Já vimos diversos longas envolvendo traições, espionagem, julgamentos, investigações e tudo mais de forma contemporânea ou até indo para algo nos anos mais próximos, mas não trabalhavam tanto com acontecimentos reais do passado, que mexeram tanto nesse estilo, até mostrando alguns atos mais fictícios, até que agora com "O Oficial e O Espião" tivemos algo bem intrigante envolvendo até mesmo o nome de um famoso escritor que acabou sendo julgado pelas atitudes que teve no caso, ou seja, a ideia do estilo investigativo foi bem colocada na trama pelo diretor, que claro usou muito do que costuma trabalhar com reviravoltas temporais, com personalidades marcantes, e com isso o filme tem tanto uma boa intensidade, quanto uma boa história, e assim o resultado funciona demais. Claro que poderiam ter dado uma melhorada no terceiro ato do filme, que de repente ficou meio lento de cadência para correr ao final, mas não chega a ser incômodo e acabamos nos envolvendo tanto com o protagonista que acaba sendo irrelevante esse detalhe.
O longa começa na França, em 5 de janeiro de 1895 quando Alfred Dreyfus, judeu capitão da artilharia, é condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, sob a acusação de repassar documentos para a Alemanha. Entre as testemunhas está o coronel Georges Picquart, encarregado de liderar a unidade de contrainteligência que descobriu o espião. Mas quando Picquart percebe que os segredos militares continuam sendo repassados aos alemães, descobre um esquema de mentiras e corrupção envolvendo as forças armadas. E mexer nesse labirinto coloca em risco sua honra e sua vida.
O estilo do diretor Roman Polanski é bem próprio, e logo de cara já vemos um plano aberto cheio de figurantes, uma amplitude cênica gigantesca, tudo muito bem coreografado, e ficamos pensando: para onde será que ele quer nos levar, daí depois temos diversas reviravoltas temporais para ficarmos conectando as pecinhas, até chegarmos ao final com os devidos julgamentos acontecendo tanto por parte da trama, quanto os nossos com tudo o que aconteceu, e é muito bacana de ver essa propriedade que o diretor sempre dá para seus filmes, pois sabemos bem como o formato investigativo funciona por outros filmes, sabemos o quanto um julgamento de exércitos funcionam pelo mesmo motivo, mas a junção de dois vértices, o trabalho cênico grandioso, os bons atores se entregando e desenvolvendo junto com a formatação escolhida são raras de ver, e aqui tudo funciona em tamanho maior que o esperado, tanto que é um filme artístico por ser de Polanski, mas tem ares de blockbuster, e assim sendo é garantia de que muitos gostem do que verão na telona.
Sobre os atores diria que todos tiveram seus bons momentos, e por incrível que pareça, o maior envolvido que foi o Dreyfus de Louis Garrel quase não aparece na trama, tendo uma cena no começo para se mostrar e outras ao final, que até se impõe, mas fica muito de lado, ou seja, esqueceram do papel dele e deixaram para os demais. E para compensar, Jean Dujardin se mostrou completamente conectado com o papel de Picquart, fazendo olhares densos, chamando a responsabilidade, se entregando completamente para cada cena, de modo que ficamos com nossos olhares também conectados nele, e quase esquecemos todos ao redor, ou seja, ficou perfeito para o papel. Quanto aos demais, tivemos muitas atuações fortes em pequenos papeis, de modo que cada um ao seu modo fez bons atos, chamou para si o momento, mas não conseguiram fazer com que o público se conectasse tanto, tendo somente um leve destaque para Grégory Gadebois com seu Henry, que sempre pareceu ser o atrapalhador de tudo, e que nas cenas finais foi forte e coeso nos atos, mostrando a que veio.
Agora sem dúvida alguma o luxo da produção é daquelas para aplaudir, com figurinos bem imponentes do exército francês da época, um gabinete de investigação cheio de detalhes parecendo quase uma masmorra, mas que funciona muito bem nos momentos chaves, com muitos objetos cênicos e cenas cadenciadas aonde são usados, um tribunal repleto de figurantes e personagens importantes para a trama se debatendo, e claro uma ilha que podemos dizer ser daquelas que ninguém desejaria ser abandonado (que até poderiam ter usado mais ela), ou seja, a equipe de arte foi bem coesa em cada uma das locações para entregar algo sólido, marcante de época, e que funcionasse bem dentro da trama escolhida.
Enfim, é um filme bem intrigante, cheio de nuances, que como disse no começo acabou ficando levemente cansativo no miolo, e depois precisaram correr para fechar, colocando alguns letreiros no meio do caminho para explicar alguns atos, e que poderia ser melhor resolvido, mas é o jeitão Polanski de entregar seus filmes, e quem gosta tanto do estilo investigativo, quanto do diretor certamente não sairá decepcionado da sessão. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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