É engraçado como a França faz três estilos completamente diferentes de comédia, aqueles que você ri demais da essência sem precisar de apelações, aqueles que exageram em coisas que você nem acredita que está vendo e geralmente não ri de nada, e aqueles que tentam passar lições, fazem piadas jogadas, e as vezes você ri, e geralmente esse último é o que menos o pessoal costuma gostar, pois fica bem no meio da famosa dramédia que tanto eles gostam (e que funciona realmente muito mais!), e geralmente o resultado não impressiona como poderia. Digo isso pois o longa da Netflix, "A Volta Por Cima" é desse último grupo e até tem alguns momentos engraçados marcantes, mas o fechamento ficou tão jogado que praticamente quebra o clima, e isso é algo bem ruim de ver em comédias, claro que o miolo também não é algo muito impressionante de ver, mas é sempre bacana ver que os nerds costumam se dar bem, enquanto os valentões da escola geralmente acabam tendo suas vidas meio que jogadas de lado. Tudo bem que isso é um dos maiores clichês do cinema, mas quando é bem feito, funciona, o que não é o caso aqui, então poderiam ter ido para o vértice de abusar de apelações, que certamente iriam fazer rir (como é o caso em algumas cenas), e então o resultado empolgaria bem mais.
O longa conta a história de um grupo de colegas de classe que decide se reencontrar para relembrar os velhos tempos. Para isso, dois desses amigos, que moram em outro lugar, viajam até a cidade natal para a tal reunião. Porém, eles vão na expectativa de deixar aqueles que eram "valentões" intimidados e também conquistar as antigas paqueras da época de escola.
Acho que já falei isso outras vezes, mas ter o primeiro longa de drama é imensamente mais fácil do que arriscar com uma comédia, pois o gênero é daqueles que ou você acerta ou erra, não tem o meio termo, enquanto em dramas já dá para dar uma enganada, e aqui Remy Four e Julien War bem que tentaram nos enganar, tendo até um grandioso fechamento que vai impressionar muitos e servir como um daqueles: "nossa como não percebi isso antes", e com isso eles nos mostraram o grande ar de sacadas no texto que poderiam ter funcionado melhor, bem como mostra que eles são bons roteiristas cômicos, porém saber escolher os momentos certos para cada jogada, encontrar a dinâmica perfeita entre os protagonistas, e tudo mais que um bom diretor do gênero precisa, ainda vão ter de aprender bastante. Diria que talvez se a cena final fosse no meio, e aí desenrolasse mais os problemas, o resultado acabaria bem mais interessante, mas talvez tivesse quebras demais para mudar, então vamos deixar assim, como sendo um filme engraçadinho, com um final chocante, mas certamente poderiam ter ido muito além.
Diria que os atores souberam muito bem se encaixar nos momentos, fazer trejeitos bem dosados para cada ato, e principalmente não tentaram fazer gracejos, de modo que o filme flui sozinho pelas ideias cômicas vingativas de cada um dos lados da história, ou seja, é bacana ver cada um sendo tradicional, alguns mais bobos que outros, mas funcionam ao menos para o que o filme se propôs. Ludovik Day entrega seu Pierre-Yves com boas sacadas, meio que bem no âmbito de um perdedor que ao subir ao poder sai atacando com tudo, e seus atos são bem tradicionais do estilo, o que agrada de ver e rir pelos seus olhares bem bobos. Já Jérôme Niel acaba fluindo de uma maneira meio estranha com seu Jonathan, criando um ar tímido demais, mas sem recair em trejeitos normais ele acaba ficando no meio do caminho, sendo bem trabalhado, mas com um estilo meio que perdido na produção. Nicolas Berno jogou com tudo em seu Hervé, mostrando desventuras imponentes como um brucutu deve ser, mas também sabendo pontuar nos olhares, e isso fez dele um personagem bem interessante de ver. Pauline Deshons trabalhou bem com sua Lucille, meio que ficando sempre em segundo plano, mas brincando bastante com os momentos, e sendo bem importante na finalização da trama, o que agrada bastante quando um personagem secundário desponta. Quanto os demais, todos foram bem, tendo aqueles que foram apenas enfeites cênicos, e também alguns que tentaram chamar um pouco mais a atenção como foi o caso de Pitcho Womba Konga com seu Looping, Romain Lancry como Fabrice e Caroline Anglade como Linda, mas nada que surpreendesse muito também.
A parte cenográfica ficou simples, afinal tudo ocorre dentro de uma escola, com as tradicionais cenas que já vimos em uma tonelada de filmes, como o baile no ginásio, a biblioteca, alguns personagens se pegando nos banheiros e em salas, as famosas brigas no pátio, e até mesmo cenas no topo do prédio, ou seja, nada que fosse muito evoluído tendo algum leve destaque para a cena de tensão das crianças macabras (que no lugar dos personagens ficaria com bastante medo delas!) e as sacadas usadas pela vingança dos nerds contra os valentões, mas também coisas que já vimos muitas vezes. Ou seja, tudo muito simples e efetivo, que nem na iluminação fizeram muita questão de trabalhar tons, deixando tudo com muitas cenas escuras, o que falha o ar cômico, e uma ou outra cena com ar mais engraçado aonde brincaram com muitas cores.
Enfim, é um filme que tem suas qualidades, mas que não diverte da maneira que promete, funcionando mais no final e em cenas espaçadas do que no resultado completo de uma comédia, de modo que ficou parecendo que os diretores tinham mais ideias do que realmente conseguiram mostrar na tela, e assim, quem for conferir o longa na Netflix certamente irá rir em alguns momentos, mas até a cena final acontecer ficará parecendo que já viu esse filme diversas outras vezes, e assim fica minha recomendação de que só confira se não tiver outra boa comédia em vista. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até breve.
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