Já aviso logo de cara, se você não é daqueles que ama filmes de festivais, cheios de sínteses para refletir, aonde a calma predomina a ação, e mesmo com toda uma tensão subjetiva para resultar em algo, que o longa da Netflix, "A Sun" será praticamente difícil de aguentar até o fim dos 156 minutos de duração, e olha que gosto muito de festivais, mas aqui a trama enrosca muito. Claro que é um filme que foi muito elogiado pelas atuações cruas, por todo o trabalho cênico e pelas situações fortes que acabam retratando até mais do que o comum na vida de uma família, que sofreu muitos problemas, mas talvez se o filme tivesse menos aberturas, o resultado caminharia para algo bem melhor. Ou seja, é um longa que tem estrutura, tem história, tem bons momentos tensos, porém ele cansa e se arrasta demais, de forma que nos vemos próximos do final acreditando que o longa nem terá um final decente, largando tudo pela abstração e o público que imagine tudo, porém foram coerentes ao menos, e explicaram coisas que nem imaginávamos ter acontecido, e aí o longa acaba nos ganhando bastante, fazendo ter valido a pena chegar até lá.
O longa segue uma família problemática de quatro pessoas. A-Ho, o filho mais novo, sempre foi uma criança problemática, e seu pai, A-Wen investiu todas as suas esperanças e expectativas em seu introvertido filho mais velho, A-Hao. Enquanto A-Hao está tentando entrar na faculdade de medicina, A-Ho enfrenta detenção juvenil por um crime cometido com seu melhor amigo - embora não seja inteiramente de sua própria vontade. A-Wen abandona A-Ho, recusando-se a ajudar e até solicitando ao juiz que sentencie seu filho o mais severamente possível. Pouco depois de A-Ho ser enviado para a prisão, para piorar a situação, sua namorada aparece na porta de sua mãe Qin. A adolescente está grávida e determinada a ter o filho de A-Ho, mesmo que ele esteja trancado e não tenha ideia de que ela está esperando.
Não posso falar nada sobre os trabalhos anteriores do diretor Mong-Hong Chung, pois acredito que vi até hoje só uns 2 ou 3 filmes de Taiwan, e pela sua filmografia não lembro de ser nenhum dos que estão lá escritos, mas posso dizer que aqui ele mostrou algo bem intenso, cheio de ideias bem abertas para várias discussões, fazendo com que seu longa fosse bem trabalhado e servisse para mais do que apenas uma sessão, pois o filme discute com a ideia de pais que não apoiam mais os filhos quando vão presos, entra na questão do aborto, brinca um pouco com a ideia da pressão por entrar em uma faculdade e suas discussões filosóficas que não levam a nada, aplica o famoso conceito das más influências, ou seja, um filme que tem de tudo um pouco, e que consegue amarrar tudo, pois não vemos as situações fora do contexto da família, mas sim tudo implodindo os personagens para saírem de suas casinhas e trabalharem os temas, e assim o resultado funciona. Porém o ritmo é muito lento e o filme é alongado (afinal com tantos temas não daria para ser em 90 minutos!), e assim vemos o famoso problema de ver um filme na TV versus ver um filme em um cinema, que no cinema você veria inteiro, e apenas refletiria sobre tudo ao final, na TV como dá para parar, vamos aos trancos, e isso acaba dando um outro efeito. Ou seja, o diretor foi ousado em muitas cenas, e o filme tem estilo, mas não para muitos, que talvez odiarão tudo, enquanto outros irão chorar e se envolver com a trama.
Quanto das atuações diria que todos entregaram trejeitos sérios demais, chega a passar sofrimento para o público mesmo nas cenas mais descontraídas (se é que o filme tem alguma), e com isso a ideia de família problemática que o diretor desejava foi alcançada com muita tensão pelos protagonistas. O pai da família A-Wen foi interpretado por Yi-wen Chen com um pesar forte na essência, de modo que não conseguiu entregar um sentimento de perdão para o filho em ato algum, mas sua cena de fechamento foi daquelas para cair da cadeira, pois foi muito bem colocada em cima de tudo. A mãe Qin vivida por Samantha Shu-Chin Ko traz a dor de ver os filhos não bem em cada semblante seu, amarrando olhares, desenvolvendo situações e sendo muito certeira em atitudes, o que agrada bastante de ver. O jovem Chien-Ho Wu fez de seu A-Ho um garoto problemático de essência, e mesmo estando tranquilo sabemos que a qualquer momento ele pode entrar em algo ruim, e seus olhares não enganam ninguém de forma que vemos seus atos já esperando pelo pior, mas foi muito bem. Kuan-Ting Liu trouxe para o loiro Radish quase uma tatuagem na testa escrita "problema - fuja!", pois é daqueles que não tem como defender, e fez bem o ar de vilão e acertou muito bem. Quanto aos demais, a maioria entregou ares tristes demais, e isso desanima um pouco, mas o filme até pedia, e o destaque claro fica para o outro filho da família, vivido por Greg Han Hsu, que fez seu A-Hao alguém que até confundiu com o irmão, parecendo ser duas épocas, e ainda mais pelas palavras do pai que falava que só tinha 1 filho, então o resultado dele quase foi apagado, mas o jovem conseguiu seu momento ao falar claro o nome do filme, e o motivo de ser esse.
No conceito visual tivemos cenas bem intensas, algumas violentas e fortes, mas tudo feito com cores marcantes, ambientes bem montados para retratar a prisão, os empregos dos protagonistas, a cobrança em um cursinho, a casa simples dos protagonistas, e claro em todos os cantos da cidade frases motivacionais próprias para alguns acreditarem, ou seja, a equipe de arte trabalhou em prol do texto, não sendo a prioridade cênica, mas sim um complemento bem encaixado.
Enfim, é um filme bem interessante, mas que acabou sendo alongado demais para tratar de tantos temas, de forma que talvez reduzido em dois filmes funcionaria mais, ou até se o diretor quisesse trabalhar mais um lado da família e o outro amenizar, mas isso é um gosto pessoal, e acredito que alguns vão se apaixonar pelo longa, enquanto outros irão simplesmente detestar do começo ao fim, principalmente quem não for acostumado com filmes de festivais, então fica a recomendação de um belo filme, mas que tem ressalvas demais para o público alvo dele. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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