É interessante observar que o pessoal anda gostando muito de fazer comédias com pitadas dramáticas para dar ênfase em alguns temas, e geralmente as relações familiares após a morte de algum ente próximo sempre rendem situações delicadas tanto cômicas quanto dramáticas, e se tem um país que gosta bastante do estilo e do tema é o Uruguai. Dito isso, quem for conferir o longa da Netflix, "Alelí" irá ver contextos corriqueiros do dia a dia de brigas entre irmãos, verá brigas de vizinhos, e claro todo aquele drama familiar que já vemos quase que diariamente em nossas famílias, de ciúmes por um ter uma chave de um lugar que o outro não tem, de um namorado/marido da irmã que você não gosta por ser um inútil na vida, aquele almoço de família que um leva uma comida que nem precisava levar, e acaba que ninguém come, entre muitas outras coisas, porém se pararmos e voltarmos no começo da trama, a situação toda era uma venda de casa de praia para uma construtora, e isso quase que some do longa, pois a interação com a venda e os sentimentos da casa até ficam, mas bem em segundo plano, ou seja, o filme roda demais e não entrega nada além das emoções, o que não é ruim, mas passa bem longe de algo bom. Ou seja, mesmo sendo uma coprodução uruguaia e argentina, vemos bem mais a mão uruguaia que não sai de pontos fixos, do que algo argentino que instigaria muito cada momento.
A sinopse nos conta que após a morte do pai, os irmãos Ernesto, Lilián e Silvana passam a disputar entre si a propriedade da antiga casa de praia. Dispostos a tudo para conseguir o que querem, eles colocam as lembranças da infância e a união da família à prova.
A diretora e roteirista Leticia Jorge foi simples e direta na trama familiar, brincando praticamente com os atos comuns que vemos em quase todas as famílias, como discussões nos almoços, debates de quem fica com o que nas heranças, e claro o famoso saudosismo da época em que eram mais novos, além dos cuidados com a matriarca da família que ninguém quer assumir. Ou seja, ela tinha sua base na mente, e acrescentou a ideia cômica da venda da casa de praia para ter um algo a mais com um engenheiro maluco e tudo mais, porém logo se vê que a ideia da venda serviu apenas para dois atos e evaporou, ficando mesmo o lado familiar bagunçado, e isso funcionaria bem se ela tivesse fechado mais o cerne da trama, pois acabou virando uma novela com tantos personagens, tantos dilemas e situações, de forma que seu filme é curto, rápido, mas sem nada para se discutir, e isso cansa de tal maneira que certamente esqueceremos o filme tão rápido quanto leio esse texto que escrevi, e isso não é algo que gostamos de ver, mas ao menos sua direção foi sincera, e isso vemos de cara o que ela desejava mostrar.
Quanto das atuações, é até bacana ver a desenvoltura de alguns personagens, que mesmo sendo pessoas mais velhas acabam parecendo crianças mimadas brigando pelo único toddynho da geladeira, mas acredito que isso tenha sido a opção da diretora mesmo em cima do texto, então foi um acerto ao menos. Néstor Guzzini trouxe para seu Ernesto o lado do filho que deu certo financeiramente, mas não aceita nada que não seja de sua opinião, além claro de estar aborrecido com tudo e todos na família, e isso é notável em todos os trejeitos do personagem do começo ao fim da produção. Mirela Pascual já foi para o outro lado com sua Lílian, mostrando aqueles que casaram bem cedo já são avós e vivem sob terapia, já não aguenta mais o marido e os filhos, e quer se ver livre dos problemas da família, e a atriz entregou bem um semblante cansado, e foi direta em todos os seus diálogos, acertando também, embora seja ranzinza demais para alguém que está exercendo hobbies para desestressar. Já Romina Peluffo jogou com sua Silvana aquela caçula da família que ficou jogada, só arranja namorados enroscados, vive casando e separando por acreditar num amor inexistente, e seu estilão largado caiu bem para a personagem, mesmo que soasse forçado tudo o que faz, mas acabou funcionando ao menos. E a matriarca Alba vivida por Cristina Morán fez até algumas cenas bem ligadas a cada um, mas não chamou atenção como deveria, deixando muito nas mãos dos filhos, e com isso a atriz acabou sendo quase carregada por todos, o que é ruim, visto que ela tem personalidade e saberia dominar melhor suas cenas. Quanto aos demais foram apenas enfeites, então melhor nem entrar em detalhes.
No conceito visual, a casa de praia é simples, está abandonada por fora, mas ainda arrumadinha por dentro, com detalhes casuais de uma casa abandonada como umidade no teto, muitas folhas e grama alta, mas nada que mostrasse um real abandono, tem elementos simples de detalhes, mas todos passando bem o que o filme desejava mostrar: os elos de cada um. Na casa da irmã ou nos carros, o filme também tinha detalhes de sobra para mostrar o lado nostálgico dos personagens, com CDs e fitas antigas de música, cadeiras de praias velhas guardadas, e tudo mais que remetesse um passado, inclusive nas roupas, ou seja, funcional.
Enfim, falei bem de tudo praticamente, ou seja, você deve estar achando então que darei uma nota ótima para o filme, mas não, a trama não nos cativa ao ponto de emocionar por algo, ou rir dele, de modo que é algo comum demais, que hoje vemos e amanhã esquecemos, e como costumo falar em filmes assim, é preferível nem ver, pois tem técnica, mas não tem estrutura suficiente para chamar atenção em nada. Ou seja, não recomendo ele, mas se não tiver mais nada para ver, até dá para perder um tempo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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