Confesso que quando vi o trailer de "A Tabacaria" com a aparição do personagem de Freud e toda a iminência do nazismo, imaginei um filme mais forte, com uma pegada cultural imponente e um desenvolvimento mais pautado na situação toda que envolveria todos os personagens, mas a trama acabou quase recaindo tanto para o lado da psicanálise dos medos e dos amores que num ritmo tão lento o resultado acaba não empolgando, não dando eixos, e em determinado momento até chegamos a cansar com tudo o que o filme permeia, ou seja, é uma trama de retrato bem montada, que conseguimos ver o nazismo batendo forte na Áustria, e aqueles que não colaborassem com o partido político/ideologia de vida do momento morriam ou fugiam, mas que foca tanto nos medos e desenvolvimentos do protagonista com seu amor não correspondido que faltou muito para funcionar como um filme gostoso de ver (que era o vendido pelo trailer).
O longa nos conta a história de um jovem de 17 anos chamado Franz que começa a trabalhar como aprendiz em uma tabacaria onde Sigmund Freud é um cliente frequente. Após um tempo, os dois estabelecem uma forte relação de amizade. Certa vez, o jovem se apaixona por uma moça, Anezka, e começa a pedir conselhos amorosos para Freud que, embora seja um renomado psicanalista, confirma que, até mesmo para ele, os mistérios femininos têm uma grande potência. Em meio a uma grave tensão política na Áustria e a ascensão do nazismo, os três personagens se vêem no dilema entre sair do país ou permanecer nele.
Diria que o diretor e roteirista Nikolaus Leytner tinha vértices demais em suas mãos para decidir que rumos usaria em seu filme, e ficou perdido com tantas formas de contar a história, pois uma trama com nazismo e Freud no mesmo ambiente é daquelas que qualquer um gostaria de trabalhar, porém ele deveria ter deixado a análise e a desenvoltura do medo e da tentativa de entender a mente feminina de lado e ter ido mais para a síntese política, que ali sim encontraria muito para falar, poderia usar análises do judeu Freud para com seus medos também de ser morto pela Gestapo, e com isso brincar também com os prazeres do vício que a tabacaria permitia, indo para algo muito além do que foi mostrado. Claro que isso é uma abertura mais fluente que vi após conferir a trama, e que não faz muito meu gosto pessoal (filmes com temáticas psicológicas e análises sobre a mente humana), mas certamente muitos até que acabarão se vertendo bem para os sonhos do jovem, juntamente com os seus medos e dos demais personagens, e assim sendo, a trama tem até um fechamento coeso, porém com um ritmo exageradamente lento e alongado, que acaba cansando demais.
Sobre as atuações, Simon Morzé até tentou segurar a barra como protagonista, mas seu Franz pareceu a todo momento alguém meio desconectado, com a cabeça voando demais, de modo que seus olhares e trejeitos sempre ficavam cheios de dúvidas demais, e isso não é algo legal de ver, ou seja, diria que seus papos com Freud e até mesmo nos momentos de escrita com a mãe até floreavam algumas ideologias bacanas, mas sempre cortadas de indagações não iam para nenhum lugar, ou seja, falhou demais sem ter atitude de segurar a trama. Bruno Ganz até deu uma boa pinta para seu Freud, de modo que o psicanalista até parecia ser uma pessoa comum, cheia de sorrisos e tudo mais (coisa que não dá para imaginar), e com diálogos bem pausados e bons respiros, seu personagem acaba sendo agradável demais para uma trama levemente bagunçada, ou seja, poderia ter ido além, mas agradou como acabou fazendo. Johannes Krisch fez com seu Otto um personagem de atitude, com uma desenvoltura seca, mas que se sobressai na trama, de modo que se o filme fosse em cima de suas ideias, talvez o resultado fosse melhor. Sobre as mulheres, como o filme define, se nem Freud consegue entender a mente feminina, quanto mais nós meros mortais, então Emma Drogunova faz uma Anezka bonita, cheia de malandragem, e que chama a atenção, mas bastava o protagonista piscar (e isso ele faz muito com suas viagens) que a personagem evaporava de cena, ou seja, algo muito estranho, e quanto da mãe do garoto, Regina Fritsch até teve algumas cenas com atitudes, mas soou jogada demais na trama.
Visualmente o longa tem belas paisagens e locações precisas para mostrar tanto a beleza do lago aonde o jovem inicia sua vida, que depois tomado pelas suásticas fica refletindo as cores da bandeira nazista, até chegarmos em Viena e principalmente na tabacaria aonde o protagonista vai trabalhar, com muitos cigarros, charutos, postais, jornais, revistas e também uma mini papelaria com cadernos e canetas para os jovens que não podem fumar, e o ambiente ali é bem moldado pela situação de receber judeus, contra os vizinhos do lado que odeiam judeus, aonde o diretor faz até seu arco crítico mostrando o açougueiro nazista fazendo seus embutidos com carnes podres, e isso soa bem forte também, além de um inverno bem bonito de cores e tudo bem funcional para a trama, de modo que poderiam ter usado até mais para tudo funcionar.
Enfim, é um filme de proposta interessante, mas que falta muita atitude para funcionar, pois ficou em dúvida de quais rumos seguir, e nessa abertura grande demais o resultado acabou sendo cansativo pelo ritmo sem força nenhuma. Não digo que seja um filme ruim, muito pelo contrário pelo efetivo ponto de mostra do nazismo dominando os países ao redor da Alemanha, e as atitudes de algumas pessoas, também vemos bem a brincadeira do amor e do estudo da mente feminina ser algo extremamente complexo, mas quem sabe se tivessem escolhido um rumo só seria imensamente melhor. Dessa forma recomendo ele para quem gosta de filmes com pegadas bem abertas para discutir muitas coisas, pois quem desejar um filme mais fechado, esse não é um bom exemplar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...