Chega a ser até engraçado que ultimamente estão lançando vários filmes sobre as vidas de pintores famosos, mostrando suas brigas pessoais, suas essências e inspirações para suas obras, e principalmente seus floreios mentais, de modo que acabamos quase que entrando no seu próprio mundinho da forma que os diretores acabam criando para retratar a época, e uma das coisas que mais tem sido bacana de ver é que nesses longas estão priorizando muito o conceito visual para retratar o estilo de pintura que cada pintor usava, fazendo dos longas quase uma tela viva, e dessa forma "Cézanne e Eu" retrata a trama quase como uma natureza morta, aonde tudo tem pouca vida, quase sem movimento algum, e com ambientes verdes bem marcados, ou seja, uma valorização belíssima do ambiente, que aliado a boa escrita de Émile Zola acabamos tendo uma narrativa bem trabalhada também. Porém, como a arte de Cézanne usa desse artifício de pouquíssimo movimento, o filme acabou ficando lento demais, de forma que acabamos cansando com a formatação entregue, e assim sendo os 114 minutos de duração do longa parecem ser horas a fio que não acabam nunca (me vi olhando no relógio 2 vezes!), e o resultado embora seja bonito de ver, forte pelas palavras duras que ouvimos de um amigo falando sobre o outro, acaba não sendo gostoso de acompanhar.
O longa nos conta a história de amizade e rivalidade entre o pintor Paul Cézanne e o escritor Émile Zola. Paul é rico. Emile é pobre. Mas dessa união irá surgir uma amizade que resiste ao tempo e às diferenças sociais. Os amigos, que se conheceram no colégio Saint Joseph, aprenderam desde crianças a compartilharem tudo um com o outro. Mas, na busca por realizar seus sonhos, os dois vão aprender a enfrentar os desafios da vida e, principalmente, sobre o valor da verdadeira amizade.
A melhor definição para o longa é dizer que ele é algo fora da curva, sendo exageradamente artístico, pois o trabalho que a diretora Danièle Thompson fez foi deveras uma grande homenagem, que quase pinta a tela do cinema com as atitudes e sínteses da vida de ambos os personagens, ora pela visão da escrita de Émile sobre como foi sua amizade, suas brigas, suas mulheres, sua vivência, ora pela essência criativa de Cézanne, pintando sua jornada em telas bem moldadas, ou seja, ela fez muito visualmente, trabalhou bem as formas, mas não foi criativa suficiente para que seu filme tivesse atitude, ou seja, vemos um filme bonito, bem feito, aonde vemos suas virtudes de enquadramentos, mas sem muita dinâmica, sem criar nenhum elo de quebra, sem implantar um clímax que fosse, ou ao menos uma reviravolta, deixando apenas que a maneira explosiva do personagem fronte a calma do outro fosse suficiente para manter a linha crítica do filme, e isso não funcionou infelizmente, deixando sua direção fria demais para agradar.
Quanto das atuações, sabemos do potencial imenso de Guillaume Canet, que aqui como Cézanne aparece completamente irreconhecível, e ele soube dominar a personalidade do pintor, trabalhar bem os olhares, e criar ensejos bem colocados em cada uma das cenas, mas sem florear muito, nem chamar a atenção como deveria, de forma que o vemos como um personagem seco bem feito, e nada mais. Já do outro lado tivemos Guillaume Gallienne, que ficou levemente formal demais com seu Émile, criando um estilo mais clássico e sem chamar atenção diferenciando demais do que costuma fazer em seus filmes, de modo que vemos ele apático e sem atitude, principalmente nas cenas em que está mais velho, o que não é muito legal de ver. Quanto aos demais personagens, o filme tem muitos atores e atrizes passeando pela tela, servindo de base para as pinturas e ou textos dos protagonistas, mas tirando Alice Pol que foi Gabriele para Cézanne e Alexandrine para Zola, que chamou um pouco para si com esse conflito, o resultado dos demais não vai muito além, e isso é algo que poderia ter chamado mais na trama.
Agora volto a frisar o grande feitio da trama ficou a cargo do visual, mostrando um trabalho preciso da direção de arte, trabalhando em locações belíssimas para retratar as possíveis inspirações do pintor para criar suas telas, vemos uma recriação de época maravilhosa através de figurinos e de ambientes, e principalmente vemos a essência criativa da época com vários nomes que tanto ouvimos fala em História da Arte, afinal Manet, Monet, Cézanne, entre outros foram todos contemporâneos vivendo na boêmia da França da época, que acabamos quase que viajando ao passado de tão bem montado que os ambientes foram, ou seja, um acerto incrível de ver.
Enfim, temos um filme muito belo de visual e de essência, que conseguiu trabalhar tudo dentro de uma obra só, mostrando rivalidade, amizade, traições, ensejos artísticos, mas que falhou no principal que era criar um filme realmente trabalhado nas dinâmicas e nas coerências da época, e que sem um ritmo propriamente dito quem não for esperando algo extremamente lento e sem conflitos acabará cansando demais no miolo e sairá da sessão sem ter gostado do que viu. Não diria que é um filme perdido, pois conhecer personagens, obras, e vidas sempre é bem válido, mas poderiam ter trabalhado um pouco mais a dinâmica para que o resultado fosse melhor. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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