Tem filmes que você olha baseado em fatos reais, assiste e ao final fala: impossível. De forma que os acontecimentos do longa da Netflix, "Estranhos em Casa", inicialmente pareciam bizarros só pelos empregados conseguirem algum tipo de autorização para assumir a casa dos donos como se fossem deles, aí tudo bem, íamos ver algum longa em cima do processo jurídico e tudo mais, mas na sequência começamos a ver as paranoias do protagonista em cima de sua virilidade, depois sua associação com um grupo de malucos extremistas, até chegarmos na cena final mais maluca que já vimos, ou seja, se isso realmente aconteceu não temos que ler no começo que os nomes foram alterados para não prejudicar as pessoas reais, mas sim foram mudados por as pessoas terem sumido do mapa, pois é incoerente continuar vivendo na mesma casa com todo mundo sabendo o que aconteceu ali, o garoto até hoje deve estar tomando calmantes e tudo mais. Ou seja, é um filme bizarro, completamente insano, que quem gosta de um gore francês bem violento que demora um pouco para acontecer, mas que estranhamente não é ruim.
A sinopse é bem simples para não revelar a bagunça toda e mostra que ao voltar de férias com a família, um homem encontra sua casa ocupada e se vê em meio a um conflito com terríveis desdobramentos.
O diretor e roteirista Olivier Abbou montou uma história imponente e cheia de situações fortes, de maneira que como disse no começo chega a ser até fora do comum pensar na sequer possibilidade de ser embasado em algo real, mas seu erro foi colocar um protagonista não fraco como personagem, mas fraco de atitudes, de olhares, de modo que não entramos no clima que o personagem necessitava, claro que a história lhe entrega como um fracote sem nuances, mas o ator fez isso e muito mais, sendo daqueles que não conseguimos nos conectar, e ainda atrapalhar o resultado do filme. Claro que após o ponto de virada o longa toma outros rumos e fica bem mais interessante, pelo menos no lado de conflitos de posse da casa realmente, pois o miolo com discussões sobre a virilidade e a fidelidade de seu casamento acabou sendo chato de engolir. Ou seja, o diretor acabou se perdendo um pouco no que desejava mostrar, e com isso seu filme ficou com tantos motes quanto a ideia principal que era a recuperação da casa, porém ainda ele entregou algo convincente de ver com toda a bagunça estrutural.
Sobre as atuações já meti a porrada em Adama Niane no parágrafo anterior, e não vou alisar agora, pois o ator veio com a proposta de entregar um homem fraco demais com seu Paul, mas ele acabou deixando ele tão apático que mesmo sendo o protagonista, ele quase desaparece fronte aos demais personagens, e isso é horrível de ver, ou seja, qualquer outro ator cairia melhor no personagem. Stéphane Caillard trabalhou sua Chlóe com olhares meio jogados também, mas como foi pouco usada, ela acabou se saindo um pouco melhor, principalmente nas cenas fortes, o que resultou numa personagem estranha para o filme, mas bem feita ao menos. Agora quem acertou em cheio nas loucuras, dando estilo e personalidade para seu Mickey foi Paul Hamy, de forma que suas cenas foram todas intensas, fortes e cheias de dinâmicas, conseguindo mudar ele de enfeite cênico no começo para a bomba do final, ou seja, um crescimento incrível de ver. E junto com ele, mesmo que um pouco maluco demais, Eddy Leduc acabou agradando bastante com seu Franck cheio de abstrações e bebedeiras. Quanto ao casal invasor da casa, era melhor ter arrumado alguém mais cheio de estilo, pois qualquer um botaria eles para correr, de forma que tanto Hubert Delattre quanto Marie Bourin só fizeram caras de susto e nada de entonações e olhares, ou seja, fracos também.
No conceito visual a equipe de arte teve grandes momentos, desde os atos mais simples com um motorhome bem equipado aonde até festa de aniversário teve, um camping bem simples mas preparado para tudo, uma grandiosa casa cheia de elementos representativos da família, e até mesmo os atos burocráticos no tribunal e nos órgãos da prefeitura foram bem feitinhos, mas os atos com as festas cheias de personagens estranhos, objetos para mergulho, bebidas para todos os lados, e muita cenografia e luzes piscando para todos os lados foi algo que certamente deu trabalho, além claro do momento destruição no final, que aí a equipe de efeitos com muito fogo, sangue, quebradeira de vidros e tudo mais deu um show. Ou seja, tecnicamente a produção foi incrível no segundo ato.
Enfim, é um filme bem maluco, que muitos não irão gostar do que verão, mas que até funciona dentro do que se propôs, tirando claro o diretor que se perdeu no miolo querendo criar atos de discussão de casal, elementos sobre a virilidade do protagonista e tudo mais, além claro do erro na escolha do protagonista, pois tirando esses elementos, o filme decola muito. Ou seja, é daqueles que só quem gosta de um gore bem feito ficará feliz com o final, mas que para chegar até lá irá reclamar muito do miolo, então é melhor nem recomendar para ninguém, mesmo que não seja dos piores filmes que já vi, colocando ele como algo mediano na soma de tudo. Então é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.
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