Entre as opções de melhor filme internacional nas premiações, a Netflix também tem grandes chances, afinal comprou os direitos do longa senegalês "Atlantique" que está levou o prêmio do júri em Cannes e está classificado como drama, porém optaria chamá-lo como terror artístico por brincar com espíritos, insones e claro fantasiar um romance de essência além da alma. Ou seja, garanto que muitos que lerem só esse começo do meu texto já irão fugir completamente do longa, mas digo que não é dos piores filmes, pois passa uma ideia interessante, só faltando um pouco mais de atitude para a diretora não ser tão abstrata, pois o filme tem todo um condicionamento clássico que faz com que os votantes gostem dele, tendo uma beleza sentimental bem trabalhada no cerne, porém só quem tiver com uma paixonite fora de controle é capaz de se envolver como a trama, afinal como é dito no pôster: "toda história de amor é uma história fantasma".
Um grupo de operários sai para o mar em busca de uma vida melhor em outro país. Depois disso, as mulheres que eles deixaram para trás em Dakar são acometidas por uma misteriosa febre. Embora prometida para outro homem, a jovem Ada sofre secretamente por seu amor Souleiman, que partiu com o grupo. Um incêndio acontece na noite do casamento de Ada, e um jovem policial é enviado para investigar. O que ele não sabe é que os operários voltaram na forma de espíritos. Muitos deles estão em busca de vingança por não terem recebido pagamento, mas Souleiman tem um propósito bem diferente: estar com Ada por uma última vez.
Em seu primeiro longa como diretora, Mati Diop soube dar um bom tom para os jovens atores se desenvolverem, de modo que acabamos até sentindo as emoções nos olhares de cada um dos protagonistas, pois ao deixar eles bem livres ao ponto de nem vermos seus atos ficarem presos, o resultado soa agradável de ver. Porém faltou um pouco mais de atitude para que a diretora acertasse seu filme, afinal ela ficou muito em cima de gêneros que costumam ser mais amarrados, como o terror envolvendo espíritos vingativos, e o romance entre vidas com um questionamento dramático, e acertar nessa briga de pontos é algo muito difícil, ou seja, talvez se ela optasse por algum dos dois de cara, o resultado sairia mais fácil, e não cansaria tanto com as abstrações que ela opta por trabalhar, e assim, veríamos um filme mais palpável e menos bobinho. Claro que por fazer dessa forma ela atraiu outros olhares, mas garanto que a maioria ao conferir irá dormir na metade, ou desistirá do filme, pois não tem nada que nos prenda realmente ao resultado final.
Sobre as atuações, diria que a grande sacada da diretora foi pegar jovens que nunca atuaram e dar força para que eles encontrassem suas melhores expressões, claro que isso fez com que o filme ficasse estranho em alguns momentos, mas todos se doaram bastante e encontraram olhares bem colocados e de certa forma acabamos nos conectando bem com os protagonistas vividos por Mame Bineta Sane com sua Ada e Amadou Mbow com seu Issa, pois entregaram sínteses bem colocadas, fizeram suas cenas com temor e com imposições corretas, e acabaram soando interessantes de ver, ou seja, podem até se dar bem na carreira mais para frente, pois foram dinâmicos e coesos no que fizeram. Quanto aos demais, as garotas exageraram um pouco com as lentes brancas para parecerem cegas, mas fizeram boas caras e bocas ao menos, e não atrapalharam, isso é o que vale a pena.
O visual que a equipe escolheu foi bem simples, sem nada que saísse do eixo, trabalhando bem o bar aonde as jovens vão se encontrar com os pedreiros, a delegacia singela, e as casas se contrapondo bem entre as jovens simples, os ricos que compram seus casamentos, e os donos de obras riquíssimos, com nuances bem moldadas para retratar a diferença de classes, ou seja, o longa foi todo moldado para criticar os fatos, e brincou com poucos elementos, mas usando de artifícios como as lentes nas jovens possuídas pelos espíritos, e claro todo o visual praiano intrigante ao fundo. Não digo que seja algo que vá muito além, mas o filme em si tem uma pegada levemente suja na fotografia que acaba sendo bacana de ver também.
Enfim, é daqueles filmes que dá para pensar bastante, mas que também poderia ter ido muito além e ficou no básico, de forma que o maior erro foi não escolher bem o lado que iria atacar de forma a resultar em algo simples, romantizado e sem muitos elos fortes, sendo que alguns vão até ver algo a mais, mas não consigo ver muito potencial na trama para tudo o que foi falado e premiado, e sendo assim, recomendo ele com muitas ressalvas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.
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