Primeiro de tudo, não é por ser uma animação que é filme para crianças, então por mais que o filme pareça bacana e bonito pelas forma gráfica, se for conferir "Os Olhos de Cabul" não deixe os pequeninos na sala, pois não irão entender, e até podem se chocar com alguns atos. Dito isso, o filme é daqueles fortes na essência e belos na concepção, pois trabalha com uma técnica quase que pintada a mão em aquarela, dando nuances diferentes na pegada de algo que não seria fácil de transportar para uma animação, afinal as regras do talibã são duríssimas, e quem não a segue é punido com muita intensidade, ou seja, vemos situações violentas, vemos imposições contra as mulheres de uma maneira bem crua, e principalmente vemos emoção na tela, de modo que tudo junto acaba funcionando demais.
O longa nos mostra que no verão de 1998, a cidade de Cabul, no Afeganistão, é ocupada pelo Talibã. Mohsen e Zunaira são um casal apaixonado que, apesar da violência e destruição a sua volta, deseja acreditar que há esperança em seu futuro. Porém, um ato sem sentido cometido por Mohsen pode arruinar suas vidas para sempre.
É bem interessante ver a formatação que as diretoras Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec fizeram nessa animação conjunta entre França, Suíça e Luxemburgo, de modo ao trabalhar um tema duro com sutileza esperávamos ver algo que fosse bem mais incrustado em algo menos forte, pois geralmente quando vamos ver uma animação já esperamos algo que possa trazer ambientações bem colocadas, e aqui essa forma de pintar a telona serviu para que o filme não ficasse tão seco, pois certamente essa história contada com pessoas seria daqueles dramas doloridos, cheios de princípios, e talvez nem envolvesse tanto, mas da forma colocada aqui vemos tudo e acreditamos com uma beleza bem moldada, que resulta em um filme que vai muito além.
Um único adendo que poderia dizer que talvez seja estranho até de reclamar, é que mesmo com tudo sendo muito bonito de ver, o que vai rolar fica tão implícito de cara, que mesmo que fizessem qualquer coisa diferente o resultado seria bem melhor, mas os diversos momentos que precedem o ato são tão bem transcritos para a tela, que mesmo os personagens não sendo daqueles que nos afeiçoamos, acabamos vendo o filme com uma vivência tão boa, que tudo entra em nossa mente, e saímos da sessão pensando em mil possibilidades, mil atitudes, e isso é algo raríssimo de ver em animações, ou seja, acertaram a mão no estilo, e assim fizeram para que tudo funcionasse.
Sobre o visual, não li muita coisa sobre a trama, mas certamente a técnica de pintura é algo que impressiona a cada novo ato, pois não temos traços marcantes, mas sim um molde que deslancha na tela, e isso é algo que tem de ser muito valorizado, pois se já desenhando com traços fazer uma animação funcionar na telona já é algo incrivelmente difícil, com algo que não tem essas linhas, apenas uma pintura em movimento, já faz valer cada momento visto funcionar.
Enfim, é daqueles filmes completos, que nos envolvem tanto pela beleza cênica, que só por isso já valeria a recomendação, mas que por trabalhar com um tema tão forte que é a mulher nessa cultura do Talibã, o envolvimento de alguns homens com isso, e tudo mais, faz ele se tornar quase que obrigatório a conferida, e só não dou uma nota melhor pelo óbvio fechamento, pois do restante é perfeito. Bem é isso, vamos para mais uma sessão da Itinerância da Mostra Internacional de São Paulo, e logo mais volto com outro texto.
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