Se tem um diretor que não desliga é Woody Allen, que praticamente colocou como meta até o fim da vida ir fazendo um longa por ano sem parar, e como em 2018 não entregou nada, era esperado que esse ano seu filme fosse bem light, como um retorno direto às suas origens de filmes amorosos, com personagens refletindo sobre a vida, vários desencontros e encontros, e certamente quem for conferir "Um Dia de Chuva em Nova York" certamente verá isso, de uma maneira bem gostosinha, leve, cheia de bons atores jovens trabalhando para aparecer bem, com interpretações precisas, e claro, todo o estilo Woody Allen presente do começo ao fim, de modo que vemos o filme acontecer tão cheio de dinâmicas e diversas boas colocações que ao final já até imaginávamos o que aconteceria, mas sabiamente o diretor foi trabalhando a jogada e envolvendo o público até o desfecho bem marcado. Ou seja, está longe de ser uma obra prima de Woody como já vimos em "Meia-Noite em Paris", mas conseguiu ser gostosa ao ponto de esquecermos os anteriores que foram bem mornos, e sendo assim, já vale a conferida.
O longa nos mostra que apaixonado por Nova York, Gatsby decide passar um fim de semana na cidade ao lado de Ashleigh, sua namorada. No entanto, aquilo que era pra ser uma aventura romântica acaba tomando um rumo inesperado. Aspirante a jornalista, Ashleigh conhece o diretor de cinema Roland Pollard, que a convida para a exibição de seu mais recente trabalho. Gatsby, por sua vez, encontra Chan, a irmã mais nova de sua ex-namorada, com quem passa o restante da viagem. Um dia de chuva em Nova York será o suficiente para fazer com que Ashleigh redescubra suas verdadeiras paixões e Gatsby aprenda que só se vive uma vez - mas que é o suficiente se for ao lado da pessoa certa.
Todo mundo que já viu um filme de Woody Allen sabe dos defeitos e preceitos que ele costuma incorporar em suas tramas, desde um protagonista que falará com a câmera ou com o seu inconsciente, veremos desencontros amorosos e mudanças de paixões, veremos cenas climáticas bem elaboradas para criar conflito, e claro, muita emoção afetiva entre os casais, com olhares e toques muito mais emotivos do que relacionamentos em si, e aqui Woody não economizou em nada disso, brincando com cada momento, retratando personalidades diversas, e trabalhando sua câmera por diversas locações com muita simplicidade de movimentos, muito desejo pelos atos em si, e fazendo com que seu filme soasse correto dentro de tudo o que desejava fazer, pois mesmo sendo um filme razoavelmente curto para os padrões com apenas 93 minutos, ele conseguiu criar um ritmo mais lento que sem atrapalhar a dinâmica, o resultado parecesse maior, e isso é um feitio bem trabalhado, que acaba agradando visualmente sendo bem tramado, o que poderia dar muito errado, pois poderia cansar, e pelo contrário, acabamos nos envolvendo nessa dinâmica. Ou seja, é um filme simples, gostoso de ver, com bons atos, com uma história bem montada, e que funciona, e sendo assim, vemos Woody voltando a ser doce, o que vale muito a pena de pontuar, e claro, assistir.
Sobre as interpretações, como é bem comum nos filmes de Woody, vimos um Timothée Chalamet bem solto como um alterego do diretor, com frases românticas das antigas, tocando piano, e praticamente saboreando as palavras com seu Gatsby, de modo que o jovem ator conseguiu a proeza de movimentos sutis, com um andar quase embriagado, de forma que o envolvimento carismático com ele fica bem interessante em praticamente todas suas cenas, ou seja, um grande acerto. Elle Fanning conseguiu também segurar bem o baque, estando quase que ligada no 220 com sua Ashleigh, brincando com grandes atores, fazendo olhares, trejeitos, e muita desenvoltura para a personagem sendo mais como uma fã do que como uma jornalista realmente, mas foi bem no que fez cenicamente. É sempre engraçado ver Selena Gomez, pois parece que a atriz se mantém sempre jovem, e aqui sua Chan pelo que é falado no filme é até mais nova do que aparenta, afinal era a irmãzinha de uma namorada do protagonista, e assim sendo bem mais nova que o protagonista que já é bem novo, ou seja, fez uma jovem bem trabalhada, cheia de dinâmicas diretas nos diálogos, de forma que acabamos gostando de sua personalidade. Liev Schreiber acabou entregando um Pollard meio fraco de atitudes, pois sendo um grande diretor em crise, deveria ter se soltado mais, feito desenvolturas mais rebeldes, mas apenas some de cena, e isso não era o esperado dele. Já por outro lado, Jude Law não desperdiçou nem um pouco seu estilo para com seu Ted, de modo que vemos ele com um visual bem diferente, cheio de trejeitos bem sacados, desespero de estar sendo traído, e muitas boas sacadas nos diálogos com a protagonista. Diego Luna entregou para seu Francisco Vega todo o ar de galã casual que vemos em diversos atores de Hollywood, e embora tenha se jogado no estilo, o jovem fez bem seu papel. Quanto aos demais, diria que foram bem, não sendo nada que chamasse muita atenção, mas também não sendo jogados apenas na trama, de modo que o diretor soube pegar um pouquinho de cada em suas cenas.
Visualmente não diria que o filme fique nem perto das obras mais bonitas de locações do diretor, pois Nova York tem seu charme, a trama passa por hotéis, bares-pianos, museus, estúdios e salas interessantes, com festas e lugares com figurinos de pompa, mas faltou aquele ar dramático que geralmente Woody consegue captar do ambiente, e mesmo que aqui o protagonista ache romântico uma chuva em um passeio, estar se molhando junto do amor, isso ficaria bonito em uma garoa simples, com um fundo bem visual, não uma paisagem cinza debaixo de uma tempestade, como foi o caso aqui, pois o resultado acabou parecendo algo não bonito, mas sim uma gripe preocupante quase para virar pneumonia. Ou seja, faltou um ar noir para que o filme encontrasse estilo, e o resultado chamasse mais atenção nesse quesito, pois não é algo ruim de ver, só não é algo impressionante como costumamos ver na maioria dos longas do diretor.
Enfim, volto a frisar que é um longa bem gostoso de conferir, que tem uma levada dinâmica, simples e efetiva, que faz com que o público viaje nas cenas que o diretor propõe, claro que já vimos outros filmes mais bonitos, outros mais emblemáticos, e até aqueles que nos transportaram mais para um mundo além do diretor, mas aqui a garantia é que ele voltou a fazer um cinema doce, que mesmo tendo alguns desfechos não tão bonzinhos, acaba sendo bem agradável e resulta em algo que vamos curtir depois sentindo ainda o piano tocar de fundo. Ou seja, vale muito a conferida, mesmo com os vários deslizes que a trama entrega, e sendo assim, acabo recomendando bastante para quem gosta do diretor, e também para aqueles que gostem de um filme levinho. Bem é isso pessoal, encerro por aqui os filmes do cinema dessa semana, mas volto em breve com mais alguns lançamentos do streaming, então abraços e até logo mais.
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