Um dos maiores problemas de filmes históricos sempre foi querer dar noção do tempo para o público, de modo que alguns enroscam tanto no desenvolvimento que entregam verdadeiras odisseias com a trama, e infelizmente é exatamente isso que ocorre com o longa da Netflix, "A Trincheira Infinita", que quase teve a mesma duração que o nome, ou do período que o protagonista fica escondido, e embora isso passe o sentimento de solidão, de desespero, de tudo que certamente desejaram tanto no roteiro quanto na direção, a verdade é que não necessitava tanta enrolação, o filme poderia ser resolvido facilmente com 90-100 minuto, teríamos algo incrível sobre os guerrilheiros da Guerra Civil Espanhola que ficaram escondidos por muitos anos, e ainda seria um filme tenso. Ou seja, 147 minutos arrastados, com pausas para explicar termos com significados de dicionário (quase que capitulando o longa), resultaram em um filme sem atitude, que vale pela ótima atuação da protagonista (que inclusive ganhou o Goya pelo longa), e por um ou outro detalhe da produção em si, pois de resto garanto que muitos que forem conferir acabarão parando na metade, isso se chegar até a metade.
O longa nos conta que Higinio e Rosa estavam casados há apenas alguns meses quando a Guerra Civil estourou, representando uma séria ameaça à sua vida. A partir da ideia de Rosa, eles decidem usar um buraco cavado em sua própria casa como esconderijo provisório. O medo de possíveis represálias e o amor que sentem um pelo outro os condenará a uma prisão que durará mais de 30 anos.
O trio de diretores Aitor Arregi, Jon Garraño e Jose Mari Goenaga conseguiram o feito de levar o filme para quase todas as premiações espanholas, indicado em quase todas as categorias, e até ganhar algumas, porém é o clássico filme histórico que ou você ama ele, ou acaba odiando pela falta de atitude, tanto que em determinada cena o filho do protagonista fala que ele é um covarde que não tem coragem de sair da casa, e diria o mesmo dos diretores que foram covardes de enrolar tanto a trama, pois o filme tem tantos espaços para cortes que chego a ficar besta quando acabam deixando rolar, e isso é ruim para o resultado final. Claro que toda a narrativa sendo mostrada da forma que foi tem seu charme em festivais, e acaba envolvendo um público que gosta desse estilo mais amarrado, mas para quem for ver na TV é garantia de paradas a todo momento, é garantido a alta desistência, e tudo mais, pois faltou dinâmica, e isso mata qualquer filme.
Sobre as atuações é mais interessante ver a maquiagem feita nos protagonistas para que fizessem todas as fases do longa do que o que fizeram realmente com trejeitos, pois de forma alguma posso dizer que Antonio de la Torre falhou, muito pelo contrário, o ator deu personalidade para seu Higinio, e durante todo o longa sentimos suas angustias, olhamos pelos buracos com ele, e vivemos seus atos presos junto dele, mas como disse acima, a fala do filho é claríssima, o personagem é covarde demais, e com isso o protagonista não consegue se soltar tanto, e não se impõe na forma de prisão, de forma que talvez com um roteiro mais enxuto ele pudesse ter ido além. Já Belén Cuesta dá um show de envolvimento com sua Rosa, falas imponentes, olhares determinados e desesperados, tanto que levou o Goya de Melhor Atriz, que para quem não sabe é o Oscar espanhol, e merecidamente ela mostrou segura de seu personagem e deu show na tela. Vicente Vergara chega a ser daqueles chatos que ficamos mais irritados com as atitudes do personagem do que com o ator, tanto que acabamos nem notando seus olhares pelos atos inconvenientes que tanto faz com seu Gonzalo, ou seja, fez bem o papel, mas irrita. Quanto aos demais, tivemos alguns atos interessantes com Emilio Palácios como Jaime e alguns fortes com José Manuel Poga com seu Rodrigo, mas nada que fosse surpreendente no conceito de atuação.
Por ser uma produção grandiosa de época, era esperado até algo mais imponente em questões cenográficas, mas como o filme se passa quase todo em ambientes apertadíssimos, a equipe artística foi bem coesa nos elementos simbólicos, fez casas simples dentro de uma vila bem utilizada em detalhes, e principalmente souberam usar cada elemento ao máximo como os rádios, as revistas, os figurinos e claro a maquiagem para realçar tudo o que necessitavam de tempo e de ambiente, sendo um grande acerto técnico e dando um certo primor para valorizar a duração do filme. Agora um ponto ruim do filme ficou a cargo da fotografia extremamente escura nas cenas iniciais, e em muitas outras, que fizeram o filme ficar esquisito de ver em alguns atos (claro que com a loucura da pandemia a Netflix baixou a qualidade das imagens, mas o filme também não ajudou muito, o que acabou granulando muitas cenas das batalhas no começo!), e poderiam ter usado recursos de iluminação falsa para dar um tom mais bonito para o filme, e ainda manter o teor de época.
Enfim, é um filme interessante, que tem seus momentos fortes bem funcionais, mas que errou muito na duração, pois com alguns poucos cortes de cenas enroladas desnecessárias resultaria em um filme mais ágil, que agradaria mais e ainda seria um épico, mas isso é um gosto pessoal, e talvez alguns até gostem do que verão na tela, porém conhecendo a maioria do público que vê Netflix, muitos irão parar o filme na metade e nem retornarão para ver mais ele. Sendo assim, fica a dica para quem gostar de épicos, pois do contrário não vai valer a pena. Bem é isso, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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