavelmente deverá atingir até mais quem for religioso, mas ao vermos um trabalho nacional tão bem feito, iremos notar o quanto o nosso cinema tem crescido ao ponto de sairmos da sessão pensando que foram até dublados os personagens com uma produção estrangeira, e não é 100% nacional, e muito bem construído, apenas não inovando tanto, ou talvez errando na data de lançamento, pois certamente na semana santa os cinemas lotariam para ver a produção.
Nem precisaria colocar a sinopse, afinal praticamente todo mundo conhece a história de quando Maria (Júlia Cotta) recebe a visita do Anjo Gabriel, que traz a mensagem de sua gravidez do Espírito Santo. Mesmo relutante, José casa-se com ela e assume a criança para criar como sua. Em um humilde estábulo de Belém, nasce Jesus (Allan Ralph), que passa os próximos 33 anos pregando, até ser perseguido pelas autoridades do Império Romano que dominam a Judéia e ser condenado à cruz.
Volto a frisar que a história não é nada nova, e praticamente todos os atos já foram encenados em diversos outros filmes, mas na estreia do diretor Alexandre Machafer em longas-metragens ele optou por trabalhar inicialmente toda a parte da concepção de Maria, que poucas vezes foi mostrada em longas do estilo, e depois já ir para coisas mais casuais como a Santa Ceia, a traição, o julgamento, a crucificação e a ressurreição, de modo que vamos acompanhando os atos bem separados quase como capítulos bíblicos realmente com leves paradas para reflexão interior. Mas aí vem a pergunta, por que refazer essa história? E é fácil saber isso, pois é uma trama que vemos interpretada praticamente todos os anos por diferentes atores, com diferentes estilos de direção, e ele resolveu entregar o seu, que foi muito bem produzido e resultou em um trabalho de nível internacional até, só pecando em leves exageros de alguns atores, e com a finalização exagerada no sotaque carioca do garotinho completamente desnecessária, mas de resto podemos parabenizar o diretor pelo sucesso que fez o filme, e quem sabe ele relançando em uma outra data (no Natal ou na Páscoa) certamente terá muita bilheteria.
Não vou ficar falando muito das atuações, pois o longa possui personagens demais, e todos praticamente possuem alguma participação efetiva bem colocada, e dessa forma posso dizer que se envolveram, fizeram olhares bem colocados, e interpretaram bem seus textos de maneira expressiva, claro que como disse entoando algo quase que como uma leitura bíblica, mas isso veio do roteiro então o resultado é dessa forma. Agora como destaque é claro que temos Allan Ralph como Jesus, de uma maneira bem serena e com uma desenvoltura forte para com o personagem que tanto já vimos ser interpretado por diversos atores, e ele soube ser bem centrado, o que agrada bastante. Outro que foi muito bem principalmente pelo jeito de se portar foi André Rayol Jorge como Pilatos, colocando bem o estilo romano que tanto vemos em outros filmes, e que de uma maneira imponente acabou chamando muita atenção. Sidney Guedes apareceu muito como Zamir, e o personagem não é daqueles que tanto ouvimos falar nos outros longas, e aqui apareceu quase mais que o protagonista, e o ator pareceu engessado demais para o papel.
Agora um dos pontos altos do longa ficou a cargo da equipe de arte, que conseguiu gravar tudo em locações físicas do Rio de Janeiro, de modo que tudo ficasse parecendo realmente os lugares por onde Jesus pisou, e o resultado ficou incrível, num nível profissional muito bom, que juntamente de bons figurinos acabamos vendo a trama com um envolvimento bem simples, mas com tamanha ampliação cênica que parecemos ver um longa de orçamento gigantesco, o que não é o caso. A fotografia trabalhou muito com cenas escuras, e muitas velas, o que deu um ar meio alaranjado para a trama, mas isso deu um ar de tensão bonito de ver, e o resultado agrada bastante.
No conceito musical, como é de praxe em longas religiosos, exageraram um pouco na trilha de fundo, abusando de elementos para tentar emocionar, e não digo que seja errado, mas poderiam forçar um pouco menos.
Enfim, é um longa simples, que entrega basicamente uma história que já vimos diversas outras vezes, mas com uma pegada um pouco diferente da usual por mostrar alguns momentos a mais, e que quem for religioso certamente irá gostar do que verá na telona. Diria que passa bem longe da perfeição pelo roteiro rebuscado demais que parece estar sendo lido de uma Bíblia, mas no conceito de produção agrada demais, e dessa forma acabo recomendando ele. Bem é isso pessoal, encerro aqui as estreias dessa semana, mas amanhã mesmo já começo a próxima com uma pré-estreia, então abraços e até logo mais.
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