Sempre que ouvimos falar de abusos familiares em filmes vemos os casos sob a ótica masculina, e geralmente vemos filmes fortes, casos de polícia, muitos enfrentamentos jurídicos e tudo mais, então quando vamos ver algo do estilo ocorrendo pela versão de uma mulher que usa um jovem esperava ao menos algum escândalo maior, mas como costumam dizer as mulheres sabem ocultar e enganar de uma forma mais forte, e aqui no longa dinamarquês, "Rainha de Copas" vemos bem essa essência, pois mesmo tendo cenas explícitas, a trama não impacta como deveria, sendo algo bem feito, bem mostrado, mas que não causa nada além de indignação pela arte da sedução e da enganação, não tendo transformado o conflito numa bomba, e olha que poderia ocorrer. Não digo que seja um filme ruim, só não bota toda a força que tem na tela.
A sinopse nos conta que Anne é uma advogada do direito das crianças e dos adolescentes. Acostumada com lidar com jovens complicados, ela não tem muitas dificuldades para estreitar laços com seu enteado Gustav, filho do primeiro casamento de seu marido Peter que acaba de se mudar para sua casa. No entanto, a relação que deveria ser paternal se torna uma relação romântica, envolvendo Anna em uma situação complexa, arriscando a estabilidade tanto de sua vida pessoal quanto profissional.
O mais interessante de tudo é vermos um filme dessa pegada feito por uma mulher, pois certamente isso seria um problema para se discutir mais comumente entre homens, mas a diretora e roteirista May el-Toukhy deixou de lado todos os tabus e mostrou que um abuso é um abuso vindo de qualquer um dos lados, e que causa os mesmos problemas tanto em mulheres quanto nos homens. Claro que ela poderia ter chocado bem mais, e talvez tenha achado que só a cena de sexo explícito direto na tela impactaria suficientemente, mas optou por trabalhar mais o jogo da enganação, de mentiras e tudo mais, de forma que ficamos esperando ir além, e não ocorre, ficando frouxo demais com o encerramento escolhido, pois ao brincar com a alegoria da Rainha de Copas de "Alice no País das Maravilhas", de cortar os problemas direto pela cabeça, enquanto lhe é útil serve e depois não, poderia ter ido muito além de apenas uma contação da história para as crianças. Ou seja, temos um filme denso que apenas encaixa as situações e propõe um diálogo maior fora da sessão, o que não é comum, mas dialogar diretamente no filme acabou não acontecendo.
Quanto das atuações diria que Trine Dyrholm fez de sua Anne uma mulher meio que problemática, com atitudes estranhas e que não ataca com algo mais amplo, sabendo trabalhar muito bem os olhares e dinâmicas, causando muito em tudo o que faz, mas faltando encaixar um elo maior, de modo que sua atuação é precisa de sentimentos, mas soa tão falsa quanto esquisita, que mesmo nas cenas sexuais demonstra falta de vontade de estar fazendo ali. O jovem Gustavo Lindh também não chamou a responsabilidade que teria para seu personagem Gustav, de modo que teve cenas fortes bem trabalhadas, mas quando precisava fazer mais caras e bocas, ele apenas entregou algo comum demais, e isso é falho demais num filme que o jovem poderia explodir com uma personalidade melhor feita. Agora em compensação Magnus Krepper conseguiu fazer de seu Peter, um corno bem complacente de entendimentos, de modo que vemos em seus semblantes a dúvida no ar, além de entregar bem tudo nos poucos atos que precisou fazer. Quanto aos demais diria que apenas entraram na trama em momentos espalhados bem feitos, que não chamam atenção, mas também não atrapalham em nada.
No conceito artístico o filme encontra densidade na casa bem chique da família, no meio da floresta ao redor da casa, nas festas da família que também ocorre por ali e em um lago, tendo raros momentos no escritório da protagonista, mostrando um filme simples demais para a essência que deseja passar, ficando somente com algo como se mostrasse ser um problema de ricos que será mostrado em um lugar de rico, com seus grupinhos ricos, e nada além disso, ou seja, aqui a simplicidade acabou soando como uma falha de roteiro.
Enfim, é um filme interessante e intrigante, com umas pegadas fortes, mas que acaba faltando atitude para ser discutido na tela, deixando aberto demais o conceito para reflexões fora da sessão ao invés de ser dentro dela, e isso no conceito de cinema é ruim. Ou seja, é um filme feito para ser visto em grupos de debate sobre o tema abusos, e nada mais, de forma que o recomendo para esse momento mais fechado ao invés de uma sessão comum. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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