O cinema espanhol é bem semelhante ao nacional pelo fato de que ou vemos filmes excelentes ou tremendas bombas, mas lá é bem fácil identificar qual você deve ir, se foi indicado ao Goya é fato que será daqueles ao menos interessante de conferir, e se ganhou algum então é certeza de se apaixonar. No longa que a Netflix estreou nessa semana, "O Poço", tivemos 3 indicações (roteiro, diretor estreante e efeitos especiais), ganhando nessa última categoria (aliás o movimento da plataforma é daquelas bem interessantes de acompanhar, além das diversas mortes e cortes, então foi merecido), e o filme é todo cheio de simbolismos bem abstratos, que brincam bastante com o imaginário do público, mas além desse ambiente lúdico, a trama toda é cheia de suspense, possui muita violência que traz a trama para o estilo de terror gore, e só não diria que ele foi um longa perfeito devido o diretor pecar com um fechamento simbólico demais, enquanto outros mais experientes acabariam colocando sua opinião de forma mais consistente. Porém felizmente esse fechamento lúdico não atrapalha tudo de bom que a trama teve, e sendo assim, quem gosta de um bom filme violento e interessante de ideias, fica a dica.
O longa nos apresenta uma prisão vertical com uma célula por nível. Duas pessoas por célula. Uma única plataforma de alimentos e dois minutos por dia para alimentar de cima para baixo. Um pesadelo sem fim preso no poço.
Como sempre costumo falar, é difícil um diretor estreante acertar a mão logo de cara, mas Galder Gaztelu-Urrutia foi bem coerente no estilo escolhido, e criou símbolos por onde quer que olhássemos na tela, e usando um tema abstrato, num lugar ainda mais abstrato tudo pode servir para pensar, para refletir nos dramas da sociedade comum, nos preconceitos, nas atitudes, nos elos entre céu e inferno, messias e demônios, e muito mais, ou seja, ele praticamente brincou com um bom roteiro, indo claro no fluxo, pois não vemos nada de muito surpreendente nos enquadramentos escolhidos, ou na proposta como um todo, tanto que quando precisou entregar algo a mais no final, ele simplesmente deixou para que o público fizesse suas próprias reflexões e induzisse (o que já disse ser algo que mais odeio em qualquer produção!), mas ainda assim seu resultado foi bem positivo, e com isso talvez o jovem diretor consiga mais outras boas produções para estourar mais para frente.
Sobre as atuações, é fato que o filme escolheu muito bem atores precisos de diálogos e completamente bem expressivos tanto entre os protagonistas, quanto os secundários, e dessa forma o resultado é surpreendente de olhar, e claro temos de começar falando de Ivan Massagué que foi preciso em tudo o que seu Goreng tinha para entregar, com semblantes fortes, determinações imponentes para cada ato, e principalmente um domínio incrível de como colocar suas palavras na tela, fazendo valer muito todo o tempo dele em tela. Junto dele tivemos no começo todo o cinismo de Zorion Eguileor com seu Trimagasi perfeito de "óbvios" e com os olhares mais intensos que um velhinho já desferiu, muito bom de ver. Também tivemos dois parceiros de cena do protagonista muito bons, com Emilio Buale fazendo de seu Baharat um exemplo de defesa, força e emoção, e Antonia San Juan com a estranha Imoguiri, de forma que ambos ainda se entregam bem para cada um dos momentos principais. Além desses ainda tivemos muitas outras participações interessantes no processo todo, cada um simbolizando algo e agradando bastante no resultado total do filme, de modo que não tiveram muito tempo de desenvolver seus personagens (o que talvez em uma série maior funcionaria), mas ainda assim se doaram bem para o longa, valendo claro destacar Alexandra Masangkay com sua Miharu.
O trabalho da equipe de arte foi muito minucioso, trabalhando muito bem no banquete que chegava nos primeiros andares do poço, da criatividade para cada um dos objetos escolhidos pelos "moradores" do ambiente, e claro ajudando muito na composição da ideia toda que funciona bem através de símbolos, ou seja, cada detalhe conta muito, e cada um irá tirar uma conclusão disso, mas sem dúvida a equipe conseguiu juntar ótimas maquiagens de brigas com sangue, mortes e tudo mais, com a tecnologia dos efeitos especiais, que certamente foi bem trabalhoso para dar o efeito de cascata/tridimensionalidade entre os vários andares, e aliado a isso tudo criar junto da fotografia ambientes diferentes com sombras e luzes diferentes para criar o aspecto de vida aonde não tinha, ou seja, é o melhor do filme sem dúvida junto com tudo mais.
Enfim, é um tremendo filme que poderia ter ido até além com uma opinião mais formatada do diretor, pois muitos irão ter várias opiniões sobre o filme, mas sem dúvida a principal que dá para enxergar (senão vão falar que não deixei a minha opinião também) é a de um purgatório aonde as pessoas vivem para ir ou para o céu ou para o inferno de acordo com o que fazem, em busca de salvação. Sendo assim, recomendo que vejam sem levar muito a ferro essa minha opinião do que é o filme para cada um ter a sua, mas que vejam sim o longa na Netflix, pois vale a pena. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
2 comentários:
Muito boa a análise! Interessante a descrição das personagens e a simbologia que toda a trama discorre.
Obrigado amigo!! Filmaço cheio de simbologias e analogias... incrível!!
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