Muitas vezes nos perguntamos como os escritores fazem para conceber seus personagens, se eles conversam com eles, se já tiveram seus amiguinhos imaginários na infância, e até onde essa loucura toda acaba influenciando na vida deles, pois bem, fizeram um filme com base nisso, mas brincando bem mais com a loucura da protagonista em misturar sua vida pessoal com a dos personagens de seus livros, do que responder realmente essas perguntas, e dessa forma "Amor Assombrado" flerta bem com toda essa gama de realidade versus âmbito literário, aonde tudo fica abrangente demais soando para tantos os lados possíveis, de modo que mais para o fim do filme nem o público mais sabe o que é real na vida da protagonista ou não, e isso funcionando de uma maneira bem poética e agradável nos faz ficar interessado pela trama e o resultado passa a ser melhor do que o esperado. Ou seja, é um filme completamente maluco, mas que soa doce e leve dentro do que se propõe, e assim o acerto é gostoso de acompanhar, não ficando nem um filme alongado, nem uma peça jogada na tela, mas que certamente pode virar teatro com uma facilidade imensa caso desejem depois, pois o ar interpretativo não necessitaria de nada mais do que um cenário e diversos personagens assombrando a protagonista, e um bom jogo de luzes, que é o ponto chave para tentarmos distinguir o que é real do que não é na trama.
O longa nos conta que Ana Clara é uma famosa escritora que vive em conflito com seus próprios contos, uma vez que eles se misturam com sua vida real desde a adolescência até sua fase adulta. Além dos personagens fictícios que ela criou, Ana Clara ainda lida com pessoas que não fazem ideia da dimensão em que estão vivendo.
O estilo do diretor Wagner de Assis é muito diferenciado, daqueles que mesmo um drama melódico como é o caso desse filme, acaba virando uma história marcante que faz com que o público passe a conferir a trama inteira pensando em muitas possibilidades e vértices que serão ou seriam explorados de diversas formas, de modo que aqui ele não fez seu tradicional trabalho com espíritos como já fez em "Kardec", "Nosso Lar" e até no ruim "A Menina Índigo", mas trabalhou a amplitude da mente de ver e conversar com fantasmas, sejam eles reais ou apenas frutos da nossa mente, ou seja, ele abriu seu leque e foi coeso nas atitudes da protagonista, mostrando o conflito completo que é a mente de um escritor, que certamente até pode lhe ter ocorrido isso, mas que por ser uma adaptação de um livro, ele apenas usou seus meios para retratar tudo e fazer acontecer na telona, afinal a loucura é algo que dá para trabalhar demais nas telonas, e que sempre chama muita atenção.
Sobre as atuações, diria que Vanessa Gerbelli foi tão bem no papel com sua Ana Clara, que ficamos esperando um momento maior de seu surto, mas passamos a acreditar tanto nos seus atos e atitudes que cada momento passa a funcionar como algo envolvente e até íntimo para os personagens que criou para se tirar da solidão ou até mesmo para algo que desejava ser/ter, e assim vamos fluindo na mesma direção dela e sentindo com ela os momentos de tensão e de alegria, ou seja, caiu bem na personalidade exigida para o papel e ainda levou além. Guilherme Prates entregou seu Carlos quase como um galã envolvente, que vai através de boas frases se incorporando a tudo o que a protagonista deseja, mas também funciona como um daqueles enroscos que não saem de perto quando desejamos, ou seja, fez bem o papel e com um estilo bem teatral o jovem surpreendeu em estilos e trejeitos. Carmo Dalla Vecchia teve alguns momentos bem colocado com seu Cláudio, mas pareceu meio que deslocado na trama, parecendo não estar de agrado com o que estava fazendo, e isso fez com que seu ritmo não se encaixasse na mesma sintonia da protagonista, ficando levemente estranho de ver. Carolina Oliveira apareceu pouco, ou melhor, fez algumas boas cenas no início de forma que ainda não estávamos totalmente conectados com o que nos propunham na trama, de modo que sua Ana Clara jovem ficou solta demais no ar do filme. Quanto os demais personagens, praticamente todos foram usados quase como elementos cênicos da produção, pois como eram frutos da mente da protagonista ficavam ali meio que de lado, mas sempre com falas bem trabalhadas para incorporar o momento e ser bem interessante de observar os personagens das histórias da protagonista querendo aparecer mais, ou seja, foram bem no que foram propostos, mas sem nenhum destaque.
Como falei o filme pode ser facilmente transportado para um palco simples sem quase nenhum apetrecho visual, de modo que a equipe de arte apenas necessitou de uma casa luxuosa (que nem é tão usada assim, apenas a copa, a sala e o quarto, além de uma área externa aonde dá para ver o mar), e claro a localização que por estar próxima ao mar com as cenas em que a protagonista procura sua concha, o resultado visual acaba sendo interessante de envolver juntamente com o barulho da maresia, mas nada que fosse muito importante para o funcionamento do filme. Agora a grande sacada ficou a cargo da equipe de fotografia para brincar com a iluminação quando está ocorrendo coisas reais, e quando está rolando as da mente da protagonista, dando muito mais brilho e vida para os floreios da mente, e isso é bacana de acompanhar o acende e apaga de detalhes, que pode até não ser bem o que imaginamos, mas funciona visualmente.
Enfim, é um filme interessante, com uma proposta diferente e que funciona bem dentro do contexto que a trama se encaixa. Claro que por ser um filme envolvendo loucuras e muitas dúvidas no ar, cheio de diálogos e interpretações fortes, muitos podem achar até bem estranho, e não conseguir se conectar com o que o filme passa, mas quem entrar no clima certamente gostará bastante do resultado, mesmo com um final fraco que poderia ter ido mais além, ou seja, é um longa para quem gosta de dramas mais concisos, e assim fica sendo minha recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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