Uma história deliciosa, com atuações incríveis e que consegue simbolizar muito de tudo o que vimos nos últimos anos dentro da Igreja Católica, de tal forma que ao conferir o longa da Netflix, "Dois Papas", nos vemos sorrindo o tempo inteiro com as boas sacadas, relembrando tudo o que ouvíamos na época, e conhecendo muito mais da vida de ambos os personagens, apesar de já ter conferido o longa argentino "Conquistando Corações" que mesmo sendo fraco mostrou um pouco de Jorge Bergoglio, que aqui tiveram uma precisão cirúrgica para que Jonathan Pryce desse um show de personalidade, e junto com o mestre Anthony Hopkins (que está a cara de Bento XVI) fizeram do filme algo singelo, cheio de boas desventuras, e que com um carisma único conseguiu passar a mensagem de mudança necessária da Igreja, que vem sendo construída e reclamada pelos clãs mais fervorosos. Ou seja, um filme gostoso mesmo de conferir, cheio de ambientações perfeitas, de momentos de respiro, e principalmente com um acerto único de envolvimento, pois a ideia da trama era bem essa, de abranger mais do que causar, e funcionou, pois vemos de tudo um pouco, e o resultado emociona e agrada.
O longa nos situa em Buenos Aires, 2012. O cardeal argentino Jorge Bergoglio está decidido a pedir sua aposentadoria, devido a divergências sobre a forma como o papa Bento XVI tem conduzido a Igreja. Com a passagem já comprada para Roma, ele é surpreendido com o convite do próprio papa para visitá-lo. Ao chegar, eles iniciam uma longa conversa onde debatem não só os rumos do catolicismo, mas também afeições e peculiaridades da personalidade de cada um.
Claro que aqui temos uma ficção que foi baseada em alguns fatos reais, então não sabemos exatamente o que é real e o que o roteirista Anthony McCarten, especialista em biografias, que fez de "Bohemian Rhapsody", "O Destino de Uma Nação" e "A Teoria de Tudo" grandiosos sucessos, e que aqui não iria jogar tudo para o alto, ou seja, temos boas pontuações de ambos os papas, temos uma energia bem trabalhada na dramaticidade do roteiro, e principalmente temos tudo bem conectado para que o diretor brasileiro Fernando Meirelles acertasse a mão numa condução magistral, cheia de símbolos, cheia de envolvimentos, e que principalmente funciona bem dentro do que deseja passar, não soando abusivo em momento algum, muito menos exagerado de ideias, de modo que acabamos nos sentindo meio que junto dos protagonistas ao estarem nos contando suas histórias, seus atos ruins de vida que mereceram ser perdoados, e principalmente como é a dificuldade de organizar um rebanho imenso desgarrado, como vem acontecendo dentro da Igreja, ou seja, o filme em momento algum desrespeita ninguém, o que é excelente, pois ao lançar o trailer a Netflix já levou diversas acusações dos mais fervorosos, e a trama passa exatamente o contrário do que reclamaram, e isso foi um acerto perfeito de não colocar tanto no trailer, pois a surpresa envolve, agrada e funciona muito, o que é bacana de ver, e mostra que a dupla de roteirista e diretor acabou acertando em cheio.
Não tenho nem o que falar das atuações, ou melhor tenho que elogiar o que ambos os protagonistas fizeram em cada um dos momentos do longa, daqueles que certamente merecem e merecerão cada indicação aos diversos prêmios que irão concorrer, pois foram perfeitos de trejeitos, de movimentações, de tudo, de tal forma que conseguimos enxergar neles perfeitamente cada um dos papas, e mais do que isso, conseguimos ter olhares humanos na personificação de entidades tão fortes, e certamente quando mais pra frente nos perguntarem quem fez tal papa no cinema, vamos lembrar de ambos, ou seja, Anthony Hopkins colocou para seu Bento XVI um vértice forte, trejeitos marcantes que víamos na personalidade que muitos nem gostavam dele, mas vimos também um homem rígido com suas crenças, indisposto para mudanças, e principalmente desesperado com tudo o que estava acontecendo ao seu redor sem transparecer, ou seja, perfeito. E da mesma forma vemos Jonathan Pryce sutil, cheio de esperanças, com olhares carismáticos, com envolvimento nos seus atos, querendo mudar tudo, mas também muito preocupado com o que fez no passado, e trabalhando de uma forma coesa ele passou uma aura tão boa de vermos na telona da mesma forma que o Papa Francisco tem demonstrado em suas atitudes, ou seja, deu show também. Além deles, temos de pontuar também a ótima desventura de Juan Minujín como Jorge jovem, em seus atos na ditadura, na vida antes de se tornar padre, e que com muita destreza conseguiu convencer bem com sofrimento e dureza nas atitudes, mostrando-se um ator determinado e cheio de estilo também.
Visualmente podemos dizer também que o estudo da equipe de arte sobre os locais dentro do Vaticano, da residência de verão do Papa, e claro dos locais da Argentina que sofreram muito com a ditadura no país nos anos 70, foi de um primor incrível, pois tudo foi muito bem ambientado, estudaram os diversos atos que ocorreram e que vimos pela TV nas devidas posses papais, mostrando os quesitos de figurino, de trejeitos, de elementos cênicos, ou seja, tudo numa composição tão bem feita que acabamos até perdidos para onde olhar, pois tudo foi na medida certa para bem representar, mas mais do que isso, para não falhar com quem é mais religioso, e nesse sentido o longa passa paz principalmente, pois a cada ato vemos serenidade por parte dos personagens, que andam bem envolvidos e agradam sem precisar forçar em nada, além claro de diversas imagens reais de arquivo que foram usadas também na trama, ou seja, um acerto atrás do outro.
Enfim, um filme daqueles que nos envolvemos e que tranquilamente assistiríamos mais que uma vez, pois não tem grandes falhas, que passa a mensagem sem forçar a barra, e que principalmente foi muito bem montado para funcionar para ambos os públicos, sejam eles religiosos ou não, ou seja, quase perfeito. E digo o motivo da palavra quase no texto, faltou talvez para o diretor querer ousar um pouco, e isso talvez até seria um tiro em tudo o que vem conquistando, mas essa "falha" vai acabar se tornando um acerto, e dessa forma vale demais a recomendação para que todos assistam esse belo filme que passou em alguns cinemas, e que agora já está na plataforma da Netflix para quem bem quiser conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto logo mais com mais textos, então abraços e até lá.
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