Acho que daqui a alguns anos os alunos de cinema da Espanha vão estudar essa época como o estouro dos filmes de suspense no país, pois praticamente a cada 15-20 dias surge um novo exemplar do estilo, e o melhor, todos bem bons, com temáticas tensas, cheias de desenvolturas, e até os mais fracos em alguns quesitos entregam situações que acabam empolgando em algum momento ao ponto de ficarmos esperando o desenrolar. E hoje resolvi conferir um dos lançamentos da semana da Netflix, "O Silêncio do Pântano", que pode até ter alguns defeitos, não ter o melhor fechamento possível, mas consegue envolver bastante na brincadeira de quem é o personagem e quem é o escritor, e até onde vai toda a loucura da mente em pensar nas situações todas - além que mesmo o final sendo estranho, quem lembrar do que a jovem que pede autógrafo no começo pergunta, fará muito sentido com o que ocorre. Ou seja, é daqueles filmes intensos, que tem um ritmo meio que calmo, mas que aguça bem a percepção de assassinos, juntamente com as ideias malucas da mente de um escritor, e o resultado acaba agradando bastante.
O longa nos conta que Q é um ex-jornalista reconvertido em um escritor de livros de romances policiais. Ele é um homem de sucesso respeitado por seus fãs, mas na vida real, Q é um psicopata de sangue frio. O escritor vive em uma compulsão por matar que, eventualmente, ele traduz a seus romances, escrevendo sobre isso como se fosse ficção.
Vi muita gente reclamando do longa logo que saiu na Netflix, e até por esse motivo acabei deixando ele como o último filme da semana, mas talvez o que muitos tenham se irritado é com o final meio jogado que o diretor Marc Vigil acabou colocando, e é fácil entender sua proposta, pois como sempre fez séries durante toda sua carreira, ele quis fechar com algo aberto para quem sabe ter uma continuação, porém mesmo que isso não ocorra, afinal é baseado no livro homônimo de Juanjo Braulio, como disse acima se lembrarem de alguns momentos faz todo o sentido o que ocorre, ou seja, o diretor brincou com ideias amplas, e fez várias jogadas para confundir o espectador se o protagonista era realmente o assassino na vida real ou se era apenas um personagem do escritor, e em momento algum ele deixou algo aberto para conseguirmos identificar isso, o que é bom, pois a confusão acaba dando nuances. Porém dando a versão desse Coelho, o escritor apenas se veste como o protagonista, mas o personagem que também é escritor está na história e tudo ocorre por lá, ou seja, ambiguidades para todos os lados, que junto de um bom suspense policial, com ideias fixas sobre a podridão da alta sociedade valenciana junto com a podridão do tráfico e da polícia da cidade acaba se desenvolvendo e se misturando em algo bacana de ver pelo estilo escolhido do diretor, e principalmente pelos acontecimentos bem moldados que agradam, mas que vai deixar muitos confusos e bravos com tudo.
Sobre as atuações temos que ponderar que o protagonista Pedro Alonso soube brincar demais com os trejeitos de seu Q, deixando realmente uma interrogação no público, fazendo olhares certeiros, se movimentando igualmente com o personagem do livro e o escritor, e principalmente sendo violento na medida nos atos fortes, de forma que praticamente ele quase não dialoga, mas encaixa tudo no momento certo com a ferramenta correta de interpretação, ou seja, não é à toa que o povo ama tanto ele na série "La Casa de Papel". Nacho Fresneda deu um tom forte para seu Falconetti, encontrando estilo para cada ato, e principalmente para suas cenas violentas com seu pé de cabra, mas seu personagem é meio que jogado na trama, e isso não o ajuda muito, o que é uma pena. Da mesma forma Carmina Barrios traz para sua La Puri uma personalidade intrigante, tem um grande momento de falas, mas sua chefe de tráfico não se encaixa muito nem na atriz, nem no estilo que o filme tem, ficando estranho de ver. José Angél Egido fez seu Carretero tradicional como político, cheio de nuances que poderiam ter sido melhor usadas, mas não estraga o andamento, pois seus atos seriam melhores usados caso o filme fosse mais longo, porém aqui ele fez bem o que precisava. Quanto aos demais, todos foram usados para as cenas necessárias, e não fluíram em nada para a história, e desde a delegada vivida por Maite Sandoval, quanto o irmão do personagem principal vivido por Raúl Prieto apenas fizeram seus atos, mas nem lembraremos deles por nada.
Visualmente a trama tem atos bem marcados, com casas sujas para mostrar a degradação que o filme tanto chama, como a casa no meio do nada no pântano que acaba servindo de cativeiro, o apartamento do capanga, a casa simples (porém recheada) da traficante, temos também as cenas no gabinete da delegada e na procissão como símbolos interessantes para as reflexões de justiça cega, e claro temos os momentos malucos e violentos com o protagonista, aonde tudo é bem forte e imponente, cheio de detalhes também, ou seja, a equipe de arte sofreu um pouco para retratar tudo que certamente está bem detalhado no livro, mas o resultado flui ao menos.
Enfim, talvez o maior problema do filme seja alguns pulos de tempo, alguns atos cortados, e claro que o fechamento duplo que dá para tirar mais do que uma conclusão, mas isso sozinho não mata todo o bom trabalho do restante, e quem gosta de um bom suspense certamente se envolverá com a trama, e talvez até goste mais do que muitos outros, mas como disse, terá de relevar alguns problemas de continuidade (principalmente no final que o diretor resolveu acabar rápido demais), e assim sendo recomendo o filme com ressalvas, mesmo gostando dele. Bem é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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