Um filmaço! Essa é a melhor definição da divertida comédia argentina "A Odisseia dos Tontos", que para variar contém Ricardo Darín dentro dela e mais outros excelentes atores de grandes filmes argentinos. A trama em si é bem simples e já vimos em outros longas, mas o plano de execução de personagens simples do campo em como conseguir recuperar seu suado dinheiro roubado por pessoas inescrupulosas é tão bem montado, cheio de ótimas sacadas, com desdobramentos tão bem colocados que acabamos rindo do começo ao fim do filme, chegando aos finalmente com muita sagacidade de forma a valer demais a conferida. Claro que já fui ao cinema esperando muito dele, pois geralmente todos os filmes argentinos que chegam aqui são ótimos, mas não esperava algo tão engraçado e bem montado como foi essa obra que se passa no começo dos anos 2000, mas que contém tanta coisa em comum com os tempos atuais que chega a dar medo de pensar nisso. Ou seja, se você gosta de uma boa comédia, não pode perder a trama de forma alguma, e olha que é bem raro aparecer algo assim em nossos cinemas sem ser parte de festivais, então faça a festa rindo dos tontos, que de tontos não possuem quase nada.
O longa é uma emocionante história situada em uma pequena vila da província de Buenos Aires, na Argentina, no fim de 2001, onde um grupo de amigos e vizinhos perde o dinheiro que havia conseguido reunir para reformar uma antiga cooperativa agrícola. Em pouco tempo, descobrem que sua poupança se perdeu por uma manobra realizada por um inescrupuloso advogado e um gerente de banco que contavam com informação do que ia acontecer no país. Quando descobrem o que aconteceu, o grupo de vizinhos decide organizar-se e preparar um minucioso plano com o objetivo de recuperar o que os pertence.
O diretor Sebastian Borensztein que fez vários outros longas de Darín como "Um Conto Chinês", "Kóblic" volta com sua parceria agora em uma divertida comédia bem sacada, aonde a simplicidade define cada elo, não sendo abusiva em nenhum momento, e mesmo contando com um roteiro bem ácido foi filmado com nuances bem leves e gostosas de acompanhar, aonde cada cena foi bem pensada, sem precisar dividir o longa em capítulos, mas que vemos todo o plano sendo elaborado com exemplificações bem dominadas e que funciona para o público rir, entender exatamente qual a opinião dos personagens, e que com uma sagacidade ímpar por parte de cada um dos artistas envolvidos conseguiram entregar seus personagens num formato perfeito para a diversão. Ou seja, o diretor desenvolveu tudo e foi entregando quase que em pedacinhos curtos seu longa, e que não atrapalha nem falha na dinâmica, o que é algo raríssimo de ver, e sendo assim, o primor técnico entra em acerto com a graça da trama, e o resultado ficou perfeito de conferir.
Falar das atuações com um elenco desse porte é algo que nem preciso digitar muito, pois todos, até os que tem menos falas conseguiram incorporar trejeitos rurais para a pequena cidade, soarem pacatos e simples ao ponto máximo de desejarem recuperar suas economias e irem com tudo para cima, e é incrível ver cada um fazendo seu máximo. Para começar é claro que temos de falar de Ricardo Darín com seu Fermín Perlassi cheio de tiques, de estilos, e que a todo momento chama a responsabilidade cênica para si como se atraísse a câmera, e que com muita desenvoltura agrada demais em cada ato. Já tinha dito que a classe vem de berço, e Chino Darín que é filho de verdade de Ricardo, vem com seu Rodrigo impecável, fazendo boas sacadas, e trabalhando de uma forma mais simples aqui do que a que vimos em outros filmes mais fortes seus, de modo que o jovem pode conseguir muito brevemente se tornar galanteador e ter a grande marca que o pai teve, pois sempre chama também muita atenção. Verónica Llnás entrega bem sua Lidia nas cenas iniciais, sendo um grande apoio para o marido, com uma felicidade clara no olhar e também muito imponente quando precisou, de modo que fez muito bem seu papel e também agradou bastante. Luis Brandoni entregou um Fontana seco e bem colocado na produção, indo direto ao ponto em vários momentos e divertindo bem com isso. Agora sem dúvida é muito divertido rir do "vilão" da produção sofrendo com as artes dos protagonistas, e Andrés Parra deu um show de trejeitos com seu Manzi, correndo pra lá e para cá para defender seu cofre de maneiras inusitadas demais, que vale a cada momento. E quanto aos demais, diria que todos se deram muito bem nos seus devidos atos, desde Carlos Belloso com seu maluco Medina, passando por Rita Cortese com sua Carmen metódica, até chegar nos Gomez vividos por Alejandro Gigena e Guillermo Jacubowicz, ou seja, completamente dentro das ótimas personalidades, cheios de bons trejeitos, e divertindo ao máximo o público se divertindo em cena.
A equipe de arte também deu um tremendo show com cenários bem montados para as casas dos protagonistas, para o estilo de banco da época, e por juntar cenas reais do famoso golpe que o governo argentino deu na época que complicou muito a vida da população, mas não bastando isso, aqui vemos a famosa informação privilegiada acontecendo, e com isso foram bem montados os estilos que muitos grandes empresários fazem para que seu dinheiro esteja "bem guardado", e a cenografia brincou com a ideia de uma maneira icônica, que com as cenas finais muito bem pensadas foi um show cênico acontecendo da melhor forma possível, com explosões, fogo, e todo um plano muito bem executado. Vale notar a fotografia ampla de cenas sujas e completamente pensadas com enquadramentos abertos sempre para valorizar todo o ambiente que a equipe de arte fez.
Enfim, um filme delicioso de conferir, que mostra mais uma vez que o cinema argentino é um dos melhores em muitos vértices, principalmente nos longas que temos Darín, e que certamente quem for conferir o longa sairá da sessão satisfeito de tanto rir e apreciar uma história gostosa. E detalhe, esperem os primeiros créditos, pois tem uma rápida cena bem colocada, e sendo assim, mais do que recomendo o filme. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a última estreia dos cinemas dessa semana, então abraços e até logo mais.
PS: Só não dou uma nota maior para o filme por alguns elos serem meio que jogados na tela, e também pelo excesso de narração do protagonista, mas não é nada que tire o mérito do filme.
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