Um dos pontos positivos das plataformas de streaming é ver alguns filmes que certamente não apareceriam nos cinemas do interior, por geralmente serem produções pequenas, com propostas diferentes, que as vezes até são interessantes, outras nem tanto, e um exemplar claro disso é o longa francês "Meu Irmão" que estreou essa semana na Netflix, e que trabalha a vida de um jovem em um recinto para jovens delinquentes que aguardam julgamento pelos seus atos, e que trabalha bem como é a vida nesse ambiente, e vemos que não é muito diferente do que ocorre em outros países, inclusive aqui, mas que a base da essência do filme fica totalmente nos atos da mente do protagonista, que julga certo ou errado cada momento, e o filme tem essa densidade boa por ali, e dá até para discutir mais sobre. Ou seja, é um filme para dialogar sobre, e mesmo que o final seja apenas direto, temos muito mais para analisar no miolo do que apenas o entregue.
A sinopse nos conta que por querer proteger seu irmão mais novo de um pai violento demais, Teddy, um jovem sem história, é acusado do assassinato de seu pai e enviado a um centro educacional fechado, aguardando seu julgamento por parricídio. Ele então mergulha em um universo brutal do qual ele não conhece as regras.
Diria que o diretor e roteirista Julien Abraham teve uma didática bem trabalhada de como funcionam esses centros educacionais, aonde muitas vezes os jovens entram lá bem e não saem tão bem com tudo o que rola, pois claro que a maioria teve grandes motivos para estar lá, muitos acabam sendo piores ainda, e que por lá o rigor ser mais light, pelos educadores, o resultado as vezes acaba indo para rumos inesperados. Ou seja, o diretor quis mostrar de uma forma impactante que esses centros muitas vezes são piores que as próprias prisões em si, e que claro a melhor forma de ataque às vezes é a defesa, então com atitudes fechadas, excessos comedidos, e uma boa dose de tensão entre os jovens, conseguimos ver o filme praticamente quebrado em quatro atos: o crime em si que aparece bem picado durante toda a produção, o começo da vida do jovem no centro com seus dilemas e atitudes, os momentos tensos já na segunda fase no centro com a chegada de Mo, e a fuga/road-movie com o descobrimento de outras situações da vida, de forma que tudo acaba se montando bem, mas ainda assim cada elo pareceu muito solto, e poderia ter ido mais de frente para com o impacto, tornando a trama menos aberta. E sendo assim, não acho errado como foi feito, mas talvez não seja tão incisivo na vida de muitos, mas ao menos passa uma boa ideia para reflexão.
Sobre as atuações, posso dizer com certeza que o jovem MHD caiu bem para o personagem de Teddy, trabalhando de forma introspectiva em suas cenas, fazendo olhares densos, e principalmente mostrando atitude quando precisava aparecer, de modo que seus atos funcionam, e o público certamente irá torcer por ele, pois consegue chamar para si a responsabilidade cênica, e fazer do protagonista algo funcional. Darren Muselet entrega também muito para seu Enzo, que inicialmente chegamos com muito ódio pelo personagem, mas que tem uma reviravolta forte ao ponto de até ficarmos com uma certa pena dele, e assim como o protagonista, mudar de lado, e isso soa interessante demais para a proposta do filme, de modo que a forma expressiva do ator ajudou muito nessa composição. Quanto aos demais, diria que todos deram bons encaixes para cada momento do filme, desde os diversos outros jovens com suas rebeldias, com destaque claro para o imponente Najeto Injai com seu Mo, mudando todo o ritmo do centro, a psicóloga com seu ar sereno, mas impondo força nas dinâmicas que encontra com os dois protagonistas, e claro o jovem Youssouf Gueye com seu Andy, que trabalhou bem as virtudes do personagem, saindo muito bem nos encaixes cênicos, e tendo um grande desfecho para a trama, ou seja, todos foram bem.
No conceito visual a trama nem tentou nenhuma ousadia, sendo um centro bem simples, com quartos espalhados sem muitas firulas cênicas, de modo que pode ser visto quase como uma casa tranquilamente, tirando as cercas ao redor (que são também bem simples), alguns elementos cênicos como armas, vassouras, telefones, bonés, entre outros para ter os atos de quebra, e alguns carros para a fuga, de modo que nada cria uma perspectiva mais forte, sendo que o filme em si tem o conteúdo forte, com cenas fortes, mas o ambiente em si poderia estar ocorrendo em uma escola, em qualquer outro canto que não diferenciaria o local em si, ou seja, poderiam ter trabalhado um pouco mais o ambiente para que o filme ficasse mais tenso visualmente.
Enfim, é um filme bem interessante de ideias para se discutir, mas que falha principalmente na montagem meio que bagunçada, que é até simples de entender, porém sem atitudes coerentes para que o ensejo ficasse mais forte e comovente, e o fechamento ficou rápido demais para tudo o que precisaria ocorrer para emocionar, enrolando demais na apresentação, e tendo um miolo completamente bem trabalhado, e sendo assim, até recomendo o filme, mas poderiam ter ido muito além do que foi mostrado. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
2 comentários:
Também fiquei esperando mais do final. Talvez a mãe e os filhos abraçando- se em comunhão de sentimentos...
Pois é amigo... final corrido demais, uma pena... essa sua ideia seria bem bonita de ver mesmo... abraços!
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