Netflix - Mais Uma Chance (Private Life)

5/29/2020 01:20:00 AM |


É até interessante observarmos o quanto filmes indie bem alternativos fazem sucesso mundo afora, pois mais do que classificar eles em drama ou comédia ou até um romance mais elaborado, eles acabam se encaixando num perfil bem maior que abrange uma vida cotidiana, com problemas comuns, e outrora temas para uma reflexão maior, de forma que sempre ao conferir um exemplar desse você sai da sessão esperando alguma discussão sobre o tema, ou até mesmo algum epílogo mais detalhado sobre o tema. E classificar o longa da Netflix, "Mais Uma Chance" nesse grupo é bem fácil, pois se olharmos as listas de adoção ou de fertilização mundo afora veremos que é algo muito grande, com pessoas que possuem muita esperança, mas que no fundo se sentem tristes e deprimidas a cada tentativa falha que ocorre, aonde muito dinheiro foi investido, e acaba não dando certo, além dos diversos que acabam sendo enganados por pessoas de má índole. Ou seja, é um filme bonito, interessante, duro, mas que com excelentes atuações, o tema forte acaba fluindo de uma maneira incrível e gostosa de acompanhar, e assim sendo vale muito a conferida.

A sinopse nos apresenta Richard e Rachel, um casal que sofre de infertilidade, e tentam manter o casamento à medida que descem cada vez mais fundo no estranho mundo da reprodução assistida e da adoção doméstica. Quando o médico sugere a reprodução de terceiros, eles se irritam. Mas quando Sadie, desiste da faculdade e entra na vida deles, eles reconsideram.

O estilo da diretora Tamara Jenkins é bem artístico e autoral, de forma que não vemos clichês comerciais em suas produções, não vemos movimentos bruscos de câmeras, mas sim a todo momento uma nuance mais suave, em outros momentos vemos filmagens de celulares dos protagonistas, e a todo momento vemos a sensação dos protagonistas, ao ponto de quase estarmos convivendo com eles no longa, e isso é algo intrigante, pois nos faz refletir até que ponto um relacionamento pode ir a exaustão por um desejo/sonho, ou quando é tarde demais para algo acontecer, ou ainda a abertura da família para alguém se envolver na vida de outro familiar, entre outros temas que dá para brincar. E a diretora soube pontuar todos sem precisar ser crítica demais, nem florear nada para que o filme fluísse bem, deixando claro nas mãos, ou melhor nos trejeitos/diálogos, dos protagonistas, que não economizaram em nada nas suas atitudes, e o resultado é um filme denso, porém sutil de envolvimentos, que faz a trama não soar nem cansativa, nem apelativa.

Sobre as atuações, acho que pela primeira vez vi Paul Giamatti com um personagem tão bem desenvolvido por ele, de modo que seu Richard tem presença, consegue dominar o ambiente, e ainda se entrega para os momentos mais densos, ao ponto de vermos uma colaboração mútua entre o trio, sabendo cada um dar a dinâmica certa para seu personagem sem ninguém passar por cima do outro, de forma que vemos ele quase cru de atitudes, que quando chegamos nas últimas cenas já sentimos o mesmo alívio que ele, e isso é ótimo de ver, ou seja, deu show. Da mesma forma, chega a ser estranho ver Kathryn Hahn com uma personalidade forte, ambiciosa e determinada com sua Rachel, de forma que vamos torcendo por ela, vendo seu sofrimento por passar por todo o processo, e acertando muito no domínio cênico ao ponto de ter um carisma até maior do que a personagem pedia, e seu drama passa a ser sentido e envolvido por todos. A jovem Kayli Carter manteve o tom de sua Sadie bem pontual e alternativa, de forma que não é uma jovem comum, e suas atitudes são fortes e diretas, ao ponto de ou amarmos seus atos, ou odiarmos de vez, ou seja, ela acerta errando, e agrada bastante em suas cenas. Quanto aos demais, não deram tanto desenvolvimento para a família, mas tanto Molly Shannon quanto John Carrol Lynch tiveram grandes cenas imponentes com seus Cynthia e Charlie, ao ponto de até querermos ver mais deles na produção, e quanto dos médicos foram um pouco exagerados nas piadas e brincadeiras, mas é comum vermos isso nas produções, então melhor deixar passar.

Visualmente a trama trabalhou bem a perspectiva de pessoas da arte, como são os protagonistas, com um apartamento cheio de livros, mas também lotado de remédios para os procedimentos de fertilização, várias idas à clínicas, procedimentos ginecológicos, e alguns atos de envolvimento com as famílias em atos claros tradicionais como a Ação de Graças entre outros, além de mostrar muitos momentos bacanas da jovem com "os tios" em situações mais familiares que a da própria família dela, e também montaram atos com os protagonistas esperando suas adoções não muito funcionais, ou seja, um filme de momentos espalhados que até envolvem visualmente, mas não é a parte mais importante do longa.

Enfim, é um filme bonito de ver, que faz uma boa reflexão sobre o tema, e que vale a conferida pelas boas atuações e pela formatação que não cansa, afinal um longa desse porte certamente seria extremamente cansativo, mas aqui a dinâmica flui bem, e o resultado é um filme certeiro. Sendo assim, fica a dica, e eu paro por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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