Quando começou os estouros de processos e declarações de assédio nos bastidores das TVs e dos estúdios de cinema, muita gente apoiou, outros viraram a cara, mas a maioria se surpreendeu como era um meio bem sujo esse de conseguir vagas de emprego e ascensões a cargos de destaque na mídia, e principalmente o que se viu foi que muitas mulheres mesmo não apoiavam outras fosse por medo de perder o emprego ou por apenas não querer acreditar naquilo, ou seja, foi algo que surgiu como uma bomba, depois esfriou, até que nos últimos nos tem acontecido casos mais imponentes e tudo tem ao menos tentado melhorar para com essa situação nojenta que muitos donos e diretores de grandes mídias fazem e faziam para com as mulheres. Pois bem, dito isso, o longa "O Escândalo" mostra como foi o processo de um dos primeiros casos que explodiram em 2016 na Fox News, e depois veio com muito mais força com várias outras mulheres revelando os assédios que sofreram em outros lugares, e aqui a grande sacada foi transformar o longa em um filme não sujo de situações, mas sim sujo no ar com tudo o que víamos ocorrendo, e chega a dar ânsia ver algumas declarações do filme de tão diretos que alguns atos se mostraram. Claro que o filme em si é bem forte, a trama tem um funcionamento bacana, mas diria que o maior problema dele foi não ser direto no processo em si, e nos atos que ocorreram na sequência, pois da forma entregue acabaram colocando personagens demais, situações abertas demais, contextos fora do ambiente e tudo mais, o que fez com que os quatro protagonistas precisassem quase que gritar para aparecer no meio de tudo, e de personagens que até surgem do nada, e isso é muito ruim, mas ao mesmo tempo fez com que elas se destacassem, e as indicações estão aparecendo direto, o que é bom para o filme.
O longa nos mostra um olhar revelador dentro do mais poderoso e controverso império de mídia norte-americano, com a história pulsante das mulheres que afrontaram o infame homem à frente deste império, ao o acusarem de assédio sexual.
É bacana ver que a adaptação caiu nas mãos de um roteirista que já fez outros grandes trabalhos com outras obras polêmicas, e dessa forma Charles Randolph soube criar uma trama bem amarrada e cheia de detalhes, porém colocou muita coisa aberta para que o diretor Jay Roach criasse uma boa desenvoltura, de modo que o estilo também do diretor não é de filmes mais amplos. Claro que muitas mulheres vão dizer que o ideal aqui seria uma mulher dirigindo para mostrar mais do assédio, mas não é nem esse o grande problema da trama, e sim o exagero de aberturas que fez com que o filme tivesse personagens demais, alguns até bem importantes para o resultado geral, e não souberam como usar todo esse grupo, de forma que os filhos do dono da Fox aparecem praticamente do nada mais próximo do final e somos praticamente obrigados a querer entender seu ranço contra o poderoso chefão da emissora, outras mulheres apenas fazem suas jogadas, mas não insinuam nada para o final, algumas até meio sem eira nem beira. Ou seja, acabaram dando o ar todo para a trama, desenvolveram tudo para que o filme funcionasse bem, e deixaram toda a responsabilidade para os quatro principais sobreviver a tudo, e infelizmente isso não é uma função fácil em um longa grande desse estilo. Sei que todos sabem que não sou fã de séries, mas talvez essa história toda numa minissérie de uns 6 capítulos ficaria genial, pois todos poderiam melhor se desenvolver, ou talvez enxugar melhor o ambiente para que tudo ficasse somente em cima do processo, não necessitando envolver Trump, envolver outros executivos, colocar temática homossexual, partidos e tudo mais, que aí sim o filme ficaria mais focado, o estilo seria acertado, e o resultado seria imensamente melhor.
Sobre as atuações como já falei até mais que uma vez, vamos focar nos protagonistas, e é bem fácil entender suas indicações aos diversos prêmios, pois cada uma entrega tanta personalidade para seu papel que nos vemos ao mesmo tempo emocionados com o que estão sofrendo, e bravos para com o restante, então vemos Charlize Theron imponente com sua Meggy, cheia de postura, direta na opinião, e sendo a apresentadora de maior prestígio do canal, sempre pronta para desafiar a tudo e todos, mas quando baixa a guarda, ela ainda se impõe e pensa, o que é bem intrigante de ver. Da mesma forma Nicole Kidman coloca para sua Gretchen olhares, sensações, e até mesmo o desespero de acabar de vez com sua carreira com suas atitudes, e a atriz se doa de uma forma que envolve e emociona demais, principalmente na frente dos filhos, fazendo de sua personagem quase o elemento chave da trama explodir, e como sempre a atriz dá show. Agora sem dúvida alguma ver as diversas expressões de Margot Robbie para com sua Kayla é de querer ajudar a jovem de qualquer forma, pois se entrega desesperada em diversas cenas fortes, desde a com o chefão da emissora, até no seu encontro com um executivo e ao telefone fala com a amiga, de forma que vemos a jovem numa desenvoltura tão bem colocada que certamente mostra cada vez mais seu crescimento e acerto na escolha de personagens. Quanto a John Lithgow fazendo Roger Ailes, primeiro temos de falar que as premiações de maquiagem e cabelo estão ganhas só com o que fizeram com ele, dito isso, o ator soube chamar a responsabilidade e entregar cenas fortes, de diálogos diretos, e com muita imponência sem falhar em nada, e isso é algo que mostra sua preparação total, com um acerto fácil e que vale ser observado. Quanto aos demais personagens, se formos falar de todos vamos ficar horas aqui, mas vale leves destaques para Kate McKinnon com sua Jess bem trabalhada e Rob Delaney com um Gil fraco de atitudes demais, mas que mostra bem o que muitos homens pensaram na época.
Sobre o visual da trama, acaba sendo bem bacana o começo acelerado com a protagonista nos mostrando como é a estrutura do prédio imenso da Fox News, mas ao mesmo tempo que vai andando e falando acabamos não nos conectando tanto nem com ela, nem com aonde é cada coisa, de modo que durante o filme ainda ficamos levemente perdidos de onde está acontecendo tudo, mas nada que atrapalhe muito o resultado da trama, de modo que se não gravaram realmente nas estruturas originais, conseguiram passar bem o ambiente de um estúdio, de uma redação, de um escritório presidencial, ou seja, foram bem arranjados nesse conceito, além claro de mostrar bem rapidamente o ambiente dos debates presidenciais da Era Trump, que daria completamente outra boa história de filme. Ou seja, um filme conceitualmente bem estruturado, com um visual que digamos até é simples, mas que necessitou muitos figurinos, muitos ambientes minuciosos, e claro muita bagunça cênica, o que as vezes parece fácil, mas é extremamente difícil de ficar bem feito, e aqui ficou.
Enfim, é um filme que alguns vão adorar ver as tretas acontecendo, vão falar um monte de "vixe" e "eita" em cada uma das cenas polêmicas, mas que foi exageradamente corrido, e ficou faltando enfiar a faca um pouco mais nos grandes nomes, pois apenas um foi pouco para mostrar, e a cena final diz muito do que sabemos sobre como acabam ocorrendo as denúncias, ou seja, poderiam ter ido além. Não digo que é um filme ruim de acompanhar, pois é bem dinâmico e passa num piscar de olhos, mas que saímos da sessão esperando muito mais, e isso não é bom de acontecer em um filme polêmico. Sendo assim até recomendo ele, mas vão com baixas expectativas, pois a chance de não se empolgar com o que verá é bem alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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