Atualmente vemos muito isso de grandes gênios em determinada área pararem de fazer o que fazem bem por diversos motivos, e entrarem em depressão, mudarem a forma de viver, se estressar facilmente, e geralmente se isolarem do mundo comum, de forma que vivem reclusos em suas conchas e geralmente acabam tendo diversos outros problemas, mas como seria retratar isso? A ideia base que acabamos entendendo em "Cadê Você, Bernadette?" é mais ou menos essa, que muitos até enxergarão de outra maneira, e por isso talvez o filme não empolgue tantas pessoas, mas quem captar essa ideia, rir de tudo o que ocorre, e até se enxergar dentro do mundinho de Bernadette, certamente irá se apaixonar pelo trabalho que o diretor Richard Linklater e a atriz Cate Blanchett nos entregaram nessa obra incrível e gostosa de conferir, vivenciando muito desse mundo atual que muitos se isolam da vida social, que só de pensar em estar junto com mais do que 3 pessoas já bate um desespero, e claro que com muitas loucuras, conseguiram trabalhar o filme de uma maneira icônica, bem colocada, e cheia de ótimas sacadas. Ou seja, um filme simples, porém muito bem executado, com uma mensagem de fundo bem cheia de estilo, que vai agradar alguns muitos, e outros que não se enxergarem ali talvez irão odiar, e assim sendo o resultado fica bem longe de um filme mais amplo, mas que funciona ao menos de uma forma diferente.
O longa nos faz a seguinte indagação: Quem nunca sentiu vontade ligar o modo avião e sumir do mapa? Quando a vida de Bernadette começou a parecer sem rumo, ela resolveu fugir da sua zona de conforto e desaparecer misteriosamente, deixando tudo para trás. Agora Bee, sua filha, precisará juntar todas as pistas para descobrir onde foi parar essa mulher que imaginava conhecer tão bem, mas que se transformou em um verdadeiro ponto de interrogação.
O estilo do diretor Richard Linklater é daqueles que ficamos pensando no que ele pode surpreender fazendo algo completamente maluco, de forma que sempre seus temas envolvem polêmicas estranhas, mas sempre sem abusar, e assim seus filmes acabam sempre floreados de uma maneira gostosa de conferir, e aqui com um roteiro bem trabalhado em cima de um livro que fez muito sucesso, foi como brincar com o tema, trabalhando vértices mais dinâmicos com as loucuras da protagonista, ousando colocar alguns videos fora do eixo no miolo, e sabendo encontrar a polêmica para emocionar nos atos certos, ou seja, o diretor não quis fazer um filme icônico, mas sim trabalhar o tema apontando levemente o dedo para as feridas, e deixando que o andamento fosse resultando no que desejava ver, e acabou dando certo, pois muitos irão se enxergar em Bernadette, mas outros apenas a verão como uma doida sem noção que o diretor não sabia o que fazer com ela, e dificilmente você verá outro tipo de opinião sobre o longa sem ser essas duas pontas.
Sobre as atuações é fácil se apegar ao papel de Cate Blanchett, pois inicialmente achamos meio estranho suas ideias, fobias e estilos, depois quando ela vê a história de sua Bernadette sendo contada em vídeo já ficamos levemente intrigados, para somente entendê-la completamente quando sua filha termina de ver o vídeo, e também vemos sua reunião com o grande amigo, de forma que a personagem vai sendo construída em nossa cabeça durante todo o filme, e só ao final conseguimos expressar toda nossa emoção em ver seus trejeitos bem conectados, ou seja, a atriz foi muito incrível no papel, conseguindo expressar sentimentos fortes de uma maneira maluca que ficasse coesa com o fechamento, mas sem deixar se afetar se estava estranho demais no começo, e isso são poucos os que conseguem. Emma Nelson entrega uma Bee gostosinha de ouvir, com um tom bem colocado, mas exageraram um pouco demais em suas narrações, de modo que seria melhor ver a jovem fazendo suas atitudes, ou talvez escrevendo um diário ou algo parecido para retratar a ideia toda, do que apenas usarem sua voz para contar tudo, o que ficou um pouco cansativo, mas felizmente o restante se sobrepôs, e salva. Não consigo me acostumar com as expressões de Billy Crudup, de modo que parece sempre um vilão, ou um personagem que vai ferrar com toda a história ou mais, e aqui seu Elgie é meio forçado, parecendo ser um grande membro da Microsoft, depois um alguém meio perdido de atitudes, e por fim alguém meio carinhoso, e isso fazendo as mesmas caras sempre, ou seja, poderia ter sido melhor. Quanto os demais, diria que só vale destacar mesmo as tradicionais brigas de vizinhos, que aqui ficou muito bem feito por Kristen Wiig com sua Audrey, mas que nada mostra muita interpretação, só valendo a personagem mesmo, Zoe Chao fazendo a tradicional assistente que mais atrapalha do que ajuda a família, e Laurence Fishburne com seu Paul apenas servindo de psicólogo e amigo na hora mais precisa, mas sem muito o que apresentar, ou seja, um elenco de apoio famoso demais que nem necessitaria, mas foram usados ao menos.
É até engraçado ficar pensando no visual da trama se temos uma famosa arquiteta em cena, pois ficamos esperando ver ambientes revolucionários e tudo mais, mas não, vemos o que a depressão faz com uma pessoa, com uma casa caindo aos pedaços (e olha que o protagonista é um dos diretores da Microsoft - ficou meio sem nexo!!), com amoreiras invadindo a casa, goteiras para todos os lados, e muita coisa estranha no primeiro ato, daí o segundo já somos surpreendidos com o lance da Manjula bizarra, com as apresentações bonitinhas, a sujeira cênica, e todo o conhecimento em cima de quem foi a protagonista com ambientes mais propícios para a trama, e ao entrarmos no terceiro ato temos a beleza da Antártica com seus brancos de paz, seus cruzeiros malucos, e claro o bom fechamento com tudo sendo bem colocado para termos os créditos bem feitinhos, ou seja, a equipe de arte foi tão maluca quanto a protagonista, e o resultado diverte ao menos.
Enfim, é um filme bem interessante, com uma proposta ousada de estilo, que como disse no começo, alguns irão amar por se conectarem bem à protagonista, e outros irão odiar pela bagunça que o filme entrega, mas que de uma forma bem gostosa, o resultado geral acaba impressionando pela formatação que o diretor quis, pois não segue o tradicional, e ainda lança problemas no miolo, o que faz dele um filme diferenciado. Talvez em um formato linear e casual o filme impactasse mais a todos, mas da forma que foi feito é aberto demais à discussões e envolvimentos, e com isso, se preparem para ver muitas críticas mistas, mas como me conectei demais em Bernadette, e me vejo um pouco com sua ideologia de vida, adorei o longa e recomendo ele. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...