É bacana ver que esse ano os filmes que concorreram a melhor longa estrangeiro, mas não conseguiram entrar na lista final, estão aparecendo pelo interior (claro que falta vir os da lista, mas nem tudo são flores!), pois geralmente muitos acabam ficando bem longe daqui, e aparecendo somente em festivais. Dito isso, o longa holandês "Instinto" tem muita personalidade, tem força, e entrega um tema bem polêmico que são os tratamentos psicológicos de algumas clínicas de recuperação, e claro também os próprios terapeutas que costumam já ter problemas com o que trabalham, ou seja, um âmbito denso para se discutir, porém aqui temos o problema tradicional de alguns filmes mais artísticos, o exagero em dar momentos de reflexão, e a falta de um fechamento com a opinião do diretora, de modo que a trama apresenta, aquece o tema, mas fecha de modo simples, o que não era esperado de forma alguma para tudo o que vimos durante o longa. Claro que ainda assim é um filme bem forte e interessante, com atuações imponentes e tudo mais, mas talvez uma escolha de final menos jogada seria melhor e agradaria bem mais.
A sinopse do longa nos conta que Nicoline, uma psicóloga experiente, inicia um novo emprego em uma instituição penal, apesar de ter decidido nunca mais voltar à psiquiatria. Ela conhece Idris, um homem inteligente com um distúrbio de personalidade antissocial e narcisista, que cometeu uma série de crimes sexuais graves. Após cinco anos de tratamento, ele está prestes a ter sua primeira saída em liberdade condicional desacompanhada. A equipe de profissionais da instituição está entusiasmada com o desenvolvimento e comportamento do condenado, mas Nicoline não confia nele nem um pouco. Ela tenta adiar a soltura, para o espanto de seus colegas de trabalho. Idris tenta ao máximo convencer Nicoline de suas boas intenções, mas, como ela permanece cética, ele vai ficando gradualmente mais violento em relação a ela, transformando-se em um homem manipulador – o que Nicoline viu nele desde o começo. Um jogo de poder surge entre os dois e Nicoline, apesar de seu conhecimento e experiência, deixa-se envolver, e acaba em uma situação muito tensa e perigosa.
É bem fácil entender o motivo do filme ser fechado de maneira brusca e quase sem um final condizente com tudo o que acabou ocorrendo durante o longa, basta olhar a filmografia da diretora Halina Reijn, e verá que como atriz já fez diversos filmes, foi bem premiada, porém é sua estreia por trás das câmeras, e a história também é sua, então sem um roteiro mais fechado e sem ela saber realmente como poderia ter ido além, o longa fica muito forte no miolo, mas precisou de uma cena simples para o fechamento não soar largado, pois confesso que faltando alguns minutos para o final pensei: "esse filme vai acabar sem nexo algum", e ao mesmo tempo ouvi um casal que estava na fileira debaixo da minha falar: "ela vai se matar", ou seja, dois finais imponentes que até seriam coerentes para um filme artístico, mas não, vemos algo comum e que até tem um certo sentido, mas muito fraco comparado a tudo o que a personagem tinha dentro de si para passar, e dessa forma posso dizer que Halina precisará ainda apanhar mais um bom tanto na cadeira de diretora para encontrar fechamentos melhores, ainda que seu filme tenha ficado intrigante ao menos.
Quanto das interpretações, vemos uma Carice van Houten incrível com sua Nicoline, de modo que entrega tantos trejeitos que em determinados momentos queremos até bater nela por suas atitudes, e isso é bom, pois mostra a capacidade de uma atriz de fazer o público se conectar com o drama passado por ela, e o resultado de sua personagem é mais complexo até mesmo que a própria trama do filme. Marwan Kenzari tem um bom estilo e imponência com o que faz, de modo que seu Idris consegue mesmo sendo um criminoso acaba trabalhando com ares sensuais e faz com que até mudemos nossas opiniões em determinados momentos, porém essa sua dinâmica é algo que o ator soube trabalha incrivelmente bem, quase sendo daqueles duas caras, e o acerto foi iminente e forte de ser visto. Quanto os demais personagens, diria que ou foram mal escolhidos os atores, ou faltou um algo a mais para a diretora conseguir passar a essência deles, pois vemos uma personificação aberta demais com a mãe, vemos uma estagiária alegrinha demais para a área psicológica, um treinador meio sem rumo, e por aí vai, de modo que o filme soa frouxo quando depende de outros atores sem ser os protagonistas, e isso é muito ruim de ver.
Sobre o ambiente visual em si, a instituição ficou muito estranha, de modo que parece em alguns momentos quase um prédio comercial abandonado, em outros apartamentos conjuntos, e isso é muito estranho de ver, não parecendo uma prisão tirando os momentos na área de recreio dos presos, mas como não conhecemos as unidades prisionais em outros países, não vamos acusar que isso seja um erro, mas souberam trabalhar bem nos elementos cênicos da trama, colocando bons detalhes para representar cada um dos personagens, suas atitudes, e com isso as demais locações resultam em situações fortes e bem coerentes, que envolvem e funcionam.
Enfim, é um filme inteligente e interessante, com uma proposta cênica bem envolvente, mas que falhou um pouco demais nas escolhas da diretora, de modo que o filme poderia ter ido muito além sem respiros, e com um fechamento mais pegado, pois foi fácil a opção da protagonista, e isso não era o imaginado se levarmos em conta tudo o que ela já sofreu. Ou seja, até recomendo bem o suspense, mas muitos irão se decepcionar com o final, assim como aconteceu comigo. Bem é isso pessoal, encerro por aqui a semana nos cinemas, mas volto em breve com filmes do streaming, então abraços e até logo mais.
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