Chega ser até difícil falar de um documentário que trata de um tema tão abrangente como o perdão, mas que não se leva a sério na construção da trama, brincando com uma ficção bagunçada para mostrar que os bandidos e mocinhos de um faroeste não deveriam se matar, nem brigar, nem trair, nem enforcar, muito menos ter ideologias sociais, trabalhando isso com situações reais aonde pessoas, famílias e países sofreram atos violentos de alguma forma, e ao invés de desejarem o mal perdoaram os culpados para que sua vida seguisse em frente de uma forma melhor. Ou seja, "O Maior Presente" é um filme religioso, já que usa muito das palavras católicas envolvendo o perdão de Deus e tudo mais, mas que brinca muito com toda a dinâmica, e embora force com histórias prontas, a trama tem uma essência bacana de acompanhar (principalmente após o primeiro trecho que é meio arrastado demais!), que faz com que quem goste do estilo documental até se incomode um pouco com os exageros da parte fictícia, mas que de certa forma entrega o que se propôs que era mostrar os diversos tipos de perdão que já foram feitos nos últimos anos.
O longa nos mostra que no set de filmagem de um faroeste, todos estão prontos para gravar a última sequência do filme. Porém, em um piscar de olhos, o diretor muda de ideia e decide alterar o clássico final feliz, tendo em mente que vingança na verdade não traz felicidade ou solução alguma. Ele passa então a viajar pelo mundo a cavalo em busca de uma finalização melhor para guerras e conflitos.
Diria que o diretor Juan Manoel Cotelo é daqueles malucos que sabem o que querem fazer, mas que para isso gostam de experimentar possibilidades diferentes e estranhas em seus longas, e algumas vezes isso dá certo, em outras beira o absurdo. E aqui, a parte documental da trama é envolvente, emociona pelos atos, e até chega a ser forte por mostrar algumas pessoas junto dos assassinos de seus filhos, e parentes falando super de boa (tudo bem que acredito no perdão e tudo mais, mas não consigo ver a felicidade deles falando e convivendo juntos como é mostrado no filme!), em outros casos vemos situações mais normais e usuais de acontecer como o caso da garota que perdeu as pernas, do marido abandonado, entre outros, e a trama funciona bem nesse conceito, porém forçar a comicidade estranha na parte ficcional acabou quase desandando completamente o filme, e isso não é algo bom de ver. Ou seja, temos um documentário emocionante, forte e preciso de situações, mas que brinca demais com um viés forçado que não agrega praticamente nada para a trama, e assim sendo o resultado fica bem no meio do caminho também.
Não costumo falar muito sobre a essência dos documentários, pois acredito que uma trama bem contada funciona bem em qualquer estilo, e aqui vemos de uma forma até que bem envolvente os diversos entrevistados contando bem suas histórias sobre os diferentes tipos de perdão que são introduzidos no mote de acordo com a forma de vingança contrária que os personagens fictícios se propõem a fazer, e isso até é inteligente por parte do diretor/roteirista para não precisar ser explicativo com textos ou narrações, só poderia ter trabalhado melhor os personagens, e não ter jogado tanto para o eixo cômico, que aí sim, cada momento emocionaria muito e funcionaria perfeitamente dentro da proposta. Ou seja, temos um bom documentário sobre pessoas que perdoaram seus agressores, suas traições, os assassinos da sua família, que funciona bem dentro do formato escolhido, mas que passa longe de uma obra-prima do estilo, que até emocionará alguns com tudo o que é mostrado, mas que o diretor poderia ter pesquisado mais, ter desenvolvido mais as cenas, e aí certamente o resultado seria outro.
Enfim, é um filme que tem um estilo, que passa a mensagem, mas que falta muito para funcionar como deveria, pois inicia com um ritmo completamente fora do usual, cansa com as propostas bobinhas da parte fictícia, e ao exagerar na quantidade de temas diferentes de perdão acaba soando até repetitivo em muitos atos, ou seja, certamente vai tocar alguns e esses até dirão que o filme é perfeito, mas a maioria se irritará mais do que gostará do que verá na tela. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.
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