Como funciona a mente de um diretor: você ganha um grandioso prêmio de melhor primeiro filme em uma das maiores premiações, e a partir daí já acha que pode fazer qualquer coisa pegando grandiosos atores e tacando eles na maior bomba possível sem nexo. Não diria que todos são assim, mas Babak Anvari certamente pensou nisso quando leu a história de "Contato Visceral" e resolveu adaptar ela para o cinema, pois já vi muitos filmes estranhos com propostas razoáveis, que se analisarmos mais a fundo até conseguimos chegar em algum pensamento viável para a produção, mas o longa exibido aqui pela Netflix não consegue fluir nada além de situações estranhas bem bizarras, dominadas por baratas e talvez bem lá no fundo (usando claro o artifício de iniciar com um texto para tentar passar uma mensagem) passando a ideia de que se uma pessoa é vazia de conteúdo pode ser dominada por outro ser maior, e depois brinca com a curiosidade das pessoas em fuçar celulares alheios, trabalha um pouco o conceito dos relacionamentos vazios, e por aí vai, sem muito, ou melhor, sem nada para que ficássemos tensos ou assustados com algo, apenas vendo fluir na tela as interpretações de ótimos atores que sequer sabiam o que estava acontecendo (acho que já acostumaram tanto a fazer cenas em fundos verdes que quando filmam essas coisas vazias acham que vão colocar algo na edição depois que dará para entender!). Ou seja, mais uma bomba imensa na Netflix, que dá para pular bem facilmente.
A sinopse nos conta que depois que um cliente do bar onde Will trabalha esquece o seu celular no balcão devido a um incidente atípico, ele decide levar o aparelho para casa. No dia seguinte, Will começa a receber estranhas mensagens ameaçadoras e tenta não se envolver em nada, mas rapidamente eventos bizarros e aterrorizantes tomam conta da situação.
Sinceramente não consigo imaginar qual a ideia que o diretor e roteirista Babak Anvari teve ao ler a história e gostar do que viu ao ponto de querer criar um filme em cima disso, pois a história em si é bem rasa, tentando mostrar que se você não for uma pessoa completa estará aberta para algo te possuir e usar, de modo que ficamos o filme inteiro esperando algo acontecer, afinal as imagens que aparecem no celular são bem tensas e fortes, para chegarmos ao fim e vermos apenas algo bizarro com uma gigantesca invasão de baratas no melhor estilo dos filmes do brasileiríssimo Zé do Caixão, ou seja, um filme mal dirigido e mal direcionado, pois quem for esperando ver algum suspense não ficará tenso, e quem for esperando um terror também não ficará assustado ou aterrorizado, de modo que ao acabar você vai apenas falar: só isso? E é só isso que o diretor entregou, de forma que todo seu brilhantismo ganho no Bafta como melhor primeiro filme foi jogado para as baratas comerem, pois certamente após esse filme ter sido considerado um dos piores de Cannes desse ano, certamente não voltará a ser chamado tão cedo.
Quanto das atuações, diria que certamente não contaram para eles sobre o que era o filme, e o que aconteceria em cada cena, pois suas expressões foram bem casuais, sem nada que tivesse um impacto maior, fazendo com que o filme fosse meio que jogado na tela, e dessa forma, certamente todos vão fazer questão de esquecer que um dia fizeram esse filme, principalmente Armie Hammer, que tem feito grandes sucessos, e aqui com seu Will entregou um barman praticamente alcoólatra, que fica meio chocado e perdido com as imagens que vê, tendo um leve surto, mas que não sabia que rumos tomar, apenas ficando em desenvolvimento para um lado e para o outro tentando ser surpreendido por algo que não acontece, ou seja, fraco demais. Zazie Beetz entrega uma cliente do bar, mais que amiga do barman com sua Alicia, de modo que ficamos esperando realmente a cena que vai ocorrer, mas acaba falhando de forma bem estranha, o que não dá muito nexo, mas a atriz ao menos trabalhou bem em cena, mesmo sem saber sobre o que era sua personagem. Agora Dakota Johnson foi incumbida de ser um enfeite cênico praticamente com sua Carrie, de modo que aparentemente como uma estudante fazendo sua tese sobre algo da mente, ao cair nas suas mãos o lado oculto acabou ficando interessada demais, se tornando uma pessoa viciada que não tem mais vontade de fazer nada senão ficar olhando para portais, e dessa forma ainda estou procurando se ela interpretou algo ou ficou apenas parada mesmo, ou seja, um enfeite cênico de luxo. Quem teve um pouco mais de atitude no filme foi Brad William Henke com seu Eric, que brigou, ficou com a cara cortada, teve bichos saindo dele, e morando praticamente em um chiqueiro conseguiu dar uma personalidade maior para o filme ao menos. Quanto aos demais, enfeites e só.
No conceito visual, a trama trabalhou praticamente só com três lugares, o bar tradicional, com pessoas brigando, ouvindo música, bebendo e jogando sinuca, a casa dos protagonistas aonde vemos um casal vazio de amor, completamente desgastado e sem atitudes quase que nenhuma, e a casa de Eric completamente suja, cheia de coisas velhas jogadas em uma bagunça monstruosa de ver, além disso alguns movimentos dentro do carro do protagonista e um parque sem ninguém também, ou seja, um filme simples de se fazer, bem barato, e que poderia ter ido por um caminho mais forte para funcionar, o que não aconteceu. Além disso tivemos muitas baratas (muitas mesmo), que não aparentaram ser digitais, ou seja, soltaram todas nas paredes e deixaram elas fazerem seus movimentos em série bem impactantes para o resultado da cena final do filme, e poucas passeando nas cenas isoladas para serem pisoteadas pelos protagonistas. O longa teve alguns momentos rápidos com boa maquiagem, para representar as cabeças cortadas, e só.
Enfim, um filme bem fraco que a Netflix colocou como sugestão para mim hoje, que certamente não recomendo para ninguém, ou talvez alguém enxergue um algo a mais nessa filosofia do vazio e consiga ir por outros caminhos no que o filme quis mostrar, mas como não cheguei nesse âmbito, prefiro dizer que é melhor pular ele e ir para outra opção. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos.
PS: a nota vai 1 pelas baratas e 1 pela maquiagem forte de ver, mas de resto o filme nem valeria colocar coelhos aqui.
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