É sempre bem interessante ver um bom jogo estratégico retratado na forma de filme, e tanto o xadrez quanto a guerra são modalidades em que um erro na estratégia toda pode ser fatal, então o que pode acontecer se juntarmos os dois em um único filme? Certamente essa deve ter sido a pergunta que o roteirista de "Partida Fria" teve, e que acabou resultando em um longa bem intenso de atos, com situações amarradas na medida, que conseguem fazer com que o público se envolva bastante com o protagonista, e claro com tudo o que está rolando ao fundo, afinal sabemos bem o desenrolar da Guerra Fria na época, e que ultimamente voltou a ser falado nos bastidores de ambos os protagonistas (EUA e Rússia) sobre equipamentos nucleares. Ou seja, é um filme de época, mas com uma temática bem atual de quebras de sigilos, de personagens infiltrados, e que através de uma mera partida de xadrez diplomática acaba sendo tema para muitas outras situações. Diria que o filme tem uma fluidez um pouco lenta, e algumas dinâmicas abertas e jogadas demais, mas que de um certo modo fica interessante de acompanhar e o resultado final agrada.
A sinopse nos conta que jogando uma grande partida de xadrez em Varsóvia contra o campeão russo, um brilhante, mas esquecido ex-campeão dos EUA e alcoólatra, Josh Mansky é sugado para o mundo da espionagem e do conflito entre as superpotências do mundo. À medida que a crise militar aumenta, o jogo de xadrez assume uma importância inimaginável. Os americanos correm o risco de perder os dois jogos - o xadrez e o domínio do mundo.
Acredito que o maior problema do filme tenha sido a falta de uma direção mais consistente, pois sempre deixando buracos na trama, o diretor estreante em longas Lukasz Kosmicki acabou fazendo com que sua trama tivesse sim um fluxo bem trabalhado de ideias, mas em momento algum ele fecha o elo mais fraco do momento e tudo se solta, ou seja, ele dependeu mais das atuações e dos materiais de arquivo para amarrar o filme do que o seu próprio roteiro em si, mas longe disso se tornar um grande problema, conseguiram na edição moldar todo o resultado e segurar essas pontas para que nem o filme ficasse cansativo, nem o resultado final desanimasse. Sendo assim podemos afirmar facilmente que é um filme denso, com um tema forte, mas que precisou muito cuidado para não falhar em elementos simples, o que é ruim de ver, porém felizmente acabamos fechando o longa gostando do que é mostrado e esquecendo os erros de lado.
Sobre as atuações, diria que Bill Pullman soube segurar bem seu personagem, fazendo com que seu Mansky tivesse tanto os olhares de um alcoólatra quanto de um gênio, e fazendo boas facetas expressivas, dominando o ambiente e até segurando a trama para outros personagens mais fracos ele acabou fazendo com que o filme fluísse ao seu favor, o que é bacana de ver na tela, mostrando que ainda sabe dar show. Lotte Verbeek entregou uma agente Stone sensual com uma pegada mais simples de olhares, fazendo seus atos sem muita desenvoltura, mas também não pecando pela força, e com isso resulta em boas cenas, mas nada que nos impressione. O adversário vivido por Evgeniy Sidikhin foi fraco demais de expressividade, e se o lado russo dependesse da atuação dele seria uma guerra completamente perdida, mas por sorte tivemos Aleksey Serebryakov como General Krutov, que se impôs bastante e chamou a responsabilidade de vilania para si, dando um ar tenso nas suas cenas de tortura física e psicológica de maneira interessante de ver. Robert Wieckiewicz entregou muita personalidade para seu diretor de cultura da Polônia, e com cenas divertidas pela bebedeira ou pelas atitudes em si que faz, o resultado acaba chamando bastante atenção.
Quanto da parte cênica, por ser um filme polonês, arrumaram locações intrigantes, bem características de paisagens de guerra, mostrando ambientes destruídos, passagens secretas, teatros lotados de pessoas uniformizadas militarmente, dando um contexto até diferente do usual de longas de jogos, e que com uma amplitude simples da direção de arte, mas com características bem centradas o resultado até passa como algo a mais, mas certamente poderiam ter ido além nas cenas de briga, nos momentos de tensão de guerra sem precisar de imagens de arquivo, e assim o resultado visual seria mais completo. A fotografia ficou bem marcada por tons escuros para criar tensão, tendo um ou outro momento com poucos tons abaixo, mas nada que amenizasse a densidade do longa.
Enfim, é um filme que quem gosta do estilo irá assistir e curtir, mas que quem procurar falhas irá achar até mais do que o normal, pois falta um pouco de tudo para um resultado maior. Ou seja, é um bom filme, mas nada surpreendente demais, que até dá para conferir em casa tranquilo num momento mais relaxado, afinal como está no streaming da Netflix, podemos ver na melhor hora possível, e assim acaba sendo a minha recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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