Alguns filmes possuem texturas tão imponentes no desenvolvimento que acabamos sentindo até mais do que realmente acabam passando pela história, de forma que um filme de época pode transpor ideias e situações que realmente aconteciam lá, mas que hoje fazem um sentido comum, e ver isso passa sensações e sentimentos que fluem fáceis conforme vamos acompanhando a saga da protagonista, bem como as interseções com a vida de todas as irmãs e vizinhos em "Adoráveis Mulheres". Ou seja, é um filme que marca um estilo, mas que permeia vários outros pela forma gostosa que a diretora encontrou para trabalhar diversos temas em cima do livro que o longa foi adaptado, porém muito longe de se manter presa a algo que certamente impõe mais a época, Greta soube usar os problemas atuais que coubessem dentro do longa para resultar numa trama ampla e que vai fazer muitos se apaixonarem por todos os personagens, mesmo que odiando alguns, além claro de várias épocas rolando ao mesmo tempo para nos deixar confusos, mas envolvidos com tudo.
O longa mostra que as irmãs Jo, Beth, Meg e Amy amadurecem na virada da adolescência para a vida adulta enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil. Com personalidades completamente diferentes, elas enfrentam os desafios de crescer unidas pelo amor que nutrem umas pelas outras.
Sei que muitos vão falar que não, mas senti muita semelhança de estilo de direção desse filme com o anterior da diretora e roteirista Greta Gerwig, "Lady Bird", principalmente pela forma empoderada das mulheres, da forma desejada de viver da protagonista, e até mesmo pelas sacadas colocadas, e claro pela protagonista em si que é a mesma, o que mostra a forma que Greta gosta de trabalhar, e assim já ficaremos preparados para os seus próximos trabalhos. Dito isso, aqui outro fato bem marcante é o estilo de época, pois o filme se passa nos anos 1860, mas tem uma pegada moderna de vivência transparecendo na protagonista por ser diferente das irmãs que desejam se casar para manter a família, mas sem precisar forçar a barra com isso, a diretora soube passar a harmonia de uma forma mais envolvente, mostrando as opções, as desavenças com as irmãs por alguns motivos fúteis, outros nem tanto, e com isso o filme deslancha bastante, o que foi uma grata surpresa, pois ao ver época, temática e tudo mais, esperava que o filme fosse cansar mais, mas não, ele flui felizmente bem. Ou seja, vemos um estilo próprio da diretora, e por se tratar de uma adaptação literária é bacana notar que o filme também não ficou amarrado como se fosse capitular, ou tivesse precisões forçadas que comumente notamos em longas do estilo, indo muito pelo contrário para mostrar algo até mais aberto e vivenciado do que uma trama talvez datada, o que mostra uma adaptação de primeiro nível.
Sobre as atuações, primeiramente temos de observar o elenco incrível de mulheres que a trama conseguiu juntar, mostrando que desde as jovens que estão no começo de suas carreiras mandam muito bem, como as mais experientes ajudaram a dar um tom bem clássico e imponente para que o filme funcionasse. Saoirse Ronan é precisa com sua Jo, mostrando ares chamativos, conseguindo dominar a protagonização de cada ato, e até mesmo nos momentos que precisou demonstrar insegurança, acabou fazendo com um ar forte que funciona demais, ou seja, caiu como uma luva como personagem principal. Da mesma forma Florence Pugh conseguiu entregar uma Amy quase que de nível de inveja gigante, que por vezes acaba soando estranho, mas que quem tem irmãos sabe que rola, não dessa maneira, mas sempre acaba acontecendo, e aqui a jovem faz caras e bocas para impressionar, e acaba dando certo. Emma Watson acabou ficando introspectiva demais com sua Meg, daquelas que até desejava algo a mais, mas decide de cara casar, e se entrega para isso, ficando bem em segundo plano. E Eliza Scanlen acabou fazendo de sua Beth o problema da família, fazendo trejeitos meio depressivos demais, mas que acabam funcionando para o resultado final. No lado masculino, a jovialidade de Timothée Chalamet cai como uma luva para o personagem de Laurie, de modo que seus olhares meio jogados acabam dando o tom do riquinho que tem tudo e pode fazer o que desejar, mas que ao ser ignorado também se deprime, e ele acerta cada ato com ares despretensiosos tão bem feitos que agrada demais. Louis Garrel aparece pouco na trama, mas foi chamativo nas cenas que trabalhou, e começa a se mostrar mais preparado para longas comerciais, saindo um pouco do eixo artístico para quem sabe ainda ser daqueles galãs que Hollywood tanto almeja. No lado mais experiente, Laura Dern conseguiu criar uma mãe envolvente, exagerada em alguns pontos de caridade demais, mas que soa bacana de ver, enquanto pelo lado completamente oposto Meryl Streep faz uma tia rica e que não liga para ninguém além dela, com muito brilhantismo, mas sem chamar a atenção para si, deixando isso para as jovens. Os demais apareceram pouco, mas foram bem também, o que acaba funcionando na trama.
No conceito cênico temos quase uma pintura, cheia de texturas, com muito envolvimento das casas por onde as protagonistas passam mostrando desde os bem pobres, passando por elas, até chegar na alta nata da sociedade, o que acaba sendo mostrado por figurinos, por locações, e até mesmo pelo estilo de se portar dos personagens, abrindo um leque tão bem marcado que envolve a todos, além do outro lado sendo mostrado na composição de um livro através da editoração mais para o final do longa que é outro show, ou seja, a equipe de arte criou mais do que apenas um longa de época, mas soube brincar com tudo para que a diretora brilhasse.
A trilha sonora de Alexandre Desplat é marcante e se mantém viva quase que durante todo o longa, de modo que até em alguns atos acabamos não percebendo sua presença, mas está ali para ditar o ritmo e quebrar os atos, o que acaba sendo um luxo para a trama.
Enfim, é um filme que muitas mulheres vão amar, mas que vale muito a pena para todos, pois é algo mais amplo do que apenas uma história, é um modo de viver, de pensar, e que com muita desenvoltura artística acaba passando boas mensagens, atitudes, e o resultado envolve a todos. Ou seja, vale muito a recomendação, pois certamente é presença garantida de indicações na maioria das premiações, então para não perder nada, vá conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até lá.
PS: Só não dou uma nota maior para o filme pelo excesso de quebras temporais, que são bacanas para o funcionamento do filme, mas que num piscar de olhos você pode se perder e o filme não atingir o mesmo resultado, sendo que talvez de uma forma direcionada melhor agradaria bem mais.
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