Sei que muitos não conhecem nada de Blaxploitation, e até eu mesmo afirmo que vi pouquíssimos filmes da época, mas ao estudarmos um pouco vemos o impacto dos atores nem tão famosos fazendo filmes imponentes, de baixíssimo orçamento (ou melhor, colocando todo o dinheiro de suas vidas para fazer de seu filme talvez um sucesso para recuperar a vida!), mas que tinham pegada, tinham ação, tinham lutas, e principalmente tinham história para contar as maluquices da vida dos negros em seus guetos, lutando muito contra o preconceito, contra tudo e contra todos, mas sem dúvida se divertindo muito com as histórias malucas, cheias de cambalhotas, tiros com armas imensas, lutas estranhas, e claro muito sexismo de uma maneira divertida, e aqui em "Meu Nome é Dolemite" vemos a volta triunfal de Eddie Murphy entregando como foi feito um desses ótimos filmes por um homem de estilo, cheio de rimas, e que fez tudo praticamente do zero sem ter nenhum grandioso profissional um longa do melhor estilo que foi imensamente criticado pelos críticos, mas que ganhou o público e fez um tremendo lucro. Ou seja, uma recriação de época maravilhosa, aonde vemos como é fazer cinema realmente, e que entrega personalidade e muita ginga por parte de todos, de forma que não tem como não recomendar o filme que a Netflix entrega agora, mas que vamos ouvir falar muito ainda dele, pois ficou na medida para tudo.
O longa conta a história de um vendedor de discos de uma loja pequena e comediante de pouco sucesso, Rudy Ray Moore, que vê sua vida mudar quando começa a ouvir as histórias das ruas para renovar seu repertório, inserindo piadas sujas e repletas de palavrões. Não demora muito para que ele faça imenso sucesso, migrando o sucesso nas casas de show para discos extremamente populares, entre a população negra norte-americana. Decidido a ampliar seus horizontes, Rudy decide rodar por conta própria um filme estrelado por seu alter-ego Dolemite, um cafetão bom de briga que sabe lutar kung fu. O que ele não imaginava era que fazer cinema fosse algo tão complicado quanto conseguir que seu filme fosse exibido em circuito comercial.
É bacana ver que o diretor Craig Brewer possui um ritmo cadenciado em seu estilo, pois fez vários filmes com muita dança e aqui trabalhou o personagem principal dentro de um ritmo próprio, afinal criar o longa em si não deve ter sido nada fácil com um elenco forte, cheio de bons nomes da cultura negra, e que com muita sagacidade consegue incorporar trejeitos, fazer um filme dentro de outro filme, e ainda manter a dinâmica de uma maneira muito gostosa de ver, de modo que me via cada hora mais atento à produção, indo com a cadeira mais perto da TV para olhar detalhes e não enxergar erros, e isso é lindo de ver em um filme, e Craig não só fez o estilo, como encontrou nos personagens e nos atores a vontade de entregar tudo, ou seja, um filme que mostra praticamente a biografia de um nome marcante, mas sem precisar ficar indo de uma maneira comum, e isso é agradável demais de ver na tela. Assim como comecei o texto, posso dizer novamente que muitos continuarão sem saber o que foi a blaxploitation, porém verão como um grupo foda de amigos conseguiu sair de seu cantinho e detonar geral no cinema, na música e na comédia de cara limpa, usando trejeitos fortes, muito palavrão, e impacto cênico da melhor qualidade, com muitas sacadas geniais que só reforçam o nome de cada um em cena.
E falando em reforço de nome, Eddie Murphy estava bem sumido após alguns projetos ruins, e muitos falavam até que tinha abandonado a carreira, mas bastou um bom roteiro para que ele volte a ser um grande nome falado, e aqui com seu Rudy/Dolemite ele simplesmente voltou às suas origens, brincando na tela, fazendo trejeitos, e principalmente deixando que o personagem falasse por si, pois não vemos o ator Eddie em cena, mas sim Rudy vivendo através do corpo dele, e esse é o jeito certo de um ator fazer cinema. É muito engraçado você não reconhecer um ator, e aqui ocorreu isso com Wesley Snipes que acostumamos tanto ver ele como brucutu em filmes de ação, que fazendo seu estranhíssimo D'Urville ficamos bem surpresos com o que faz, nos pegando com trejeitos engraçados, situações clássicas de diretores que nem tem tanta bagagem, mas se acham a última bolacha do pacote, e que com um estilo bem próprio que acabou acertando a mão em cheio. Da'Vine Joy Randolph entrega uma Lady Reed incrivelmente perfeita, com classe, cheia de olhares e trejeitos, com personalidade de forma que acreditava ser uma atriz até bem mais famosa no papel, mas sempre fazendo papeis secundários aqui veio com tudo e assim como fala em determinado momento, conseguiu mostrar que existem bons papeis para pessoas como ela, ou seja, incrível de ver. O elenco ainda conta com outros grandes nomes como Chris Rock, Craig Robinson, Snoop Dogg que não impactam tanto no filme em si, mas que entregam momentos bem marcantes interessantes demais para a produção, além de diversos menores que funcionaram bem para cada ato sem atrapalhar em nada, ou seja, um elenco muito bem conectado entre si, que faz o filme funcionar do começo ao fim.
Sabemos bem o trabalho de uma composição de época, e os anos 70 acredito que seja uma das épocas mais difíceis de representar, pois tem figurinos marcantes, e o longa cadenciou na medida, tem espaços cênicos marcantes, e representaram desde lojas de discos, até restaurantes/bares com shows, passando por hotéis simples e outros bem elaborados, recriando gravadoras, e com muita dinâmica refizeram as filmagens de "Dolomite", que foi um dos grandes e marcantes filmes da época, ou seja, um luxo completo de equipamentos, de mostrar como são feitas as cenas de luta e tiro, os treinamentos de coreografia, as iluminações cheias de gambiarras, os cenários desmontando e tudo mais que o cinema barato acaba sendo feito, além claro dos maravilhosos cinemas de rua clássicos bem representados desde os singelos de pequenas cidades até chegar nos gigantescos que recebem estreias com atores, ou seja, um trabalho minuciosamente perfeito da equipe de arte.
Enfim, um filme incrível com um ritmo perfeitamente musicado, e que certamente muitos que já trabalharam com gravações irão se enxergar, que todos irão se divertir, e que principalmente funcionando como uma biografia é entregue muito bem representada para ninguém botar defeito, ou melhor, colocaria um leve defeito de não terem desenvolvido mais alguns problemas que certamente todos tinham na época, que preferiram minimizar para que o filme não criasse receios politizados e envolvimentos raciais, que não chega a ser um erro, pois o filme é até melhor assim, mas que poderiam ter pontuado mais do que apenas uma cena em que um dos personagens reclama de ter brancos mandando no set de filmagens. Ou seja, um filme muito bom que recomendo demais para todos, e que felizmente a Netflix soltou para o mundo inteiro na mesma data, de modo que já pudemos conferir e se divertir sem precisar esperar nada. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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