Alguns filmes acabam sendo tão intrigantes que ficamos vidrados no que pode acontecer, e basicamente a cena de fechamento de "Segredos Oficiais" diz tudo o que o longa fez conosco, que é prender a atenção não deixando tudo ser resolvido rapidamente, ou seja, o longa possui uma trama muito boa, um envolvimento fortíssimo usando uma história real, e consegue fazer com que o público fique na mesma afobação que a protagonista não por querer aparecer, mas por pensar em fazer o bem, mesmo que isso interfira completamente em sua vida, e claro que ao segurar todo o processo em cima dela, a bomba fica forte e bem colocada para explodir a qualquer momento. Diria que o filme é muito imponente dentro do que foi proposto, porém se focassem mais nos lados advocatícios do processo, e criassem um debate maior, o resultado seria ainda mais relevante, pois aqui a trama ficou aberta demais para algo simples de ser resolvido, e que ao final ficamos no mesmo nível de raiva que o defensor da protagonista.
A trama nos conta que depois de passar anos trabalhando como tradutora de mandarim para inglês, Katharine Gun tornou-se mundialmente famosa ao expor segredos extremamente confidenciais da Agência de Segurança Nacional. Depois de obter acesso a memorandos secretos, ela foi capaz de provar que ocorreu uma grande pressão a seis países para que eles votassem a favor da invasão ao Iraque em 2003.
O diretor Gavin Hood tem um estilo bem inteligente de não prender as pontas de uma trama, mas sabiamente ele costuma colocar os elos mais fortes parecendo fáceis de pegar, e com isso o filme aqui segue uma linha dura, mas sempre aberta para que queiramos ir além na investigação, na vida da protagonista e tudo mais, de modo que até ficamos bravos com as "burrices" que a personagem principal faz, de modo que seus erros foram sempre em prol de algo, e com isso o resultado tem uma boa fluidez, que resulta em algo muito além do proposto. Ou seja, não vemos um filme de difícil compreensão, afinal os roteiristas foram diretos ao adaptar o livro e com uma linguagem jornalística bem rápida o resultado funciona bem nas mãos de Hood, o que certamente vai agradar a muitos, e que vai lembrar muito "Spotlight", porém sem um vértice investigativo maior como foi a obra de 2015.
Chega a ser interessante os trejeitos que Keira Knightley criou para viver sua Katharine, de modo que vemos a atriz com um semblante sempre preocupado com suas atitudes, afoita para dizer logo o que pensa, e sempre pronta para cada ato, ou seja, não chega a ser uma interpretação brilhante, pois a atriz não se deixou levar tanto pelo momento, mas sim pelos atos separadamente, e isso faz com que seja até de certo modo correto, mas que passa bem longe da perfeição que ela poderia dar para o papel. Matt Smith infelizmente trabalhou pouco o seu Martin, de modo que como um jornalista bem pautado em entregar os atos, ele fez olhares investigativos e até encontrou bons momentos em cena, mas como o filme não foca tanto nesse lado, ele não foi muito explorado. Outro contraponto muito bacana de ver é o desenvolvimento de Ralph Fiennes com seu Ben, que foi muito preciso em todas as cenas, mas que acerta mais junto de Jeremy Northam com seu Ken, de modo que a dupla encaixa cenas na beira da praia com uma dinâmica tão bacana que não tem como não rir deles. Rhys Ifans fez de seu Ed aqueles jornalistas sensacionalistas, imponentes e bem malucos, que até agrada no que faz, mas não chama tanto a responsabilidade para si, e acaba sendo mais um enfeite da trama do que algo importante realmente. E para finalizar o elenco, não menos importante temos Adam Bakri com seu Yasar, ou melhor, o marido da protagonista, que serve bem de conexão para os atos, mas que se o filme não focasse tanto em ele ser um imigrante que não tem sua papelada, o ator seria mero enfeite cênico, pois não tem muita expressividade nas cenas, e nem chama para si os atos que precisa, ou seja, poderia ter ido muito além.
Quanto do conceito artístico a trama não chegas a explorar muito os escritórios de investigação do governo britânico, de modo que aonde o filme se passa poderia ser tranquilamente um escritório de repartições comuns, com equipamentos antigos bem engraçados de ver com MDs gravadores, programas de computador antigos, e uma cena de júri digamos estranha, afinal o réu praticamente está dentro de uma jaula (não sei se foi dessa forma que a Katharine verdadeira foi para julgamento, mas se foi, o povo lá é meio estranho!), ou seja, tivemos certas representatividades bem montadas, mas nada que impressionasse realmente.
Enfim, é um filme interessante, com um ritmo meio lento, mas que chama muita atenção pela história e pela forma que o diretor conseguiu nos prender, de modo que certamente com outra trama acabaríamos dormindo na sala. Ou seja, poderiam ter ido muito além se brincassem mais com o lado investigativo da trama, mas teríamos outro filme, e não era essa o desejo dos realizadores, de forma que quem for conferir acabará gostando do que verá, mas não sairá empolgado com nada do filme. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...